
Jacira Roque de Oliveira, conhecida como Dona Jacira, morreu nesta segunda-feira (28), aos 60 anos, em São Paulo. Mãe do rapper Emicida e do empresário e cantor Evandro Fióti, ela estava hospitalizada na capital paulista. A causa da morte não foi divulgada, e a informação foi confirmada por Fióti à reportagem.
Dona Jacira convivia com o lúpus e fazia hemodiálise há mais de 25 anos. Entre 2021 e 2023, foi colunista do UOL, onde compartilhou reflexões sobre ancestralidade, espiritualidade, política e cultura negra.
Além de Emicida e Fióti, ela também era mãe de Kátia e Katiane. Conquistou primeiro o público dos filhos e, depois, sua própria audiência, sempre se definindo como uma “detentora de saberes e fazeres”. Nascida e criada na zona norte de São Paulo, Dona Jacira teve uma trajetória marcada por violência na infância, casamento precoce, perda do marido e anos de luta contra a pobreza.
“Minha mãe foi empregada doméstica durante anos (…) Ela não podia comer na mesma mesa que as pessoas, usar os mesmos talheres e nem podia comer a mesma comida”, contou Emicida em uma participação no programa Papo de Segunda, do GNT.
Foi já na maturidade que Dona Jacira mergulhou na arte, encontrando na criação artística e na escrita um caminho de cura e expressão. Suas obras resgatam memórias afetivas e saberes ancestrais, celebrando a cultura negra brasileira e a oralidade como herança viva.
Em abril deste ano, ela se manifestou publicamente sobre a ruptura profissional entre os filhos, após o anúncio do fim da parceria entre Emicida e Fióti na gestão da Laboratório Fantasma — empresa que os dois fundaram juntos em 2009. Em um texto publicado em seu Instagram, Dona Jacira defendeu Fióti:
“Qualquer objetivo é fraco para qualificar a importância da tradição oral, nas civilizações de matriz africana. Nelas, é pela palavra falada que se transmite a tradição, a soma de conhecimento sobre a natureza e a vida. Todavia, a mesma palavra, usada de má fé, pode destruir um império. A palavra maldita calou fundo no coração da minha família. E no coração dos nossos homens bons. Sem chance de defesa, fizeram-nos réu. Falo em nome das mulheres que estão à frente da Lab desde quando ninguém via possibilidade. Fioti, sua dor é nossa dor”, escreveu.
Dona Jacira deixa um legado de resistência, arte e sabedoria popular — e uma história profundamente entrelaçada com a luta e a criação cultural negra no Brasil.