Feitos com madeira, pano, cola, tinta, cordões e bastante criatividade, os brinquedos populares vencem o tempo e continuam a encantar e cativar crianças de todas as idades, mesmo em meio ao apelo comercial dos produtos eletrônicos. Com a proximidade do Dia das Crianças, 12 de outubro, pequenos artesãos paraibanos organizam o estoque e aumentam a produção para atender as vendas e encomendas.
Segundo Aroldo Willian Ferreira de Queiroz, proprietário da AW Arte Brinquedos, a estimativa é de acréscimo na produção e vendas em 70%. Piões, petecas, carrapetas, rói-rói, mané gostoso e mula manca, nomes por vezes esquecidos e estranhos às crianças de hoje, retornam às prateleiras de lojas e fazem com que o adulto relembre juntos aos filhos os momentos de criança.
A AW Arte, situada em Campina Grande (PB), gera 12 empregos e trabalha há 12 anos no segmento, com a produção de mais de 70 itens, em uma linha de produtos artesanais e educativos. Entre os brinquedos mais vendidos estão os caminhões bi-trem feitos de madeira, que custam R$ 70, e a carrapeta, ao preço de R$ 2.
Os produtos são vendidos na casa do próprio artesão, por meio de encomendas e em um ponto comercial na rodovia BR 230, saída para o Sertão. Aroldo Willian explica que produz atualmente uma média de mil peças, que são comercializadas na Paraíba e cidades como Recife, Salvador e São Paulo.
“Nossos clientes, geralmente, são pessoas que na infância tiveram acesso a este tipo de brinquedo e que hoje, repassam a atividade também para os filhos”, explicou Aroldo. Apesar da presença maciça de produtos eletrônicos, de plástico e também vindos da China, o brinquedo artesanal e popular ainda preserva o seu espaço, em especial, nas camadas sociais que valorizam a cultura, contou o empresário.
Um exemplo disso é Márcia Barbosa Leite, consultora da área de acesso a serviços financeiros. Ela, quando criança, brincou com bonecas de panos e, mesmo depois de adulta e mãe de crianças, fez questão também de dar a filha o brinquedo. “No meu tempo, a oferta destes brinquedos era bem maior, mas hoje eu também consegui comprar uma boneca de pano, um pouco mais sofisticada do que na minha época, e dar a minha filha. Ela, durante um bom tempo, deixou a boneca em destaque na estante dela”, disse.
De acordo com Marielza Araújo, gestora do Programa Sebrae de Artesanato, os brinquedos populares são considerados como artesanato de tradição e parte da cultura do Estado. Ela diz que atualmente o Sebrae atua junto ao setor na realização de cursos específicos para o acesso ao mercado com a participação de artesãos em feiras e eventos.
Infância
Para algumas pessoas, além do prazer de brincar, a atividade pode se transformar em profissão. É o caso da artesã Anita Garibaldi Sousa, que há 20 anos produz bonecas de pano em Campina Grande. “Faço o que a criatividade permite. Às vezes, até invento personagens. Meus brinquedos são bonecas e bonecos como o palhaço, o perna-de-pau, a bailarina, o pipoqueiro”, disse. A artesã começou a fabricar as bonecas ainda criança, quando brincava com amigas e avós.
Anita disse que infelizmente não conseguiu preparar produtos especificamente para o Dia das Crianças, pois, principalmente em outubro, as encomendas aumentaram a ponto de ela não conseguir atender aos pedidos. A artesã trabalha com encomendas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Natal, Fernando de Noronha e cidades da Paraíba.
Tecidos coloridos e produtos específicos, a exemplo do algodão naturalmente colorido, também servem de matéria-prima para a confecção das bonecas, adquiridas até por adultos. “Muitas mulheres compravam as bonecas para si mesmas. Mas, eu gosto quando vejo a boneca toda esfarrapada nas mãos das meninas. Isso é feito para brincar mesmo”, concluiu.
Desafios
Inspirado nos padrões de produtos da marca de boneca Barbie, o artesão Aroldo Pereira, da Encanto Artesanato, situada no bairro de Funcionários III, em João Pessoa, fabrica há seis anos mini-mobílias para crianças. Geladeiras, cadeiras, camas, armários e os espaços da sala, quarto e banheiros podem ser adquiridos, separados por itens ou agrupados numa casa completa com direito a porta e jardim.
Pereira disse que as expectativas não são boas para o Dia das Crianças, pois, geralmente, ele vendia os produtos em eventos organizados pelo Sebrae na Paraíba. “Como este ano não haverá a edição da feira de brinquedos populares, eu acredito que as vendas serão fracas”, contou. Ele enfatizou a necessidade de mais ações para divulgar os brinquedos artesanais. Aroldo Pereira ainda desempenha hoje o ofício de artesão com vendas por encomenda ou através da divulgação de cartões de visita.