De Verdade não é uma produção da companhia, mas conta com a experiência técnica do grupo curitibano. O projeto é de Kika Kalache e Guilherme Piva, atores cariocas que dividem o palco com o músico Antonio Saraiva, e conta com o trabalho da iluminadora Nadja Naira e do cenógrafo Fernando Marés, ambos da companhia brasileira de teatro – que participa este ano do Fringe na mostra Na companhia de…, da qual assina também a curadoria.
O projeto é uma adaptação do livro homônimo do romancista húngaro Sándor Márai, que o escreveu em dois momentos – no final dos anos 40, depois da Grande Guerra e no final dos anos 70 e começo dos 80. A peça é uma tentativa de diálogo sob a perspectiva teatral. Não é uma adaptação no sentido estrito da palavra, que normalmente significa transformar em diálogo o que é narrativa. Neste sentido, a peça não é uma adaptação, mas um diálogo com o livro,esclarece o diretor, acostumado a trabalhar com textos originais e explorando sua relação com a literatura.
No entanto, desta vez a adaptação não é sua. E este é o desafio, diz. É a primeira vez que trabalho sob a perspectiva de uma dramaturgia que passa por mim, mas lido também com o material trabalhado por outros, explica. Para Abreu, trazer os atores também para o universo da adaptação, talvez tenha sido sua maior intervenção no projeto. Isso muda tudo nos princípios criativos da peça. E o fato de eu não assinar a adaptação estabelece uma dinâmica que cria responsabilidades minhas com o que foi feito pelos demais envolvidos. E essa relação é muito interessante, pondera.
O romance conta a história de um triângulo amoroso que acontece na Budapeste. Ilonka, a esposa, descreve com amargura, seu casamento com Peter; um amor não correspondido apesar de todos os esforços. Com a descoberta de que o marido guardara intacta a paixão juvenil e com o vazio causado pela morte prematura do único filho do casal, precipita-se o fim anunciado da relação.
No outro, lado, Peter, o marido, é filho único de uma família burguesa e vive alienado do mundo. Guarda na forma de uma fita lilás, a memória de um flerte com Judit, empregada da casa de seus pais que desafiara sua condição de amante e patrão. Ao divorciar-se de Ilonka,ele casa-se com Judit.
Um dado importante em De Verdade, aponta Abreu, é a dinâmica entre a música, a narrativa e as cenas. A relação intrínseca é muito forte e a cenografia também tenta criar um espaço que seja suporte para múltiplas linguagens. O cenário não é ilustrativo, portanto, é base, explica. Ele também serve de fundo, porque a encenação lida muito com conceitos de profundidade, proximidade e distanciamento. Elementos que eu pesquiso e que se manifestam neste trabalho. São obsessões criativas, tentativas de linguagens que venho refinando, observa o diretor. É uma história que envolve passagem de tempo, finitude, amor, reencontro, classes sociais e suas diferenças. A questão principal é o comportamento dos personagens. E como ser se articula essa história, completa, sobre o projeto iniciado em 2011.
Para Abreu, que já participou várias vezes do Festival de Teatro de Curitiba, estrear no evento é quase uma pré-estreia. É um festival que tem essa perspectiva de reunir ao redor do teatro possibilidades novas. E primeira vez é sempre pré-estreia. Isso não significa que o público verá um ensaio. Terá tudo que uma estreia, mas o encontro com o público acontece neste espírito fundamental do momento que se começa a testar um espetáculo, pondera ele, que fará os últimos ensaios já em Curitiba para deixar tudo pronto para as apresentações que acontecem no Guairinha.
Serviço
De Verdade
Drama | Curitiba-PR e Rio de Janeiro-PR | Guairinha
28 e 29 de março às 21h | R$25 e R$50
ESTREIA NACIONAL