Kraw Penas – Simone Mattos

A jornalista e escritora curitibana Simone Mattos já passou apuros por não comer carne, principalmente quando pequena. Naquela época, as crianças eram obrigadas a comer o que tinha no prato e não havia quase nenhum restaurante vegetariano em Curitiba. A sociedade mudou. Muitas pessoas passaram a adotar uma alimentação vegetariana. Há mais opções de restaurantes e de pratos. Simone resolveu juntar a evolução de costumes com algumas memórias próprias em um livro de crônicas e contos, ‘Nasci Vegetariana – num mundo carnívoro’, com ilustrações do artista Sampaio.

O livro traz situações embaraçosas, engraçadas e surpreendentes na jornada da autora pela alimentação livre de carne animal. “Não existiam opções, nem restaurantes e as pessoas não entendiam aquele meu hábito estranho de não comer carne”, afirmou Simone.

‘Nasci Vegetariana – num mundo carnívoro’ é o terceiro livro de Simone Mattos – os anteriores são ‘Chama o Garçom – Botecos de Curitiba e as Histórias que não vêm na Conta’, de 2006, e ‘Valentina – a Vida Vem de Trem’, de 2018. Apelidado pela própria autora de “Nasci veg” e dono de um perfil no Instagram (@nasci.veg), o livro será lançado neste sábado (23), numa manhã de autógrafos, das 10 às 12 horas, na loja do Museu Oscar Niemeyer (rua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico). Sobre a obra, a autora conversou com o Bem Paraná.

Bem Paraná: De onde vieram as ideias para o livro?

Simone Mattos: Comecei a pensar em escrever esse livro a partir da minha observação do quanto o mundo está mudando nesse sentido de alimentação. Antes era mais difícil mudar de cardápio. Não só ser vegetariano, mas qualquer coisa que fugisse do tradicional era mais difícil. Hoje há várias dietas restritivas, mais opções nos supermercados, nos restaurantes. Os chefs estão prestando mais atenção nisso. A partir disso, comecei a ter essa ideia de contar em formato de crônicas reais um pouco da minha trajetória. Adoro contar histórias, escrever histórias. Comecei a pensar: por que não contar essas histórias? Até para que as pessoas que estão pensando em como mudar de cardápio e de estilo de vida se sintam motivadas e entendam o quanto antes era isso era difícil.

Bem Paraná: O livro traz histórias curiosas baseadas em uma adoção de estilo de vida. Qual dessas histórias é a sua preferida?

Simone Mattos: Não saberia dizer qual a minha preferida, mas vou destacar a crônica que aparece como a primeira no livro, que foi a primeira situação de apuro que passei, de que não queria comer carne e tinha que comer. O livro não segue uma ordem cronológica. Conta coisas dos anos 70, dos anos atuais, dos anos 90… A leitura fica mais divertida e leve assim. Mas a lembrança mais antiga eu fiz questão de deixar em primeiro lugar no livro porque é importante para mim. Foi um momento de início de descoberta. Comecei a perceber que meu paladar era diferente do das outras pessoas. Não conhecia nenhuma pessoa vegetariana quando criança, só fui conhecer na vida adulta. É uma história engraçada, de uma família amiga da minha família, descendente de alemães. Na casa deles tinha uma mesa superfarta, tipo café colonial. Eu adorava ir naquela casa, mas na hora de comer era um desespero. Eu via meu pratinho cheio de salames e frios. E naquela época criança tinha que comer o que estava no prato. Na casa tinha um cachorrinho muito simpático, o Pingo. Ele ficava sentadinho no meu pé, já sabia que eu ia acabar jogando tudo para ele comer quando os adultos não estavam olhando (risos).

Bem Paraná: “Nasci Vegetariana – num mundo carnívoro” tem até um perfil no Instagram. Como foi a divulgação da obra?

Simone Mattos: Tem sido incrível, além até do que eu esperava. A aceitação das pessoas, o interesse. Estou no início da divulgação. Por enquanto, teve um pré-lançamento, que foi uma live no Youtube da editora InVerso, e o início da pré-venda. O livro acabou de sair da gráfica. Agora vai ter essa sessão de autógrafos no sábado de manhã, na loja do MON. Ainda tenho muitos planos para esse livro. Pretendo que ele atinja o maior número possível de pessoas. As pessoas têm perguntado muito sobre o assunto. A partir daí, tive a ideia de criar o perfil do livro no Instagram. Está sendo muito bacana.

Bem Paraná: Atualmente é cada vez maior o número de pessoas que adotam o vegetarianismo e o veganismo. Como você avalia o impacto disso para o meio ambiente?

Simone Mattos: Não é o objetivo principal do livro. Sou jornalista e escritora, não sou pesquisadora nem cientista. Não tenho embasamento para falar sobre isso. O que posso dizer é que o impacto é inegável. As florestas estão desaparecendo para ceder espaço para a pecuária. Não sou eu quem está dizendo, é só ler. Convido as pessoas a ver o site da sociedade Vegetariana Brasileira, que é uma instituição seríssima, está sempre se atualizando nesses assuntos. Tem uma série de documentários hoje feito por pessoas seríssimas, que traz uma reflexão sobre esse tema. Não quero que sejam, minhas palavras, mas convido as pessoas para que se informem. É bastante assustador.

Bem Paraná: Daqueles questionamentos que os vegetarianos ouvem, tipo “Peixe não é carne”, “Mas você também não come frango?”, qual deles é o que você mais ouviu? E qual deles é o que incomoda mais?

Simone Mattos: Trouxe para o livro as mais engraçadas e as mais recorrentes. São uma “playlist”. “Mas você não tem anemia?” “Mas você não fica com vontade quando sente cheiro de churrasco?” “Mas nem peixe (ou frango) você come?” Essa é a campeã. Nenhuma me incomoda. A que mais me incomoda é quando perguntam “Então, você come o quê?”. E é muito ouvida. Entendo que culturalmente é muito forte o consumo de carne. Mas perguntar o que eu como só porque não como carne? Só quero que as pessoas pensem que arroz com feijão é um prato vegano, batata frita é um prato vegano. Diria que, se há uma alimentação restritiva, é a com carne. Percebo que as pessoas muito carnívoras têm a preocupação de ter a carne na alimentação. Todas elas se restringem. A alimentação vegetariana e a vegana são as menos restritivas que existem. Há todos os grãos, todas as frutas, os legumes e uma série de coisas que abrem um leque de possibilidades de receitas maravilhosas, de culinária incrível.

Bem Paraná: Você já escreveu um livro de crônicas (‘Chama o Garçom’) e um romance (‘Valentina’). Após “Nasci Veg”, qual o seu próximo projeto?

Simone Mattos: Tenho três manuscritos prontos que seriam três novos livros. Desses, dois são infantis. Quando escrevi ‘Valentina’, que foi finalista do prêmio Barco a Vapor 2017, foi uma surpresa. ‘Valentina’ não era para ser uma obra infanto-juvenil, mas acabou se tornando por conta própria, a ponto de ser finalista em um dos concursos mais respeitados do Brasil. Acabei ganhando o “título”, vamos dizer assim, de escritora de livros infanto-juvenis, uma coisa que jamais imaginei. Comecei a ler muito sobre isso, li muitos autores consagrados nessa área. E confesso que acabei gostando muito disso. Depois de ‘Valentina’, escrevi duas histórias que seriam realmente infantis, mais uma que é infanto-juvenil. As três estão prontas, esperando o momento certo de se transformar em livros. Por enquanto são manuscritos. Mas com certeza serão livros em breve.