A Processo Multiartes estréia no próximo domingo “Ave Maria não Morro – Uma Opereta Experimentosa de Chuveiro”. Parece confuso?
A ideia é essa mesmo. Pensar de forma processual (o nome do grupo já diz isso), subvertendo e mesclando gêneros e linguagens, é a marca registrada do grupo que experimenta, então, o inusitado encontro entre o teatro-físico, a fala e o canto, nessa primeira investigação na linguagem de opereta contemporânea.
O pano de fundo de “Ave Maria não Morro” são as histórias do livro [Cancha 2] – Cantigas para Perverter Juvenis, de Adriano Esturilho que também dirige e assina o roteiro da montagem.
Assim como no livro, a peça busca dialogar com a adolescência indo no seu cerne: como a própria adolescência, a peça é polissêmica, por vezes confusa e ruidoza. E como a própria adolescência, a maior parte desses momentos só são apreendidos depois de terminados.
Na sua primeira parte, o roteiro adapta o conto “estadual” para um formato que mescla canto e corpo.
Numa segunda linha, outros contos do livro são construídos dialeticamente com estruturas corporais e musicais que procuram não ilustrar o conto original, mas sim propor uma construção complementar de significantes, mantendo uma estrutura de narraturgia.
A temática da aldeia, sempre presente no trabalho de Esturilho, dessa vez ganha lugar em canções populares que são lidas (causando um interessante extranhamento e um novo olhar do espectador sobre essas conhecidas canções).
As citações de outros artistas – como Jean Claude Carrier, Beckett, Villa Lobos, João Gilberto, Jan Fabre – estão presentes para se discutir um lugar possível ou impossível para a ópera contemporânea na realidade do público local.
O formato de criação musical e do roteiro foge do tradicional. O trabalho do compositor e diretor musical Jorge Falcón mesclou suas pesquisas em música contemporânea e momentos que remetem a um clima de tribo, de aldeia. No lugar de uma orquestra, temos guitaras, saxofone, percussão e vibrafone, muitas vezes com espaço para a improvisação e diálogo direto com o trabalho dos atores.
Nesse caminho, ao invés de um libreto e de uma composição musical previamente fechados, músicos e elenco participaram do processo de criação durante os ensaios a partir dos direcionamentos de Esturilho e Falcón. Para tal, a peça reúne artistas-criadores com diferentes e divergentes experiências, seja em canto, em teatro ou em dança, e arrisca ao explorar o potencial vocal dos não-cantores, a maioria do elenco.
Por fim, as pesquisa do grupo na área de cinema e vídeo estão presentes em projeções de trechos de contos do livro, de reportagens jornalísticas (que trazem momentos de documentário) e em cenas de vídeo em tempo real.
“Ave Maria não Morro”, que é realizada através do prêmio Myrian Muniz (Funarte) e da Lei Rouanet, estará em cartaz a partir do dia 22, no TEUNI, de terça a domingo sempre Às 21 h e sempre com Entrada Franca.
Essa é outra política adotada pelo grupo, que acredita que os espetáculos subsiados com recursos público devem ser oferecidos gratuitamente à população, que, segundo o grupo, “já pagou o seu ingresso quando pagou os seus impostos
Serviço:
“Ave Maria não Morro – Uma Opereta Experimentosa de Chuveiro”
Local: TEUNI – Praça Santos Andrade, UFPR, 2º andar.
Datas: De 22 de Novembro a 11 de Dezembro, de terça a domingo.
Apresentações gratuitas