O meio cinematográfico do Paraná foi pego de surpresa na noite do último domingo (17), com a morte de Osval Dias de Siqueira Filho, o Tiomkim. Jornalista, videomaker, produtor de cinema, vídeo e fotografia, ele foi um dos pioneiros da produção audiovisual do Paraná. Estava com 68 anos e morreu em seu apartamento, no Centro de Curitiba.
A morte chamou atenção também por ter sido repentina. Tiomkim estava muito ativo. Há 25 anos, ele produzia o programa ‘Cinemaskope, A Maravilhosa Música do Cinema’, que ia ao ar aos domingos, pela rádio Paraná Educativa. Na véspera de sua morte, o próprio Tiomkim mesmo havia postado em suas redes sociais um fotograma de ‘Eu, Poe’, um mergulho no universo do escritor norte-americano Edgar Allan Poe que ele realizava junto com outro cineasta paranaense, Estevan Silvera. E citou o trabalho do figurinista Ney Souza, do Museu da Moda, e do fotógrafo Aurélio Stanki, autor da imagem. “Mais de 150 anos depois ele está de volta com seus poemas de amor, vingança e paixão. Poemas inéditos nunca traduzidos no Brasil, selecionados por uma das maiores especialistas em literatura americana, Sandra Fischer”, escreveu.
Tiomkim nasceu com o nome de Osval Dias de Siqueira Filho, em 1952, no Rio Grande do Sul. O apelido é uma referência ao maestro ucraniano Dimitri Tiomkim. E foi dado nos tempos da boemia em Porto Alegre; ajudou a diferenciá-lo do pai, que tinha o mesmo nome.
Foi em Curitiba, contudo, que Tiomkim admitiu começar a viver de verdade. Ele veio para a cidade nos anos 80 e começou a se envolver com o cinema, principalmente nas oficinas da Cinemateca e nas atividades com o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Paraná. Produziu inúmeros curtas-metragens, representando o Paraná em festivais nas décadas de 1980 e 1990.
Um dos anos mais produtivos foi 1989, quando Tiomkim foi premiado pelo Salão Curitiba Arte V e conseguiu viajar até Praga (antiga Tchecoslováquia, hoje República Tcheca), onde registrou o fim do Comunismo. Em 1991, foi premiado em Vitória (ES) pelo filme “Cenas de um Sonho Selvagem”, e em 1997 recebeu o prêmio Organização Católica Internacional (OCIC), no Festival do Maranhão, pela obra ‘Rainha de Papel’, sobre Efigênia Rolim, em parceria com Estevan Silvera.
Há 25 anos, Tiomkim produzia o programa ‘Cinemaskope, A Maravilhosa Música do Cinema’, editado por Joaci Santos e com colaboração de Ricardo Klass, que ia ao ar aos domingos, na FM 97.1 Paraná Educativa. Também participou e divulgou todas as edições do Festival de Cinema da Lapa. Mesmo aposentado, nunca abandonou sua paixão pelo cinema. Seu último projeto foi ‘O Fotograma Revisitado’, em que presta homenagem a 20 obras primas do cinema mundial.
Tiomkim conseguiu até ser protagonista de um filme. O documentário ‘Trilha Sonora Para Uma Vida Inquieta’, de Estevan Silveira, conta a trajetória artística de Tiomkim e deve estrear em abril no MIS-PR. O filme, que está em fase de pré-produção, traz a amizade com o jornalista Aramis Millarch, com o cineasta Fernando Severo e com o artista plástico Edilson Viriato, que foram mentores de sua carreira. Traz também a história do programa ‘Cinemaskope’, memórias de cinema e música e a criação de Linda May, uma personagem que Tiomkim idealizou nos anos 90.
Sua saída de cena, ao menos na vida real, foi motivo de centenas de postagens nas redes sociais. Sobraram palavras que elogiavam sua generosidade, sua amizade e principalmente sua grandeza de espírito em meio a um universo com muitos egos inflados. “Tiomkim é das poucas pessoas em Curitiba cujo nome, para mim e para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele, será sempre sinônimo de ‘amor à sétima arte’”, escreveu Marden Machado, também especialista em cinema, que o conhecia desde 1993. “Profundamente consternado com o falecimento do amigo Tiomkim”, disse o professor Hélio Puglieli. “Gratidão por quem abriu as portas da Educativa para nós e assim pudéssemos divulgar nosso trabalho, reconhecimento. Para Tiomkim, nossa aclamação, nosso aplauso com grande aprovação de seu público. Palmas como saudação para quem alcançou seu grande triunfo: viveu e foi feliz”, postou Ricardo Klass, com quem o produtor colaborava no ‘Cinemascope’. Infelizmente, chegou a hora de baixar a cortina e subirem os créditos finais.