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Reprodução/Instagram @haonethinar

Ser escolhida pela autora de novelas Rosane Svartman transformou a vida da paulistana Haonê Thinar, 33 anos. Foi ela quem lhe deu o primeiro papel na televisão, em Dona de Mim (Globo), onde interpreta Pam — uma mulher divertida, batalhadora e centrada.

Na sinopse da novela, aparece o fato de que a personagem, assim como a atriz, perdeu uma das pernas na infância. Mas essa não é a questão central da trama. “Sempre disse para minha mãe que só aceitaria um trabalho em que a amputação não fosse determinante para a personagem. Esse papel foi tudo o que sempre sonhei, porque não reforça a deficiência”, afirma Haonê.

Para a atriz, Pam é a concretização de um desejo antigo: “Ela é uma mulher comum, que trabalha, se relaciona, tem amigos, se frustra, se diverte. Exatamente como eu sempre quis mostrar.”

O impacto do papel foi além da visibilidade profissional: Haonê também se tornou referência. “Recebi mensagens emocionantes. Uma mãe me contou que a filha, em processo de amputação por causa de um tumor, ficou maravilhada ao me ver na TV e se sentiu representada. Isso me marcou muito”, diz.

A amputação aconteceu quando Haonê tinha 9 anos, após o diagnóstico de um câncer maligno. Havia a possibilidade de manter a perna, mas o membro não cresceria normalmente. “Minha mãe sempre me preparou para cada etapa: que eu passaria mal, teria mudanças de humor, perderia o cabelo. Então, decidi pela amputação e que isso não impediria meu sonho de ser artista. Foi a melhor escolha”, recorda.

O período após a cirurgia trouxe choque e bullying na escola, o que a fez interromper temporariamente os estudos. Ainda assim, ela acredita que a experiência a fez amadurecer cedo. “Não tenho uma boa relação com meu pai, mas ele me disse algo que guardei: se eu não me aceitasse, ninguém me aceitaria. Então, aprendi a me aceitar de dentro para fora. Hoje não uso prótese, porque sinto que me esconde. Minha personalidade é parte disso.”

Desde a adolescência, Haonê sempre buscou independência. Foi modelo, trabalhou com recursos humanos, atuou em festas de Halloween caracterizada como zumbi, desfilou como passista e praticou capoeira.

A virada para a atuação na TV começou com a peça Meu Corpo Está Aqui, apresentada no Rio de Janeiro, onde conheceu Rosane Svartman. De lá para cá, entrou no elenco da Globo e gravou o filme 90 Decibéis, previsto para estrear este mês.

Mãe de Lavínia, de poucos meses, e de Felipe Gabriel, de 6 anos, Haonê concilia maternidade e carreira. “Cheguei ao Rio com a bebê de 15 dias, ainda em recuperação da cesariana. Foi puxado, mas meu marido me dá todo o suporte. Sempre que posso, corro para ficar com eles, mas não quero mais parar de atuar”, afirma.

Agora, ela já planeja o próximo passo: montar um monólogo sobre sua trajetória. “Estou estudando essa possibilidade com diretores e amigos para buscar patrocínio. Tenho muita coisa para contar”, projeta.