
O Brasil não tem rei do rock, mas tinha a rainha do rock. Ontem, morreu Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e em 2022 a família comemorou a remissão, mas sua saúde estava frágil devido às complicações da doença. Chegou a ser internada novamente em março deste ano.
A morte da multiartista, que também escrevia, atuava, apresentava programas de TV e desenhava, causou merecida comoção em todo o Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarou luto oficial de três dias, em todo o país, pela morte da artista. “Rita Lee Jones é um dos maiores e mais geniais nomes da música brasileira. Cantora, compositora, atriz e multiinstrumentista. Uma artista a frente do seu tempo. Julgava inapropriado o título de rainha do rock, mas o apelido faz jus a sua trajetória”, escreveu o presidente em suas redes sociais.
A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de segunda-feira (8), cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”. O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, hoje, das 10h às 17h.
Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe, a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs.
Em 1963, formou com mais duas garotas as Teenage Singers, que faziam pequenos shows em festas colegiais. Com Os Seis, outra banda que integrou, gravou o primeiro compacto, com duas músicas. A saída de três componentes do sexteto acabou deixando o trio formado por Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, que rebatizam a banda como Os Bruxos. Por sugestão de Ronnie Von, o grupo passaria a se chamar Os Mutantes. Entre 1966 e 1972, período em que Rita fez parte do trio, Os Mutantes gravaram seis álbuns, que simplesmente marcaram para sempre a história da música brasileira. O disco homônimo de 1968 já trazia hits como ‘A Minha Menina’, ‘Balada do Louco’ e ‘Ando Meio Desligado’. No mesmo ano, a banda participou da gravação do clássico ‘Tropicália ou Panis et Circenses’, marco do movimento tropicalista, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé.
Rita foi casada com o colega Arnaldo entre 1968 e 1972, parceria que também deu origem a dois discos solo acompanhada dos companheiros da banda: ‘Build Up’ (1970) e ‘Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida’ (1972). Com o fim do casamento dos dois e divergências sobre os rumos da banda, Rita saiu da banda. Mas logo depois, formou a Tutti Frutti, com a qual gravou diversos discos de sucesso. ‘Fruto Proibido’, de 1975, consagrou a cantora com o título de rainha do rock brasileiro, com faixas como ‘Agora Só Falta Você’, ‘Esse Tal de Roque Enrow’ e ‘Ovelha Negra’. Com a entrada do músico Roberto de Carvalho na banda que Rita iniciou a parceria musical e amorosa que duraria a vida inteira.
Em 1976, já morando com Roberto e grávida do primeiro filho, foi detida pela ditadura militar por porte e uso de maconha, num ato do regime para “servir de exemplo à juventude” da época. Rita foi condenada a um ano de prisão domiciliar, e precisava de autorização de um juiz para sair e fazer shows. Rita e Roberto tiveram três filhos: Beto Lee, em 1977, João, em 1979 e Antônio, em 1981. Após a prisão, o casal iniciou a carreira “solo” que a consagrou como grande artista popular do Brasil, derrubando as fronteiras entre o rock e o pop, com sucessos como ‘Mania de Você’, ‘Chega Mais’, ‘Doce Vampiro’, ‘Lança Perfume’ e ‘Flagra’. A dupla emplacou turnês de sucesso, temas de novelas e grandes shows, com o primeiro Rock in Rio, em 1985, e a abertura do primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, dez anos depois.
Em sua biografia, a cantora contou, que depois de vários episódios de internação por abuso de calmantes e álcool, ela estava “limpa” desde 2006. “Estou limpa há 11 anos, desde que minha neta nasceu. Canalizei minha energia e estou achando muito louco esse negócio de ser careta”, contou numa entrevista ao programa ‘Conversa com Bial’ durante o lançamento da sua biografia, em 2017.
Cantora compôs música que cita Curitiba
Curitiba foi citada na música ‘Normal em Curitiba’, de Rita Lee, lançada em 1997. A música veio em uma época na qual a cantora fazia muitos shows em Curitiba. Ela chegou a dizer, em entrevistas, que pensou em se mudar para a capital do Paraná.
Nas redes sociais, a Prefeitura de Curitiba postou uma homenagem à Rita Lee lembrando justamente que a capital paranaense foi tema da obra da roqueira. “Obrigada por tudo, Rita Lee. Sempre teremos ‘mania de você’”, disse a prefeitura, que também postou dois pôsteres de shows de Rita Lee em Curitiba.
A letra de ‘Normal em Curitiba’:
“Saudades da terra
Daquela vidinha boa
Entre um milagre e uma guerra
Quando Deus era brasileiro
E ria-se à toa
Lá no sul do Cruzeiro
Destino desejo
Santo pandemônio
Saudades do Ozônio
Da minha infância querida
Quero o essencial da vida
Quero ser normal em Curitiba
Saudades da terra daquele planeta azulzinho
Entre Vênus e Marte quando arte era puro dinheiro
E o estranho no ninho
Vinha lá do estrangeiro
New York, Paris
É impossível ser feliz
Saudades da Elis
Da minha infância querida
Quero o essencial da vida
Quero ser normal em Curitiba
Renascer de parto natural
Mamar numa doce muxiba
Crescer num país tropical
Supermercado em Carapicuíba
Manter o ciclo menstrual
Noivar, casar com o Giba
Viver de aumento salarial
Campeã de buraco e biriba
Quero o essencial da vida
Quero ser normal em Curitiba