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Foto: Sacha Lubow

A transição do verão para o outono tem proporcionado um espetáculo natural no Jardim Botânico de Curitiba. Dezenas de borboletas conhecidas como asas-de-vidro – ou borboletas transparentes – estão sendo observadas com frequência na unidade de conservação da Prefeitura. Nos últimos dias, foram registradas 14 espécies diferentes desse grupo, encantando pesquisadores e visitantes.

O ponto focal desse fenômeno fica atrás da estufa principal, na coleção Campos Curitibanos, que recentemente conquistou o primeiro lugar na categoria de ações conservacionistas do Prêmio Nacional Helena Quadros.

Um ciclo natural que atrai asas-de-vidro

Segundo a bióloga Maristela Zamoner, o fenômeno é mais intenso no início do outono, quando a vegetação típica dos campos começa seu ciclo anual de declínio. “Esse processo acontece ao final do verão, quando as plantas encerram a floração, murcham e liberam substâncias que atraem borboletas da tribo Ithomiini, conhecidas por seu hábito florestal”, explica.

A planta que exerce maior atratividade sobre essas borboletas é o cambarazinho (Chromolaena laevigata), típico de ecossistemas campestres e com florescimento que vai do final do verão até o outono. Segundo o engenheiro florestal Sacha Lubow, mentor do projeto Campos Curitibanos, o florescimento vigoroso da planta este ano pode ter contribuído para o aumento da presença das borboletas.

“Quando o cambarazinho entra em declínio, suas estruturas desvitalizadas liberam substâncias que atraem intensamente as Ithomiini”, afirma Lubow. Nesta sexta-feira (4), ele encontrou um pequeno galho da planta com 23 borboletas de sete espécies diferentes – todas da mesma tribo –, uma cena rara e impressionante.

Pesquisa contínua e participação do público

Desde 2019, Maristela Zamoner estuda as borboletas na coleção dos Campos Curitibanos. Já foram registradas mais de 360 espécies, das quais 118 mostraram preferência pelas flores do cambarazinho.

“O comportamento dessas borboletas neste outono está mais intenso do que nos anos anteriores. A floração atípica do cambarazinho pode ter potencializado essa concentração de indivíduos”, destaca a bióloga. Além das borboletas, várias mariposas coloridas também têm sido atraídas pela planta.

O fenômeno está documentado no perfil da pesquisadora no site iNaturalist, uma plataforma de ciência cidadã onde é possível acompanhar as espécies registradas.

Visitação aberta

A coleção dos Campos Curitibanos está aberta para visitação no Jardim Botânico. Lubow recomenda: “Vale muito a pena visitar, mas é preciso atenção redobrada. Essas borboletas são pequenas e podem passar despercebidas até pelos olhares mais atentos”.