Erasmo Carlos no show em Curitiba, em 16 de setembro deste ano: ele apresentava músicas que se tornaram parte da história cultural brasileira (Marco Guezzi | colaboração)

A música brasileira perdeu uma de suas vozes mais importantes. Erasmo Carlos, ícone da Jovem Guarda, morreu ontem, aos 81 anos. Ele foi internado às pressas na noite de segunda-feira (21) no Hospital Barra D’or, no Rio de Janeiro, e chegou a ser entubado. A causa oficial da morte ainda não foi divulgada.

Em outubro, Erasmo havia sido hospitalizado com quadro de síndrome edemigênica e teve alta no início de novembro, segundo informou sua assessoria de imprensa. Em agosto de 2021, o cantor chegou a ficar internado por oito dias, após ter sido infectado pelo coronavírus.

Conhecido por ser um dos pioneiros do rock brasileiro e por sua parceria com Roberto Carlos, ele deixa um grande legado para a música no Brasil. Foram 50 anos de estrada, mas de 500 canções e muitos sucessos, como ‘Além do Horizonte’, ‘É Preciso Saber Viver’, ‘O Bom’ e ‘Pega na Mentira’, que ultrapassam gerações e ficaram na memória do público. Junto com Wanderléa e Roberto, Erasmo foi um dos principais representantes da Jovem Guarda, movimento musical e cultural dos anos 60 e 70. O estilo com influência dos Beatles e do rock dos anos 1950, era a marca registrada dos músicos que faziam parte do fenômeno do “iê-iê-iê” brasileiro, em alusão ao “yeah-yeah-yeah” presente em ‘She Loves You’, um clássico dos Beatles.

Erasmo era também conhecido como “Tremendão” – segundo ele, o apelido veio por conta da sua grife de roupas e produtos da época da Jovem Guarda. Outro apelido era “Gigante Gentil”, por conta da sua altura (1,93m).

O trabalho mais recente de Erasmo Carlos foi o álbum ‘O Futuro Pertence à… Jovem Guarda’. Lançado em fevereiro, o disco traz oito releituras de sucessos da época da Jovem Guarda que ficaram marcados na voz de outros cantores. São elas: ’Nasci Pra Chorar’, ‘O Ritmo da Chuva’, ‘Alguém na Multidão’, ‘O Tijolinho’, ‘Esqueça’, ‘A Volta’, ‘Devolva-Me’ e ‘O Bom’. Na última edição do Grammy Latino, no dia 17 de novembro, ele ganhou na categoria melhor disco de rock de língua portuguesa ou álbum alternativo.

A turnê de shows deste disco trouxe o cantor para se apresentar em Curitiba, em 16 de setembro deste ano, no Teatro Guaíra. No show ‘O Futuro Pertence à… Jovem Guarda’, Erasmo apresentava músicas que se tornaram parte da história cultural brasileira, além de algumas surpresas. No repertório, além de ‘Gatinha Manhosa’ e ‘Festa de Arromba’, por exemplo, ele cantou músicas que nunca apresentou antes, como ‘Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear’, de Eduardo Araújo, e ‘Estou guardando o que há de bom, em mim’ sucesso da dupla os Vips.

História
Nascido e criado na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, Erasmo sempre foi apaixonado por música. A Bossa Nova e o rock’n’roll despertaram o artista que existia dento dele. Na vila onde morava, o cantor aprendeu a tocar violão com Tim Maia. Mais tarde, fez parte de um grupo chamado Sputniks, que tinha Tim Maia e Roberto Carlos, entre outros, mas a banda foi desfeita após uma briga entre Tim e Roberto.

Anos depois, ao lado de Roberto e Wanderléa, Erasmo foi um dos apresentadores do histórico ‘Jovem Guarda’, programa da TV Record exibido entre 1965 e 1968. Em seu palco, passaram grandes nomes da música brasileira, que à época faziam sucesso com o público jovem. Além do trio, destacaram-se nomes como Ronnie Von, Vanusa, Sérgio Reis, Jerry Adriani, Fred Jorge e grupos como Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis e Golden Boys.

Fosse na época da Jovem Guarda ou nas décadas seguintes, Erasmo participou da composição de muitos dos sucessos que se popularizaram na voz de Roberto Carlos. Entre eles, ‘Calhambeque’, ‘Eu Sou Terrível’, ‘Detalhes’, ‘O Divã’, ‘Além do Horizonte’ e ‘Cama e Mesa’. Sobre ter que lidar com o fato de seu colega, Roberto, ser chamado de “Rei”, Erasmo Carlos dizia que não se incomodava. “O que eu sempre sonhei, a partir do momento que eu gostei de música, foi ser compositor, um criador. Jamais me passa pela cabeça o negócio de ser cantor, sabe? Eu canto por circunstância”.

Ao longo dos anos, tornou-se referência para inúmeros músicos. E recebeu homenagens, como na canção ‘Tremendão é Tremendão’, do grupo Funk’n’Lata. Em 1998, Ivo Meirelles explicava o motivo para a admiração, à ‘Folha de S. Paulo’: “Erasmo é autêntico. Não é marketeiro. Por isso o mercado não lhe dá o devido valor e ele está há anos sem gravar”.