Divulgação

Nesta quinta feira (19/12), às 18h30, o prédio histórico Belvedere, prédio histórico localizado na Praça João Cândido, Alto São Francisco, em Curitiba que foi completamente restaurado será entregue à população. Para a festa de inauguração, haverá uma encenação musical de obras clássicas brasileiras do século XIX. O evento é gratuito e para todas as idades.

Os investimentos na revitalização vieram de recursos do potencial construtivo e ficaram em torno de R$ 1.170.000,00. O valor é cerca de 20% mais baixo do que o máximo previsto no edital de licitação lançado em meados de setembro deste ano, de R$ 1.458.287,97. Os trabalhos fazem parte dos esforços que o município vem fazendo para recuperar a região central (e histórica) da cidade. Um  incêndio atingiu o Belvedere às vésperas do Natal do ano passado. 

História

Tombado pelo Estado, o exemplar arquitetônico desenhado com linhas art nouveau foi construído em 1915, pelo então prefeito Cândido de Abreu, para ser um mirante no ponto mais alto urbanizado da capital.

“A conservação é memória de justiça a Cândido Ferreira de Abreu, que foi prefeito de Curitiba por duas vezes”, disse Greca, em visita ao espaço. Em seu mandato de 1915, lembrou o prefeito, além de erguer o Belvedere, Cândido de Abreu fez os bondes elétricos e outras grandes melhorias na cidade. A edificação teve outros usos, como a sede da primeira rádio do Paraná, a Rádio Clube Paranaense, e o ateliê do escultor João Turin.

Tesouros arqueológicos

A equipe do Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense fez pesquisas arqueológicas no entorno do Palácio Belvedere, prédio histórico localizado na Praça João Cândido, Alto São Francisco, em Curitiba, e que está sendo revitalizado pela prefeitura da capital. Desde o início das escavações, em agosto, já foram encontrados fragmentos de ossos, de cerâmica, e até mesmo ossadas inteiras, muito bem preservadas. 

Na praça existem vestígios da capela de São Francisco de Paula, construída entre 1799 e 1809, e demolida em 1915 para a edificação do Belvedere. Nessa área, entre os séculos XVIII e a metade do século XIX foram realizados sepultamentos, especialmente de jovens e crianças. “Já na primeira trincheira escavada apareceu um sepultamento completo, que estimamos ter cerca de 200 anos, com apenas 40 centímetros de profundidade. Estamos escavando em uma área interna da capela, que protegeu esse sepultamento humano em ossos por cerca de 100 anos. Depois foi feito um calçamento que também auxiliou na preservação e tornou possível encontrarmos essa ossada muito bem preservada, mesmo próxima à superfície”, comenta a responsável pelo Setor de Arqueologia do Museu Paranaense, Cláudia Parellada, que está à frente das pesquisas no local.   A equipe encarregada da restauração estuda a melhor forma de tratar o achado arqueológico. O Belvedere passa por reforma desde um incêndio no final de 2017. O espaço art nouveau deve ficar pronto ainda este ano.

Para o secretário de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Hudson José, isso reforça a importância do trabalho conjunto entre o Governo do Estado, por meio da Coordenação do Patrimônio Cultural e do Museu Paranaense, e a prefeitura de Curitiba. “Em um projeto de revitalização de um patrimônio cultural do Paraná e de Curitiba, surgiu a oportunidade de revelar ao público a memória urbana que estava tão próxima, mas esquecida.” Desde o início das escavações, em agosto de 2019, vários ossos humanos e vestígios relacionados aos séculos XVIII e XIX já foram identificados nas pesquisas. “É como se fosse uma caixinha mágica. No momento em que vamos abrindo, vão surgindo informações, como um molar próximo a uma mandíbula, que estava logo abaixo do calçamento, a 5 centímetros de profundidade”, relata Claudia.

 Quando o projeto de reforma e restauração do Palácio Belvedere chegou à Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) para análise, foi identificada a necessidade de elaborar também um projeto paleoarqueológico no local, pelo conhecimento prévio de que a região poderia conter vestígios paleontológicos e arqueológicos.  O Museu Paranaense foi, então, convidado a colaborar com o projeto e com as pesquisas por meio do Departamento de Arqueologia. Claudia explica que as primeiras análises ocorreram no início de junho de 2019, quando surgiu a necessidade de realizar estudos sistemáticos na praça. Foi preciso uma autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para as escavações e prospecções, por se tratar de área tombada.

“A autorização federal foi publicada em julho, e, no início de agosto de 2019 foram iniciadas as escavações, priorizando áreas que terão intervenções em subsuperfície, como a da instalação de elevador e de deck, e a de cabos subterrâneos”, complementa.

Os vestígios recuperados serão estudados com o objetivo de compreender melhor a memória e os processos de ocupação urbana do Alto São Francisco, as paleopatologias e a qualidade de vida em Curitiba entre o final do século XVIII e a metade do XIX, além de resgatar elementos da cultura material.

400 MIL PEÇAS – O Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense é responsável por um acervo de cerca de 400 mil peças, na maioria cerâmicas e artefatos líticos, além de 53.600 mil ossos humanos, entre eles vestígios de sambaquis do litoral paranaense, outros materiais conchíferos, paleontológicos e orgânicos provenientes do território paranaense.

Continuamente o setor realiza pesquisas buscando a reconstrução da pré-história paranaense e o mapeamento do patrimônio arqueológico do Paraná. Hoje o museu possui dois dos seis acervos arqueológicos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.