A CPI dos Sanguessugas iniciou hoje uma devassa nas contas de Freud Godoy, ex-segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suspeito de envolvimento na compra do dossiê contra candidatos tucanos. O sub-relator de sistematização da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), foi ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) buscar os documentos existentes relativos a movimentações financeiras de Freud nos últimos anos.
Sampaio não quis confirmar, mas segundo um participante do encontro com técnicos do Coaf, o sub-relator deixou o órgão com os documentos relacionados ao depósito de R$ 150 mil, em dinheiro, realizado por Freud na conta da empresa Caso Sistemas de Segurança Ltda, dirigida por Simone Godoy, esposa do ex-segurança de Lula. O depósito é de 24 de março de 2004, em uma conta no Banco Santander.
“Causa estranheza a quantia, o fato de ter sido um depósito em espécie e o fato de Godoy, nessa época, já ser assessor do presidente da República”, disse o tucano.
LARANJAS – Além da movimentação de Godoy, Carlos Sampaio também está empenhado em descobrir a origem do R$ 1,75 milhão que seria usado para a compra do dossiê. O delegado da Polícia Federal, Diógenes Curado, responsável pelo inquérito que apura o caso, reafirmou que parte do dinheiro veio do jogo do bicho e que a PF já identificou “alguns laranjas que teriam feito os saques nas corretoras”.
“O delegado me disse que em seu relatório deve confirmar quais são as outras fontes lícitas ou ilícitas que foram usadas para a compra do dossiê”, disse Carlos Sampaio.
Outro alvo prioritário da CPI é obtenção do sigilo telefônico de Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato derrotado ao governo de São Paulo. A CPI também quer cópia das imagens das câmeras de segurança do Hotel Íbis, em São Paulo, onde Gedimar Passos e Valdebran Padilha foram presos com o R$ 1,75 milhão. “A quebra do sigilo telefônico do Hamilton é importante para sabermos com quem ele entrou em contato antes de levar o dinheiro para Gedimar e Valdebran comprarem o dossiê”, explicou Sampaio.
BERZOINI – Para Sampaio, o presidente afastado do PT, Ricardo Berzoini (SP), sabia de toda operação de compra do dossiê. “Se o presidente Lula e o PT afastaram o Berzoini, a conclusão inevitável é que ele tinha ciência do movimento que estava sendo feito para comprar o dossiê”, afirmou o tucano. Ele argumentou ainda que o dinheiro para a compra do dossiê tem vinculação com o PT. “Em um esquema de corrupção onde os oito envolvidos são PT evidentemente a origem é ilícita e é do PT”, disse.
Na avaliação do sub-relator de sistematização da CPI, a decisão do comando da campanha à reeleição do presidente Lula de abrir o sigilo de suas contas bancárias é inócua. “Isso não tem resultado prático. A finalidade é desviar o foco da investigação Afinal, não chegaria ao ponto de ignorância completa de tirar dinheiro de conta da campanha para comprar dossiê”, concluiu Sampaio.