Mônica Salmaso, que acompanha Chico Buarque na nova turnê: “Brinco que é um momento ‘Cinderela’” (Leo Aversa)

Chico Buarque está de volta e renova as esperanças de um Brasil melhor revisitando em 33 canções, mais de meio século de sua obra no show ‘Que tal um samba?’ que estreou no início deste mês em João Pessoa, passou por Natal e neste fim de semana chega a Curitiba – terceira cidade da turnê – para três apresentações no Guairão. Os ingressos estão esgotados. Chico não estará só. Para essa celebração musical, ele convidou a cantora Mônica Salmaso para dividir o palco com ele e sua banda formada pelos músicos que o acompanham há alguns anos. O maestro Luiz Cláudio Ramos (Violão, Guitarra, direção musical e arranjos), João Rebouças (Piano), Jorge Helder (Baixo acústico e elétrico), Jurim Moreira (Bateria), Chico Batera (Percussão), Bia Paes Leme (Teclados e vocais) e Marcelo Bernardes (Sopros). O resultado é espetacular e certamente vai encantar o público curitibano.
O ‘Bem Paraná’ conversou com Mônica Salmaso que, em suas palavras, é “uma cantora não se cabendo de felicidade”, para ela contar um pouco mais sobre o show que será apresentado na capital paranaense.

Bem Paraná — Chico Buarque fez parte de sua formação musical. Em 2004 você apresenta um show com repertório dele, em 2006 ele te convida para gravar ‘Imagina’ no CD Carioca, e, finalmente, em 2007 você lança um disco só com músicas do Chico. Em algum momento você pensou que iria dividir o palco com ele como convidada de uma turnê?
Mônica Salmaso —
Nunca imaginei, jamais sonhei, nem sob alucinações! (risos) O Chico é um dos meus maiores heróis. Devo à sua música, mais do que a minha formação musical, parte importante da minha formação emocional porque cresci escutando os discos dele que existiam na minha casa; ouvia infinitas vezes músicas que nem tinha capacidade e repertório para entender do que falavam, mas compunham já um repertório de emoções e de afetos.
BP — Como surgiu o convite?
MS —
Acredito que o convite nasceu do vídeo que ele topou fazer comigo para o projeto Ô DE CASAS. Ali a gente se divertiu, ele confiou e gostou da brincadeira. Nos falamos algumas vezes (eu enviava para ele links de vídeos com músicas dele sempre que aconteciam nos encontros). Aquele momento da pandemia trouxe muitas dores, muitas aflições, muitas perdas, mas trouxe também importantes aprendizados, momentos de linda humanidade e presentes gigantes como este.
BP — E na hora de montar o repertório? Houve uma troca de figurinhas ou o Chico chega com ele pronto?
MS —
Antes mesmo da turnê estar certa, de que aconteceria de fato, a gente trocou alguns e-mails-figurinhas com levantamento de ideias, tons comuns, sem compromisso definitivo, somente ideias. Quando a turnê ficou decidida, em relação à minha parte de abertura, (meu momento solo), ele me deu liberdade absoluta. Foi gentil a ponto de dizer apenas pra saber o que eu cantaria para que ele não escolhesse repetido (Risos). Eu fiz uma proposta, mostrei pra ele, ele gostou. Então ele ficou trabalhando sozinho um tempo e trouxe o desenho desde a entrada dele até o final definido. Me perguntou algumas coisas sobre as músicas que a gente faz em dueto, mas a definição veio dele linda e irretocável.
BP — Você participa em seis números solo e divide com o Chico sete momentos emblemáticos – em duetos que trazem a memória afetiva de Miucha (‘Maninha’/ ‘João e Maria’), do encontro com a Bethânia (‘Noite dos Mascarados’/ ‘Sem Fantasia’)… Qual é a sensação de estar ao lado do Chico nessa hora?
MS —
Brinco que é um momento ‘Cinderela’. Às vezes, assistindo ao Chico no palco, eu me sinto uma câmera filmando um especial (daqueles que eu vi tantas vezes) e eu estou no sofá da sala assistindo. Mas aí eu olho pra baixo e vejo meus sapatos (Risos). ‘Sou eu que estou aqui!’. Isto significa muitas coisas. Talvez a maior delas seja a sensação de que se estou ali, é porque fiz uma estrada de escolhas certas e condizentes com o que eu sou e acredito.
BP — O repertório da turnê ‘Que tal um samba?’ faz um passeio por mais de meio século da obra de Chico. Amor, política, alma feminina, crônica social… há alguma caraterística que você considere mais marcante nesse show?
MS —
Eu disse ao Chico quando começou a ideia da turnê que este é um momento muito importante e peculiar. Estamos saindo de uma experiência de Guerra (é como eu sinto o deslocamento provocado pela pandemia) e, no Brasil, pessimamente coroado por uma política desumana e desastrosa. Esta turnê tem uma função de nos trazer de volta para casa. Para uma identidade atropelada pelos últimos acontecimentos. É uma apoteose de afeto e de identidade. Essa é a característica mais importante deste show, na minha opinião. E foi exatamente o que sentimos nos shows feitos até agora em João Pessoa e em Natal.
BP — Por falar nisso, a turnê começou em João Pessoa, passou por Natal e agora chega a Curitiba. O que o público pode esperar do show?
MS —
Beleza, identidade, amor, denúncia poética, inteligência artística, integridade e verdade… E uma cantora não se cabendo de felicidade.

Repertório do show

  1. Todos juntos (Luís Enríquez Bacalov e Sergio Bardotti em versão de Chico Buarque – Mônica Salmaso
  2. Mar e lua (Chico Buarque) – Mônica Salmaso
  3. Passaredo (Francis Hime e Chico Buarque) – Mônica Salmaso
  4. Bom tempo (Chico Buarque) – Mônica Salmaso
  5. Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque) – Mônica Salmaso
  6. Paratodos (Chico Buarque) – Mônica Salmaso
  7. Velho Francisco (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  8. Sinhá (João Bosco e Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  9. Sem fantasia (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  10. Biscate (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  11. Imagina (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  12. Choro bandido (Edu Lobo e Chico Buarque) – Chico Buarque
  13. Desalento (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) – Chico Buarque
  14. Sob medida (Chico Buarque) – Chico Buarque
  15. Nina (Chico Buarque) – Chico Buarque
  16. Blues pra Bia (Chico Buarque) – Chico Buarque
  17. Samba do grande amor (Chico Buarque) – Chico Buarque
  18. Injuriado (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  19. Tipo um baião (Chico Buarque) – Chico Buarque
  20. As minhas meninas (Chico Buarque) – Chico Buarque
  21. Uma canção desnaturada (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  22. Morro Dois Irmãos (Chico Buarque) – Chico Buarque
  23. Futuros amantes (Chico Buarque) – Chico Buarque
  24. Assentamento (Chico Buarque) – Chico Buarque
  25. Bancarrota blues (Edu Lobo e Chico Buarque) – Chico Buarque
  26. Tua cantiga (Cristovão Bastos e Chico Buarque) – Chico Buarque
  27. Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque) – Chico Buarque
  28. O meu guri (Chico Buarque) – Chico Buarque
  29. As caravanas (Chico Buarque) com citação de Deus lhe pague (Chico Buarque) – Chico Buarque
  30. Que tal um samba? (Chico Buarque) / Samba da minha terra (Dorival Caymmi) / Samba da benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
    Bis:
  31. Maninha (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  32. Noite dos mascarados (Chico Buarque) – Chico Buarque e Mônica Salmaso
  33. João e Maria (Chico Buarque e Sivuca) – Chico Buarque e Mônica Salmaso