O drama humano me interessa. Resume o premiado ator Leandro Daniel Colombo que faz sua estreia na direção teatral com a montagem de A Falsa Suicida, da autora catalã Angélica Liddell. A peça será encenada a partir da próxima quinta-feira (07), no Espaço Cênico.
A trama, que explicita a relação de dois personagens Horácio (Luiz Bertazzo) e Ofélia (Ana Clara Fischer), tem como um dos temas centrais a pertinência da sobrevivência no mundo contemporâneo.
A história gira em torno de um casal. Ele, Horácio, irremediavelmente aleijado quando tenta evitar a queda de uma suicida, encontra a pessoa que caiu sobre ele, Ofélia, como streaper numa cabine de peep show.
A partir daí a começa discussão sobre pertinência da sobrevivência. Leandro Daniel Colombo conta que A Falsa Suicida trata do universo desses sobreviventes. Isso é, pessoas que estão inseridas numa sociedade e não são aceitas por ela. São invisíveis e relegadas a ponto de ter que partir por conta própria por não serem aceitas no meio no qual deveriam ser todos iguais comenta.
Para o diretor, os personagens buscam deslumbrar a possibilidade de ser um ser social. Na peça uma mulher – aparentemente na tentativa de se suicidar – cai sobre um homem. Os dois sobrevivem. E então acompanhamos o drama dessa existência torta. Não há o poder de escolha sobre o que você vai ser na sociedade. A discussão que me interessa é sempre o drama humano. Eu não consigo pensar em nada estético que não esteja ligado ao sentimento humano.
Há, ainda, um paralelo do texto com o teatro. A autora Angélica Liddell propõe um jogo shakesperiano. Quando ela batiza seus personagens com o nome de Ofélia e do Horácio – que não são protagonistas na tragédia de Hamlet – eles ganham voz e importância, mas as palavras surgem num momento de destruição. Isso é uma ironia do espetáculo, comenta Colombo.
Assim, a trama de A Falsa Suicida tem luz e trevas o tempo todo. Horácio é movido por inveja, ódio, amargura… Para ele o outro é apenas uma obsessão para justificar a sua tragédia. A tentativa de suicídio dela tem que ter um motivo nobre. E quando ele a encontra, algo muda em seus sentimentos.
Quanto à Ofélia, ela acha que está iluminada e não está. A personagem acredita que não vendo o outro conseguiria se esconder dos problemas que tem. E quando finalmente se ilumina ,entende que não tem mais o que fazer aqui. A pretensão do amor acontece… mas a autora arranca isso deles. Essa tragédia é shakesperiana, no sentido clássico, compara o diretor.
A Falsa Suicida marca a estreia do ator Leandro Daniel Colombo como diretor. Ele conta que a escolha do texto vem de uma identificação prévia que teve em 2005 quando viu pela primeira vez a montagem da peça A Falsa Suicida. Anos depois reencontro a atriz Ana Clara Fischer e resolvemos montar a peça. Quando ela me convidou para dirigir aceitei, pois há algum tempo já pensava em ter a experiência de direção.
Depois de dezesseis anos atuando no palco, a primeira experiência na direção revelou para Leandro Daniel Colombo que esse é um trabalho solitário. Tem coisas que você propõe para um grupo de pessoas e que eles vão comprar. E a partir dessa aceitação você tem que dar conta da ideia proposta. Ainda mais num texto de teatro que vem de uma autora consagrada na Europa.
Mas, por outro lado, quis montar um espetáculo no qual possa dar autonomia verdadeira para o ator. Criar alguma coisa a partir da visão que ele tem sobre o trabalho. Acho que é uma forma de colocar em prática um pouco dessa visão crítica e dos conceitos estéticos que vamos adquirindo na profissão, finaliza.
Serviço:
Local: Espaço Cênico
Endereço: Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305 – São Francisco
Data e horário: De 07 de junho a 08 de julho de 2012 (quinta-feira a domingo), às 20h
Preço: A partir de R$ 5,00