Quando foi anunciada, a sequência de Mary Poppins foi recebida com uma certa desconfiança. Afinal de contas, como despertar a magia do primeiro filme, 54 anos depois, tendo sido o filme dos anos 60 um marco para várias gerações? A verdade é: O Retorno de Mary Poppins não supera o original, em nenhum aspecto (a não ser nos avanços tecnológicos). Mas, de qualquer forma, faz jus à obra de 1964, no que ela tem de mais importante: justamente, essa mesma magia.
No primeiro filme, a Mary Poppins de Julie Andrews era responsável por restabelecer a união entre Mr. Banks (David Tomlinson) e seus filhos, Jane (Karen Dotrice) e Michael (Matthew Garber). Já nesta continuação, Mary (desta vez, sob a interpretação de Emily Blunt) ressurge, anos depois, na vida da mesma família, para tomar conta dos filhos de Michael (Ben Whishaw), e ajudar a família a recuperar a posse de sua casa, por conta de dívidas acumuladas por Michael, após a morte de sua esposa.
A direção de Rob Marshall pouco desperdiça os elementos visuais da narrativa. Fica claro desde o início de que se trata de um filme da Disney. Ao contrário de muitas continuações ou refilmagens que tentam, a todo custo, se desvencilhar da obra original, neste O Retorno de Mary Poppins fica nítido que não há esse interesse por parte dos responsáveis. Até porque, isso seria um erro, em se tratando de uma obra tão marcante.
O elenco, por si só, não fica devendo em nada às atuações do Mary Poppins original. Emily Blunt prova, definitivamente, ser uma das atrizes mais interessantes e versáteis da sua geração, ao construir uma Mary que transita da austeridade para a doçura, sem parecer mecânica ou deslocada. É nítida a entrega de Emily ao papel, de forma que a sua atuação homenageia a própria interpretação de Julie Andrews, fazendo com que os mais saudosistas nem sintam tanta diferença assim, no desenvolvimento da personagem. Um grande acerto de escalação.
Outros dois nomes fortes do elenco são Lin-Manuel Miranda e Meryl Streep. Ele se destaca ao incorporar Jack (acendedor de lampiões e fiel escudeiro de Mary), mesmo quase resvalando no exagero em alguns momentos. Já Meryl , que interpreta Topsy (prima de Mary), brilha em sua pequena aparição. Lamenta-se que, mesmo sendo um dos destaques, a atriz não passe mais do que vinte minutos em cena. É impossível não ficar aguardando a sua volta durante o desenrolar do filme, o que acaba não acontecendo.
Vivendo os irmãos Michael e Jane, Ben Whishaw e Emily Mortimer, por sua vez, dão conta do recado, assim como as crianças que interpretam os três filhos de Michael. Quem sai perdendo é Colin Firth, que representa o grande pecado do filme: vivendo o vilão Willian Weatherall, ele só mostra a que veio no final da película.
Com coreografias e números musicais inspirados (mas que não se sobressaem ao filme original), O Retorno de Mary Poppins só não supera a obra de 1964 por conta de seu roteiro inconstante, o que deixa o filme cansativo em vários momentos. É uma obra esteticamente interessante e com bons momentos, mas que passa longe de ser uma diversão inesquecível, como foi o primeiro Mary Poppins. Contudo, não é a bomba que muitos esperavam ser. Percebe-se que a intenção desta continuação era ser, acima de tudo, uma grande homenagem. E nisso, o filme atinge todas as expectativas.
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