Gargólios marca a volta de Gerald Thomas ao Festival de Teatro de Curitiba

O ex-baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones, assina a trilha sonora

Redação Bem Paraná

A peça Gargólios, que a London Dry Opera apresenta no 21.º Festival de Teatro de Curitiba, é completamente diferente de Throats, espetáculo que lhe deu origem e que estreou em Londres. O diretor Gerald Thomas explicou na coletiva de imprensa desta manhã (31) que praticamente não sobrou nada do texto original. Não sei por que, mas a peça não me agradou. Na verdade, não agradou  a ninguém, mas me colocou um desafio. E como eu sabia que viríamos para São Paulo, sabia que tinha que mudar e mudei tudo, conta o diretor.
 
Assim, nasceu Gargólios, peça que estreou em São Paulo em 2011 já completamente modificada e que chega ao Festival de Teatro de Curitiba com mais mudanças ainda. Este é jeito de trabalhar de Thomas, criador da brasileira Cia. de Opera Seca – nome que transportou para Londres. Isso para mim é correr riscos, algo que Throats não estava me dando. Hoje ainda posso incluir algo de novo até a noite. Throats foi muito ensaiada e tudo era muito escuro, comenta. Gargólios é solto, mais colorido diz, acrescentando que se sente neste momento saindo da área pessimista.
 
Também em conversa anterior com jornalistas, Thomas comentou que a parceria musical com o ex-baixista do Led Zeppelin, e amigo, John Paul Jones, que assina a trilha sonora ao lado de Thomas, também está contribuindo para tirá-lo de um ambiente mais dark. Acho que estou mais rock’n’roll. Estou até aprendendo a tocar baixo, eu toco baixo na peça, conta.
 
Gargólios é a reconstrução do primeiro espetáculo da London Dry Opera Company, o Throats, que traz em seu cerne o impacto do colapso do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, testemunhado por Thomas, que foi um dos voluntários no resgate. Em cena, questões políticas surgem o tempo todo nas entrelinhas, do mesmo jeito que ele cita acontecimentos ao longo da coletiva de imprensa para exemplificar sua incompreensão diante do mundo.  Adoraria ser um otimista, mas hoje nós jantamos e vemos atrocidades sem parar de comer, enquanto milhões morrem na Síria, contextualiza. Não faz sentido, diz em resposta a uma pergunta: se teria (re)encontrado o sentido do teatro e da arte, depois de  ter anunciado o abandono. As grandes estrelas de hoje são os CEOs, o business tomou conta do que pertencia à arte e existe um excesso de informação em que os assuntos dominantes são religião, raça e preconceito e esportes, esportes, esportes. Isso é no mundo todo, considera.

Isso tudo, as impressões, reflexões e incompreensões dele, estão traduzidos e simbolizados na montagem. Nos escombros e nos super-heróis de Gargólios (impotentes e fazendo psicanálise), que se revelam perdidos e fracassados. “Estamos na geração do iPod, iPad, iPhone e não damos a mínima para o que está acontecendo, quem se salva e quem é morto, como acontece hoje em países do Oriente Médio – violentos apesar de lá ser o berço de nossa civilização.

 Na coletiva Gerald Thomas teve a companhia de Maria de Lima, atriz portuguesa que faz parte do elenco, apontada pelo diretor como uma das motivações para continuar a encenar. Pessoas como ela me fazem ter vontade de fazer teatro. A gente briga muito, mas também faz muito as pazes. Tenho vontade de fazer um monólogo com ela – aliás já estou escrevendo, conta. Ela me desafia e me surpreende. Dou um texto pra ela que vai para o hotel e volta no outro dia com pesquisa feita; você percebe que pensou sobre o que foi dito e veio com uma proposta. Isso me dá vontade de continuar, fala.

 Maria retribui na mesma medida, dando as pistas de como é ser dirigida por Thomas. É um desafio constante, como ir para uma montanha russa de olhos vendados. E isso dá uma forte sensação de liberdade também, porque não existe uma lógica, mas você vai descobrindo e tem que encontrar um sentido, diz ela. Acho que depois de dois anos trabalhando com ele entendi que como desvendar o mundo do Gerald e depois ver para onde ele te guia, completa. Afinal eu, como atriz, sou uma das porta-vozes dele. Tenho que encontrar um caminho dentro do mundo dele para fazer isso.