A volta do busto do professor Flávio Suplicy de Larcerda, braço fundamental da ditadura dentro da universidade, no jardim da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem causado revolta de estudantes e professores nas redes sociais. Eles alegam que o busto retornou ao local na ‘surdina’  durante a pandemia e prometem protestar contra o retorno. A UFPR, no entanto, alega, que o retorno foi definido em 2017, em reunião do Conselho Universitário (COUN) em 25 de maio de 2017.

Na reunião, com a presença do convidado especial para esta sessão, membro da Comissão Estadual da Verdade, o advogado Daniel Godoy, aprovou após amplo e democrático debate, por unanimidade de votos, o parecer elaborado pela professora-doutora da UFPR, Vera Karam de Chueiri (também integrante da Comissão Estadual da Verdade) que propôs a criação do Museu do Percurso e busca solucionar, por meio de consenso construído no COUN, o impasse sobre o busto do ex-reitor Flavio Suplicy de Lacerda. A decisão encerrou, pelo processo democrático e pelo diálogo, uma polêmica que persistia há anos e que dividiu a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Paraná. O Museu do Percurso, sugerido pela Comissão da Verdade, funciona em espaços da UFPR e propõe confrontar a história sem ocultar, fraturar ou dissimular os fatos, mas contextualizar e elucidar o passado, os atores e o patrimônio histórico e artístico tombado da UFPR. São quatro marcos já instalados. O primeiro é o Edifício José Munhoz de Mello (a antiga sede da Polícia Federal, na Rua Ubaldino do Amaral, marcada por atos duros de repressão do regime militar). O segundo, o busto do professor Flavio Suplicy de Lacerda. O terceiro será o Edifício D. Pedro II (ao lado do prédio da Reitoria), onde foi instalado um marco lembrando o histórico cerco promovido pelos estudantes em protesto contra a ditadura, em 1968. E o quarto é um busto homenageando o advogado e ex-professor da UFPR, cassado pela ditadura militar em 1964, José Rodrigues Vieira Netto, instalado no prédio histórico da UFPR, na praça santos Andrade.

Em 15 maio de 1968, o busto foi derrubado pelo movimento estudantil, em sinal de resistência às medidas excepcionais que o governo militar vinha tomando. A peça foi recolocada anos depois, mas voltou a ser derrubada em 1º de abril de 2014, em um ato simbólico definido como “descomemoração” do golpe civil-militar de 1964. 

De acordo com a UFPR, o documento elaborado pela Comissão, disponível para acesso no QR CODE deste busto, coloca evidente a dimensão e contextos históricos, do ex-reitor Flávio Suplicy de Lacerda que, após ser reitor da UFPR, aceitou o convite e assumiu como Ministro da Educação, de 1964 a 1966, durante o mandato do primeiro presidente do período da Ditadura Militar, o governo de Humberto de Alencar Castello Branco.

A Comissão ainda destacou que “após amplo e acirrado debate, o busto foi reconstituído e recolocado em seu local original por decisão do Conselho Universitário (Resolução 07/17-COUN, de 25.05.2017), como documento histórico e artístico que de fato ele é. Independente dos juízos de valor sobre a persona representada, este ato demonstra a preocupação da UFPR e da sua comunidade acadêmica em preservar sua história a partir do entendimento de que um monumento histórico consiste num evento circunscrito ao seu tempo e espaço. Tal medida, é preciso registrar aqui, não expressa um ato de memória desinteressada ou acrítica. Muito pelo contrário, ele respeita esta relação peculiar com o passado, sendo passível de reapropriações e releituras. Por esses motivos, o busto preservou as marcas das manifestações passadas e retornou ao seu lugar como signo da liberdade de expressão e de tolerância nas relações humanas no ambiente acadêmico da UFPR”.