O candidato ao governo pelo PSOL, Bernardo Pilotto, foi escolhido pelo partido por ter participado das manifestações de junho e pelo engajamento com movimentos sociais. Mais jovem concorrente ao Palácio Iguaçu, com 30 anos, o sociólogo e servidor público federal, é um dos fundadores do partido no Paraná. Começou a militância política no movimento estudantil da Universidade Federal do Paraná, onde foi diretor do Diretório Central de Estudantes por duas vezes.
Em 2006, ingressou por concurso público no Hospital de Clínicas como assistente administrativo. Em 2012, Pilotto foi candidato a vereador pelo PSOL, e candidato a deputado estadual em 2010. As propostas de governo do PSOL são semelhantes às do PSTU, mas menos radicais, pois o partido acredita em uma transição ao socialismo, explica ele, na segunda entrevista da série do Bem Paraná com os candidatos ao governo.
Bem Paraná — O senhor tentou uma vaga na Câmara de Curitiba e teve 1311 votos. Para se colocar como candidato ao governo não tinha que ter alçado outros vôos na política antes?
Bernardo Pilotto — A gente não precisa fazer carreira política para disputar um cargo no Executivo. A nossa construção no Paraná é certamente uma construção de médio/longo prazo. O PSOL foi criado aqui praticamente do zero, diferente de outros Estados onde a gente teve algumas figuras públicas muito importantes que viram para o partido – o próprio Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo, o Chico Alencar, em São Paulo com o Plínio de Arruda Sampaio, a Luciana Genro no Rio Grande do Sul. No Paraná a gente ainda está plantando algumas sementes e é nesse sentido a nossa candidatura ao governo do Estado. Aqui é mais difícil apresentar uma ideia de esquerda sobre o Estado do Paraná porque historicamente… nem o PT fez isso. O PT optou por ficar na sombra de uma oligarquia local que é a família Requião e não se dispôs a construir uma posição alternativa, autêntica ao Estado. Mais do que resgatar uma ideia, o PSOL tem que criar uma ideia de esquerda aqui, o que traz mais dificuldades do que em outros estados. De qualquer foram, temos crescido muito com relação a outros anos. A gente tem se consolidado como ‘o grande dos pequenos’. Isso é motivo de muito orgulho, resultado de muito trabalho, de apresentar uma candidatura séria, com propostas concretas, e temos crescido mesmo sem começar a propaganda na TV e nem os debates.
BP — O que o PSOL vai conseguir fazer em 54 segundos no horário gratuito?
Pilotto — A gente vai trazer uma crítica muito forte aos outros programas eleitorais, à forma como é feita a propaganda eleitoral, que é baseada muito no marketing e não nas propostas. Só depois nós vamos apresentar as propostas. O primeiro momento será de crítica que vai fazer o eleitor se identificar com a gente porque está cansado da mesmice, quase a paga a televisão na hora do programa eleitoral. Vamos buscar também dialogar com o eleitor na internet.
Pauta de esquerda
A gente enxerga retrocesso em Gleisi
Bem Paraná — Percebe-se nas redes sociais e com relação a algumas entrevistas e sabatinas, que as críticas do PSOL são bastantes direcionadas ao PT, à candidata Gleisi Hoffmann. Porquê?
Bernardo Pilotto — A gente acredita que as críticas são na mesma medida às três grandes candidaturas, até porque a gente enxerga uma matriz comum entre elas, que é o financiamento de campanha. As três vão governar para os seus financiadores, para banqueiros, latifundiários, para grandes empreiteiras, que têm sido as financiadoras de campanha até agora. Nós fazemos críticas também à Gleisi porque salta aos olhos que determinadas posturas tenham vindo dela: uma postura de ataque aos indígenas; das comunidades terapêuticas, que é uma forma atrasada de tratar os usuários de drogas; um retrocesso com relação à pautas de liberdade civil, como casamento civil igualitário, legalização de algumas drogas. A gente enxerga um retrocesso na candidatura da Gleisi em relação a esses pontos. Não nos surpreende que o Beto Richa também represente esse retrocesso. O PSDB nunca se dispôs a fazer um debate diferente sobre isso. A crítica acaba centrada na Gleisi porque nos chama atenção determinadas palavras virem da boca dela. Quando a Gleisi fala isso (‘retrocesso’), certamente aquela direita tradicional se sente mais a vontade para levar suas pautas. Há uma ascensão conservadora quando tem uma esquerda no governo que não quer dizer seu nome, que não tem coragem de colocar suas pautas. Quando a Gleisi fala que não tem indígenas no Paraná, aquele ruralista, latifundiário pensa: ‘estou liberado pra barbarizar com os indígenas’. Por isso a nossa crítica também à Gleisi, não só ao Beto Richa e ao Requião.
BP — Como o senhor disse, ‘a direita tradicional’ está mais próxima ao polo contrário ao do PSOL, de uma candidatura mais à esquerda. Quando as críticas vão a qualquer candidato mais à esquerda, o senhor não teme favorecer essa direita?
Pilotto — Não. Quem favorece a direita é quem é esquerda – ou tinha um programa de esquerda – teve oportunidade de governar, e ficou escondendo as suas pautas. É isso que fortalece a direita.
BP — A sua campanha tem defendido amplamente a desmilitarização da Polícia Militar. Como isso seria possível em situações práticas como de controle de massa? Como a Polícia Militar funcionaria em um governo do PSOL?
Pilotto — Primeiro que a gente não enxerga a Polícia Militar como um órgão que tenha conseguido resolver situações de controle de massa. Em geral, a polícia demora muito para resolver essas situações ou resolve de maneira traumática, com muita violência e consequências que pioram o problema e geram mais reação. A gente não tem visto as situações de descontrole de massa e várias dessas situações são ocasionadas a partir da própria polícia. Quando a gente fala de polícia desmilitarizada, não estamos defendendo que ela não tenha armas, por exemplo. A polícia (na proposta) pode receber um treinamento, pode, eventualmente, até ter hierarquia. A questão é ter uma relação de igual pra igual com a sociedade civil; os trabalhadores da Segurança terem condições de reivindicar seus direitos e opinar sobre os métodos de atendimento, de trabalho; e ter possibilidade de controle externo sobre a polícia. É disso que estamos falando quando defendemos a desmilitarização.
BP — A proposta do PSTU é uma espécie de comissão popular para coordenar as ações da polícia. A proposta do Psol é parecida?
Pilotto — A gente defende a criação de uma Corregedoria Civil Externa. Estamos muito longe de construir (na sociedade atual) uma comissão popular – até a gente não se opõe -, mas a gente acha que está muito distante (a sociedade) e, por hora, uma corregedoria civil já seria um avanço bastante grande. Também somos menos radicais nesse caso.
Segundo turno
Partido vai manter postura independente
Bem Paraná — Qual a sua avaliação do governo Beto Richa?
Bernardo Pilotto — O governo Beto Richa talvez seja reconhecido daqui a alguns anos como o pior governo da história. Se elegeu prometendo muito, dizendo que as finanças ficariam em ordem, que haveria um choque de gestão e redução dos cargos comissionados. A gente vê um Estado mais quebrado e com mais cargos comissionados, só para ficar em dois exemplos. O comparativo é das promessas com as ações e isso é muito distante. Além disso, o Beto Richa retrocedeu em várias áreas, fez uma reforma administrativa muito ruim dentro do Estado, terceirizando a gestão da saúde, a gestão da cultura; precarizando as condições de trabalho na TV Educativa. Uma série de medidas que retrocederam ao que tinha o patrimônio público do Estado do Paraná.
BP — O PSOL também não prestou contas no prazo, mas ninguém entrou com ação para pedir a declaração. Porquê?
Pilotto — A gente prestou contas. Isso foi uma confusão feita pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Nós prestamos contas na data certa e o TRE não divulgou no site deles por algum problema. Se não me engano, hoje, se você entrar lá, vai ver que está divulgado. (Não está. A mensagem que aparece é a prestação de contas foi entregue sem lançamentos de receitas). Mas além da divulgação do TRE, nós fazemos o que nenhum outro candidato fez, nós divulgamos no nosso site a prestação de contas, o que facilita ao eleitor pesquisar. No site do TRE é muito difícil, então nós somos a única campanha que divulgou a prestação de contas no site, bem detalhadinha, todas as pessoas que doaram para nossa campanha. Infelizmente teve esse problema no site do TRE.
BP — Em um eventual segundo turno, como apontou a última pesquisa do Instituto Datafolha (PR 00014/2014), em um eventual segundo turno entre Beto Richa e Roberto Requião (PMDB), quem o Psol apoiaria?
Pilotto — Os partidos só apoiam candidaturas ao segundo turno para conseguir secretaria, subsecretaria ou direção de empresa pública. O PSOL não tem esse interesse e não quer compor governo do Beto Richa, do Requião ou da Gleisi. O Psol vai manter a postura independente e de oposição. Não tem porquê escolher A ou B para apoiar no segundo turno.
Manifestações
Reação vai contra vandalismo institucional
Bem Paraná — O que você acha das manifestações violentas, das programadas para serem violentas e das que perderam controle em situações pontuais com a polícia?
Bernardo Pilotto — A reação popular violenta é fruto do vandalismo institucionalizado: o vandalismo da fila no SUS, de qualidade na Educação, o vandalismo do pedágio, esse tipo de vandalismo.
BP — As pessoas que se envolveram em manifestações violentas – em Curitiba – estão relacionadas com os problemas que o senhor citou?
Pilotto — Algumas sim. Nós entendemos que é preciso convencer essas pessoas de que quebrar a vidraça de um banco não é o melhor método para combater o vandalismo institucionalizado. Nós acreditamos na organização coletiva para combater desigualdades e injustiças. A gente tem sido vitorioso, em vários momentos a gente conseguiu convencer pessoas disso e seguimos apostando nisso. Em muitos casos, é um primeiro contato dessas pessoas com a política, com movimentos coletivos. A gente ficou muitos anos sem ter isso no Brasil, sem grandes manifestações. As entidades estudantis e sindicais estão muitos afastadas das pessoas, tanto quanto os partidos políticos. Por isso, essa juventude não tem referências políticas e acaba tomando esse tipo de atitude. Nós compreendemos isso e achamos que devemos convencê-los de que devem organizar a indignação e fazer a indignação virar uma ação coletiva.
BP — Partidária?
Pilotto — Não necessariamente. Há várias formas de as pessoas se organizarem coletivamente, a partidária é uma delas. Associações, coletivos de juventude, culturais, pastorais sociais. Há várias formas de organização.
BP — O PSTU acusou o PSOL de ser intransigente e impôr uma candidatura praticamente pura e só querer o apoio sem dividir o espaço. Por que não houve o acordo ?
Pilotto — Cada partido decidiu trilhar seu rumo. O PSTU decidiu lançar candidatura própria, nós respeitamos, achamos que são parceiros em várias questões. Mas nesse momento eleitoral, cada partido optou por uma tática diferente. O PSOL entendeu que era o momento de se afirmar e que o PSTU teria espaço na nossa chapa, mas não necessariamente na chapa ao Senado. Não ter o candidato ao Senado, não significa que eles não teriam espaço nenhum, que o programa não seria representado. O programa político do PSTU seria representado na chapa do PSOL, mas eles não entenderam assim. Entenderam que o PSTU precisaria de um nome na cabeça de chapa para que o programa estivesse representado e por isso a aliança não foi possível.