Baixar a lona e levantar acampamento faz parte da rotina de vida dos artistas circenses. Como a maior parte das companhias no país são itinerantes, as chegadas e despedidas são constantes, sempre com uma nova cidade a visitar. O que ninguém esperava, contudo, era um dia ter de simples e unicamente baixar a lona, sem qualquer previsão de quando o picadeiro voltará a ser iluminado, como aconteceu recentemente por conta da pandemia do novo coronavírus.

Sem público há meses o setor sangra, assim como todas as demais áreas culturais. O cenário até aqui só não é mais grave, dizem artistas e empresários do ramo, graças à ajuda da população, que abraçou os circos e tem ajudado com doações. Ainda assim, os estabelecimentos caminham a passos trêmulos numa corda bamba, o que ameaça uma das mais tradicionais formas de expressão cultural do Brasil, presente no país desde o século XIX.

Proprietário do Circo Imperial Kartoon e membro de uma família que já está na sétima geração de artistas circenses, Diego Pereira Marinho conta que a situação dos circos já não vinha fácil ao longo da década, especialmente desde os anos de 2012 e 2013. Segundo ele, na medida que outras formas de entretenimento (com destaque às redes sociais e aos serviços de streaming, como a Netflix) foram ganhando penetração no mercado brasileiro, o público dos circos foi diminuindo.

“Está sendo muito triste para nós. Tenho 32 anos, nascido e criado em circo. Está muito triste, porque a gente dependia 100% da renda de bilheteria. Estamos parados há cinco meses, está complicado”, lamenta Marinho. “Cada família está tirando uns 10% em relação a quando estávamos com o circo normal. Estão tirando para sobreviver, para se manter”, complementa.

Outro nome que nasceu e cresceu no circo, Vanderlei Scaranto, do Circo Tchê (antigo Montecarlo), conta que esse é o momento mais dramático para o setor. “Sempre tem uma dificuldade, trabalha numa praça, não dá o que esperava e precisa de dinheiro para ir a outro lugar, mas é algo do dia a dia. Agora, passar o que estamos passando com essa pandemia, foi a primeira vez e tomara que seja a última”.

O maior temor, então, é que a situação, que já não era boa para grande parte dos circos, fique insustentável diante das restrições impostas pela pandemia. Para conseguir deixar uma cidade e visitar outra, por exemplo, é preciso alugar um imóvel ou pagar à prefeitura pelo uso do solo, caso o terreno seja público; é feito ainda um pedido para que o circo seja autorizado a entrar na cidade, aí vem Bombeiro, Vigilãncia Sanitária, taxa de alvará, custo para levar as coisas de uma cidade para outra…

“Vou falar bem a verdade, quando liberar total, creio eu que uns 80, 90% dos circos não vão mais conseguir trabalhar. Hoje, para tirar o circo daqui e ir para outra cidade, preciso de uns R$ 5 mil no bolso para pagar todas as contas”, conta Marinho. “As contas estão tudo atrasadas”.

Retornar ou não retornar? Eis a questão
Embora as mazelas provocadas pela pandemia estejam sendo sentidas por todos os circos, ainda não há uma solução unânime entre os empresários e artistas. Alguns defendem que seja autorizada a retomada dos espetáculos, com redução do público máximo, respeito ao distanciamento social e a adoção de outras medidas preventivas.

Outros, porém, acreditam que a retomada só será possível depois da criação de uma vacina para a Covid-19. Enquanto isso, uma possível solução seria o governo (municipal, estadual ou federal) comprar espetáculos de forma antecipada, com os artistas se apresentando gratuitamente à população quando puderem voltar a trabalhar.

Por outro lado, todos acreditam que uma medida que poderia ajudar e muito o setor é a aprovação do circo como parte integrante do patrimônio cultural brasileiro, reivindicação do setor desde antes da pandemia. Isso ajudaria a reduzir as dificuldades que os circos enfrentam junto às autoridades municipais e estaduais, e atualmente há uma proposta com esse teor tramitando na Câmara dos Deputados.


‘Ate hoje não passamos fome graças ao povo’
Para sobreviver, a saída que os circos encontraram foi ir às ruas para vender as chamadas ‘delícias circenses’, como algodão doce, maçã do amor e também brinquedos, especialmente bolas. A assistência por parte do Poder Público, até aqui, foi pouca: conseguiram acesso aos R$ 600 por mês pagos pelo governo federal aos autônomos e, em Curitiba, a Prefeitura disponibilizou R$ 70 por mês para cada artista gastar no Armazém da Família.

O grande apoio à classe, contudo, tem vindo mesmo é da população. E isso acontece quase que em todo o Brasil, segundo os relatos ouvidos pela reportagem. Há, inclusive, quem afirme que os artistas só não passaram fome até aqui por causa da forma como o povo abraçou os circos.

“Antes a fome batia forte na porta da gente quando pegava uma temporada muito fria, com chuva, era uma época em que o pessoal também não tinha muita condição. Nessa pandemia, o que tem de diferente é que a população, o povo, tem ajudado muito o circo”, afirma Zanchettini.

“Até hoje não passamos necessidade de comida e alimentação graças ao povo, que nos abraçou de um jeito que ficamos comovidos. Foi a sociedade, o povo que vinha trazer doação de alimentos, higiene pessoal, comida, carne, leite, fralda… Nos sentimos muito acolhidos, isso dá uma apaziguada na nossa tristeza, levanta a autoestima, o ânimo”, conta, comovido, Diego Marinho.

Mapeamento mostra 645 pelo país, sendo 21 no Paraná
Divulgado no final de julho pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), o Mapeamento dos Circos no Brasil mostra que existem 645 circos em todo o país, com 9.492 mil integrantes. Entre todas as unidades da federação, apenas Rondônia e Roraima, na região Norte, não tinham nenhum circo.

O número real de trupes no Brasil, no entanto, pode ser ainda maior, avaliam os empresários do ramo, os quais estimam ainda que cerca de 30 mil pessoas dependem diretamente dos espetáculos. No Paraná, por exemplo, o levantamento aponta a presença de 21 circos no final do mês passado, os quais somam mais de 433 integrantes. Quatro desses estabelecimentos, contudo, não informaram o número de artistas e funcionários que empregavam de forma fixa.

Curitiba era ainda a cidade com maior número de circos, com quatro: Circo do Pimentinha, Circo Teatro Fantasy, Circo Vostok e The Big Circus. Na Região Metropolitana, ainda há outros picadeiros em São José dos Pinhais (Kazini Bros Circus) e em Campo do Tenente (Circo Zanchettini).

Um dado curioso é que o município de Lobato, no norte do Paraná e com uma população estimada em 4.787 pessoas, apresentava o segundo maior número de circos quando da realização do levantamento, com três: Super Star Circus, Circo Balão Mágico e Circo Astros. Apesar de ser uma cidade pequena, trata-se de um dos municípios com maior qualidade de vida no Paraná, apresentando o segundo melhor Índice Ipardes de Desempenho Municipal (IPDM), que considera estatísticas referentes às áreas de saúde, educação, emprego e renda, atrás apenas de Curitiba.

Como ajudar os circos?

Atualmente, são duas as principais formas de ajudar os circos brasileiros. Uma delas é comprando os produtos que eles vendem, as chamadas delícias do circo – todos os dias os artistas estão saindo pelas cidades em que estão instalados e nos municípios vizinhos para vender maçã do amor, algodão doce, bolas e outros itens.

A outra forma de ajudar é com doações, levando comida, itens de higiene e outras coisas para ajudar os artistas circenses.

“Vendemos maçã do amor, algodão doce, pipoca, marshmallow de chocolate. Viu o carro vendendo, compre para ajudar”, apela Diego Marinho. “E você, morador de qualquer cidade, vê um circo aí do lado, se tem condição financeira, chega ali e pergunte se estão precisando de algo, que as vezes estão precisando e não falam. Ficamos com vergonha de falar o que está acontecendo, mas não custa. O povo brasileiro é muito abençoado”, complementa.

Abaixo, você confere a lista dos circos paranaenses e o endereço onde eles estavam instalados até o final de julho. Para não perder a viagem quando for adotar, vale a pena tentar entrar em contato com o circo antes, seja por telefone ou por meio de redes sociais.

Os circos no Paraná

Nome do circo Responsável Localização atual Município Integrantes Contato
Circo Astros Tarcísio Thiago Vieira Borges R. Cristóvão Colombo, 806 Lobato 18 44 99948-7373
Circo Balão Mágico Rodolfo   Lobato 50 44 9999 5594
Circo Di Italia Silvana Bordigoni Robatini   Jacarezinho 15 [email protected]
Circo Di Sarah Putuca   Boa Esperança 36 44 99860 0299
Circo do Pimentinha Márcia R. E. Guidolin, Vila Zumbi Curitiba   41 99797-2991/ 41 99602-8757
Circo Globo Clóvis   Monte Castelo 22 44 98364 736
Circo Imperial Cartoon Diego Pereira Marinho Parque das Corredeiras Tomazina 20 41 99686-0941
Circo Lisboa João Paulo Gonçalves Borges São Judas Tadeu – Avaré Wenceslau Braz 16 14 99897-9997
Circo Los Agady Marcio     38 11 97447-0660
Circo Max Lolo   Candido Farias 30 44 99171 702
Circo Maximo     Caimbra 18 44 99700-3069
Circo Romany Walter Cabral        
Circo Rhoney Espetacular Oney Newton Salgueiro Filho Jardim Copacabana Campo Mourão 38 47 99917 9598
Circo Tchê Vanderlei Carlos Scaranto   Rio Azul 9 46 99985-7440
Circo Teatro Fantasy Luiz Augusto Salgueiro B. Cajuru Curitiba 25

41 99910-8741

[email protected]

Circo Vostok Fábio Meneses de Lima Linha Verde Curitiba 38 41 99986-2394 / 48 9963-4803
Circo Zanchettini Edlamar Maria Cabral Zanchetin Fazenda Potreirinho Campo do Tenente   41 999955497/ 995549761/ 995169645
Kazini Bros Circus Luana/ Walter A. de A. Salgueiro Colônia Rio Grande São José dos Pinhais   41 99219-2165/ 47 99668 9370
Star Magic Circo Rodrigo Reis Amaral George Marcelino, 30 Londrina 20 43 99678-6415

Os circos pelo Brasil

Paraná
Número de circos: 21
Integrantes: 433

Santa Catarina
Número de circos: 20
Integrantes: 288

Rio Grande do Sul
Número de circos: 27
Integrantes: 520

Goiás
Número de circos: 13
Integrantes: 215

Distrito Federal
Número de circos: 8
Integrantes: 148

Mato Grosso
Número de circos: 6
Integrantes: 132

Mato Grosso do Sul
Número de circos: 3
Integrantes: 57

Espírito Santo
Número de circos: 25
Integrantes: 190

Minas Gerais
Número de circos: 70
Integrantes: 810

Rio de Janeiro
Número de circos: 26
Integrantes: 576

São Paulo
Número de circos: 128
Integrantes: 1.761

Acre
Número de circos: 2
Integrantes: 64

Amapá
Número de circos: 1
Integrantes: 12

Amazonas
Número de circos: 6
Integrantes: 188

Pará
Número de circos: 19
Integrantes: 266

Tocantins
Número de circos: 1
Integrantes: 15

Pernambuco
Número de circos: 31
Integrantes: 386

Paraíba
Número de circos: 31
Integrantes: 627

Rio Grande do Norte
Número de circos: 23
Integrantes: 258

Maranhão
Número de circos: 16
Integrantes: 196

Alagoas
Número de circos: 13
Integrantes: 217

Ceará
Número de circos: 60
Integrantes: 702

Bahia
Número de circos: 62
Integrantes: 1.031

Piauí
Número de circos: 22
Integrantes: 288

Sergipe
Número de circos: 11
Integrantes: 113