Depois de passar a campanha dizendo que governa “com amor no coração”,o governador reeleito Roberto Requião (PMDB) retomou ontem o discursoraivoso que caracteriza sua trajetória política no dia seguinte  aeleição, destilando o ressentimento contido por conveniência políticana propaganda eleitoral. Atacou adversários, a mídia, ameaçou osprefeitos das cidades onde perdeu e colocou em dúvida a lisura dotrabalho da Justiça Eleitoral na apuração dos votos. Culpou a mídiapelo resultado apertado que lhe deu a vitória sobre Osmar Dias (PDT)por pouco mais de dez mil votos de diferença, e mostrou que ao invés do“paz e amor” da campanha, o segundo mandato será novamente marcado pela“guerra e ódio” contra qualquer um que ousar questioná-lo.

Mesmo tendo sido beneficiado pelos institutos de pesquisa tanto noprimeiro quanto no segundo turno, o peemedebista questionou oslevantamentos para colocar em dúvida a apuração do Tribunal RegionalEleitoral e as urnas eletrônicas. Datafolha e Ibope apontavam vitóriafolgada por quatro ou cinco pontos porcentuais nas pesquisas de boca deurna, mas contados os votos, Requião só se elegeu com uma diferença de0,18% sobre Osmar.

“Foi um desvio padrão, semelhante ao do Proconsult, do Rio de Janeiro,denunciado pelo Brizola”, afirmou, lembrando o episódio de manipulaçãona apuração da eleição para o governo do Rio de Janeiro de 1982.

Apesar de prometer que Curitiba não será esquecida pelo governoestadual, Requião insinuou que criará regras para liberar verbas paraas grandes cidades onde foi derrotado. “Vamos privilegiar asprefeituras, independente do prefeito. Mas algumas delas só receberãoverba desde que coloquem placa explicando que a obra está sendorealizada com verba do governo estadual ou executada a fundo perdido.”
Controle – Para tentar controlar o prefeito Beto Richa (PSDB) – queapoiou Osmar Dias no segundo turno, o governador anunciou que irá darao presidente do diretório municipal do PMDB, Doático Santos, para sero interlocutor do governo com a prefeitura, um cargo de assessorespecial para assuntos municipais. Questionado sobre o fato de que BetoRicha não aceita tratar de assuntos de sua administração com o governodo Estado, foi incisivo. “Ele vai ter sim que tratar com o Doático”.
Requião acusou os meios de comunicação e os jornalistas dos grandescentros urbanos de realizarem uma campanha sistemática para destruir aimagem dele perante ao eleitorado. “Nós resistimos aos ataques”,comemorou.

Deixando claro que irá tratar os adversários políticos a pão e água nospróximos quatro anos, o peemedebista não mostrou a mesma humildade dopresidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu aeleição com uma diferença de 20 milhões de votos sobre Geraldo Alckmin(PSDB), e que pregou o entendimento para conduzir o Brasil no novomandato.

Vitória — Em apenas alguns momentos da coletiva o governador falousobre política não eleitoral quando pregou a reforma tributária  paracorrigir as distorções financeiras entre a união com os Estados e osMunicípios e a unificação do ICMS de toda federação para acabar com aguerra fiscal. Na maioria do tempo Requião tentou encontrar os culpadospelas dificuldades da eleição, que previa vencer com facilidade já noprimeiro turno. Como é típico de sua personalidade, porém, não admitiuqualquer erro na condução da atual administração ou possibilidade demudança por conta do recado das urnas. “Nós tivemos uma vitóriapolítica. Contra nós e nossa propostas se reuniram todos os interessespolíticos que foram contrariados no Paraná e os derrotados no governoanterior – nós enfrentamos os interesses do pedágio, dos representantesdas concorrências, dos privatistas da Copel e da Sanepar,  osbanqueiros que tomavam conta dos recursos do Paraná e que foramsubstituídos pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica”, pregou.

Conhecido pelo estilo agressivo como disputa eleições, o governadorafirmou que a campanha foi “dura e falsa”. “Tentaram desconstruir aimagem do meu governo, que tinha aprovação de 70% da população. Nãotiveram limites e falaram que não tinha estrada reconstruída, hospitaisnovos, política educacional, de saúde e de Segurança. Uma repetição dementiras para se tornar uma verdade.”

Tradicional crítico das pesquisas, pela primeira vez o peemedebista fezuma defesa. “As pesquisas me davam uma vitória com vantagem de seispontos percentuais. Na boca de urna o índice era o mesmo. Nunca ouvifalar em erro como aconteceu no primeiro e segundo turno.”

Resposta — O prefeito Beto Richa quando recebeu a notícia de queRequião iria indicar Doático Santos para intermediar liberações deverbas, respondeu que não fala com o cachorro, apenas com o dono. Richa espera que as divergências políticas terminem com a eleição.“Agora é hora de governar para o povo paranaense. Ele foi reconduzidoao cargo para isso. Em 2004 o governador e eu ficamos em lados opostos.Ele apoiou meu adversário, o petista Ângelo Vanhoni”, argumentou.