Henry Milleo

A próxima sexta-feira (06 de março) será um marco para a vida e carreira do Grupo Vozes de Angola. O coral, composto por cantores e músicos angolanos deficientes visuais, refugiados da guerra civil que assolou seu país por mais de três décadas, fará uma apresentação no Espaço Cultural Capela Santa Maria (Rua Conselheiro Laurindo, 273, Centro de Curitiba), com repertório eclético, que trará cantigas folclóricas em dialeto africano, música popular brasileira, gospel e composições autorais, cantadas à capela ou com o acompanhamento de teclado, violão e percussão.
O show se chama Tshotsholoza, que significa ‘seguir em frente’. Esse é também o nome de uma música que o grupo, formado em 2001 na Capital, no Instituto Paranaense para Cegos, costuma cantar. “A música é deles e eles decidiram seguir com esse nome para o show, que significa ‘seguir em frente’, porque eles tentam sempre seguir em frente”, explica a produtora Cristiane Lissoni, da Zoli Eventos Exclusivos e que é também a agente do grupo.
Em anos recentes, os músicos enfrentaram enormes dificuldades. O desemprego, que assola o país desde o início da crise econômica, em 2014, também os atingiu, resultando em dificuldades financeiras. Isso ajuda também a explicar o nome Tshotsholoza, no sentido de que, mesmo perante todas as dificuldades, ainda precisamos levantar a cabeça. Tem tudo a vernão só com eles, portanto, mas com todos nós.
E levantar a cabeça é algo no que os artistas já são especialistas. Todos os 10 cantores do coral moram hoje numa mesma casa, se virando juntos, superando as dificuldades e os preconceitos juntos. Nenhum deles nasceu cego, mas acabaram perdendo a visão por conta do sarampo ou mesmo por causa da guerra civil em Angola, travada quando eles eram crianças – hoje, estão com idades entre 26 e 36 anos.
“Eu acho que esse show significa para eles ‘a gente conseguiu’. Estão lutando há tanto tempo, passaram muitas dificuldades. Eles sempre fizeram participações em shows, apresentações aqui em Curitiba, mas esse é o primeiro show só deles, em que eles são a estrela principal”, comenta Lissoni, que ainda faz um apelo para os curitibanos prestigiarem o aguerrido grupo africano.
“Só peço que o pessoal venha para prestigiá-los, porque eles merecem. São pessoas que escolheram viver aqui e estão aqui, amam Curitiba, amam o Brasil. É uma chance de escutar uma hora de boa música e conhecer estes músicos, que são símbolos de perseverança, garra e força.”

Parte do valor das entradas será doado para Instituto
Mesmo diante de todas as dificuldades financeiras que os cantores do Vozes de Angola enfrentaram e ainda enfrentam, o grupo decidiu doar parte do valor que será arrecadado com a venda de ingressos para o Instituto Atitude na Cabeça, que arrecada cabelos, perucas, lenços, chapéus, turbantes, bonés, boinas e outros adereços para pacientes que perderam os cabelos por conta de alguma doença ou tratamento.
A preparação dos artistas do Vozes de Angola para o espetáculo da próxima sexta-feira foi intensa. Para ajudar o grupo, primeiro foi feito um esforço para arrecadar alimentos e produtos de higiene, ainda no ano passado. Depois disso, foi hora de colocar a voz para trabalhar, com ensaios com na PUCPR, onde receberam treinamento de voz. Com o grupo mais bem preparado, foi hora de iniciar a preparação para o espetáculo, com ensaios três vezes por semana num estúdio. O último deles aconteceu na segunda-feira (02 demarço). “Eles ficaram direto no ensaio. Resolvemos começar a ensaiar em estúdio para eles poderem escutar as próprias vozes, terem um retorno, usarem o microfone”, conta Lissoni.

Serviço
Tshotsholoza – Show do Grupo Vozes
de Angola
O que é: Show musical que será apresentado por um coral de angolanos com deficiência visual. O espetáculo trará cantigas folclóricas em dialeto africano, música popular brasileira, gospel e composições autorais, cantadas à capela ou com o acompanhamento de teclado, violão e percussão. Em meio às músicas, os artistas também contam um pouco sobre suas vidas
Quando: Sexta-feira (06 de março)
Onde: Espaço Cultural Capela Santa Maria (Rua Conselheiro Laurindo, 273, Centro)
Ingressos: R$ 70 (inteiro) e R$ 35 (meio, sendo que a doação de um quilo de alimento, que deve ser feita na hora do espetáculo, dá direito à compra de meio ingresso)
Onde adquirir: pela plataforma Sympla, com a produtora Zili ou direto na bilheteria da Capela Santa Maria, que daí não há cobranã de taxa