Espetáculos Mostras

Boa programação nacional e estrangeira

Como vem ocorrendo com frequência nos festivais de artes cênicas brasileiros, a programação nacional se equipara à estrangeira sem deixar a desejar

Bem Paraná

Como vem ocorrendo com frequência nos festivais de artes cênicas brasileiros, a programação nacional se equipara à estrangeira sem deixar a desejar. Isso vale, por exemplo, para os espetáculos paulistanos que abrem a mostra, A Noite dos Palhaços Mudos e Rainha(s), já bastante comentados, e premiados, em suas temporadas de origem e em participações em mostras. No primeiro, Domingos Montagner e Fernando Sampaio inserem a clássica dupla de palhaços circenses, o sabido e o ingênuo, numa trama policial, com atmosfera de humor negro, ao recriar na linguagem teatral uma historinha em quadrinhos de Laerte. No segundo, Georgette Fadel e Isabel Teixeira, sob direção de Cibele Forjaz, incluem suas vidas de atrizes na peça original de Schiller, Mary Stuart, para recriá-la numa encenação contemporânea e para lá de autoral.

Não raro, programadores de festivais fazem concessões para ter na programação montagens de sua cidade, ou pelo menos da região. Pois um dos grandes espetáculos desta 41ª edição sem dúvida é Inveja dos Anjos, do grupo Armazém, que embora radicado no Rio, foi fundado em Londrina, e ainda sediado ali ganhou repercussão nacional. Tendo como ponto de partida um mote aparentemente simples – um escritor nunca publicado, à beira de desistir do ofício, propõe a duas amigas o ritual de colocar todas as mágoas no papel, depois queimá-las – o grupo constrói um espetáculo que transcende época e geografia.

Sutilmente, o espectador se dá conta que as histórias em cena poderiam ser outras, até as suas, e não faria diferença. A ideia de cada um de nós carrega uma espécie de memória ancestral, e dela não se livra, ou seja, o resgate da ideia de vínculo coletivo, é o que fica ao fim desse espetáculo de forte impacto visual e delicadeza temática. Sem dúvida uma criação madura do diretor Paulo de Moraes e dos atores de seu grupo Armazém.

E dois atores da capital do Paraná, a cidade de Curitiba, são os criadores de uma das atrações sem dúvida imperdíveis da mostra: Tropeço. Apenas com as suas mãos, os atores Dico Ferreira e Katiane Negrão dão vida a duas velhinhas que em apenas 50 minutos conseguem invariavelmente arrancar risos e lágrimas da plateia. Mais uma vez é a poesia do cotidiano que vem à tona. Em pequenos gestos, como bordar um presente de aniversário ou resmungar pelo fato de a outra cismar de cantar justamente quando se quer silêncio para ler um livro, um afeto vai sendo construído. E cortante pode ser a dor de perdê-lo. Um trabalho original e primoroso tanto na técnica utilizada como na sensibilidade do tratamento temático.

Além de possuir o mais longevo festival internacional de artes cênicas, a cidade abriga ainda uma companhia de dança nacionalmente reconhecida: o Ballet de Londrina. Nada mais natural, e desejável, que participe da mostra, o que fará com o espetáculo Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças. Há ainda espetáculos de outros Estados, como Brasília e Bahia, além de Rio e São Paulo. Os franceses, mestres em teatro de rua, prometem mobilizar a cidade com Passage Désemboîté, da Cie. Les Apostrophés, do qual se pode conferir divertidas imagens no YouTube. Há ainda montagens híbridas, teatro de sombras e bonecos, como o francês Le Jeune Prince et la Vérité, do Studio Théâtre de Stains.