
Os quatro integrantes da Residência Artística e Técnica em Fundição em Bronze, iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba e Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC) possuem seus próprios estilos e formas de trabalho, mas todos unem formação prática, produção artística e contrapartida social.
Os quatro artistas selecionados por meio de edital para trabalhar no Ateliê de Escultura do Memorial Paranista até dezembro deste ano têm perfis completamente diferentes. Cada um deles recebe uma bolsa mensal e participa de todas as etapas do ateliê, desde a criação até o acabamento de esculturas, com a possibilidade de desenvolver suas próprias obras. No final, cada um ministrará oficinas gratuitas à comunidade como contrapartida pelo aprendizado.
Além de desenvolverem seus próprios projetos, os artistas residentes também participam de demandas técnicas do ateliê, acompanhando obras encomendadas pela Prefeitura de Curitiba ou por terceiros. Eles são orientados pelos escultores residentes, Rafael Sartori e Edson José de Lima.
Mais do que espaço de criação, o Memorial Paranista funciona como uma escola de arte escultórica.
“Aqui se aprende na prática, com quem conhece os segredos do bronze há décadas”, comenta Fernando Robert, um dos atuais residentes do Ateliê de Escultura do Memorial Paranista.
Ao final da residência, cada artista leva consigo sua escultura e experiências práticas.
Conheça o perfil dos atuais residentes do Memorial Paranista
Arquitetura em bronze: Amanda Sanches
A artista visual Amanda Stephanie da Silva Sanches, 26 anos, une suas pesquisas em arquitetura e escultura em um projeto de desconstrução de monumentos tradicionais. Inspirada em formas urbanas e estruturas do cotidiano, Amanda desenvolve um gradil tridimensional em bronze com pontas de lança em concreto.
“Aqui a gente faz monumentos o tempo todo. Meu trabalho vai na direção oposta, questionar essa idealização da história, desmontar o monumento”, explica a artista, que também ministrará uma oficina de modelagem concreta. A técnica, que ela mesma desenvolveu, faz uso experimental de formas livres com cimento, sem o uso de moldes rígidos.
Do barro ao metal: Fernando Robert
Com formação em design e trajetória consolidada na cerâmica, Fernando Robert, de 37 anos, ingressou na residência com o desejo de ampliar suas técnicas em diferentes materiais. O projeto do residente é a criação de joias e acessórios em bronze, com estética bricolagem, superfícies irregulares marcadas pelo processo de fundição.
Fernando também irá conduzir uma oficina de design de joias com sucatas de bronze, usando métodos manuais e sustentáveis. “A ideia é transformar refugos da fundição em peças artísticas”, detalha.
Identidade haitiana: Ysmaëlle Eliodor
Com 26 anos, Ysmaëlle Eliodor é haitiana, formada em Belas Artes em seu país de origem, e atualmente faz doutorado em Memória Social e Patrimônio, no Brasil. Seu projeto na residência retoma uma pesquisa de longa data, a escultura de uma figura histórica feminina do Haiti que viveu entre o período colonial e a independência do país.
“Essa personagem histórica representa a resistência e a complexidade daquele período. Trazer essa memória em bronze tem sido uma experiência intensa, ainda mais por ser a primeira vez que trabalho com esse material”, conta Ysmaëlle, que antes lidava com fibra de vidro.
Ideias em bronze: Carlos Henrique
Autodidata e com 51 anos, Carlos Henrique Vieira Carneiro trabalha com escultura há anos, mas na residência está realizando um sonho antigo, moldar suas ideias em bronze. Seu projeto são três objetos entrelaçados, simbolizando indivíduos em uma sociedade hiperconectada e pouco empática.
“Temos muita comunicação, mas pouca interação real. Minha obra reflete essa ausência de conexão emocional”, explica Carlos, que irá ministrar uma oficina para jovens, sobre a criação de heróis pessoais, usando a escultura como forma de expressão e identidade.