Estreia nesta sexta-feira (20), o espetáculo A Guerra dos Fanáticos – O Contestado, no Teatro Lala Schneider. O texto, escrito por João Luiz Fiani em linguagem épica, é uma homenagem a um dos mais importantes fatos históricos do país, ocorrido na fronteira entre Paraná e Santa Catarina no início do século passado.
O espetáculo é encenado com músicas executadas ao vivo no palco pelo elenco composto por mais de 30 atores. Entre o elenco estão Rogério Bozza, que encabeça o elenco na pele do Monge José Maria – líder religioso dos caboclos envolvidos no conflito –, e o ator Joel Vieira, que vive o americano Percival Farquhar (papel já vivido na TV por Tony Ramos), dono da empresa construtora da estrada de ferro, que deu origem ao conflito.
Integram também o elenco da produção os atores Guilherme Osty – que vive político Ruy Barbosa, mediador da questão como advogado da empresa de Percival (fato que muitos desconhecem) –, Jader Alves – no papel de Affonso Camargo (vice presidente do Estado do Paraná na época) –, e Marcelo Di Napoli – que dá vida ao Coronel João Gualberto, comandante das forças militares na frente de batalha.
No próximo ano, a Guerra do Contestado completa cem anos, e está se tornando um capítulo injustamente esquecido de nossa história e não podemos nos conformar com isso. Vejo nessa montagem o teatro assumindo o seu papel social de mobilizador da cultura e da memória do povo. Esperamos todos no teatro para não deixarmos morrer essa memória, comenta Fiani.
A Guerra do Contestado – Foi um conflito armado que ocorreu na região Sul do Brasil, entre outubro de 1912 e agosto de 1916, envolvendo cerca de 20 mil camponeses que enfrentaram forças militares dos poderes federal e estadual, numa área de disputa territorial entre os estados do Paraná e Santa Catarina, onde ambos os estados contestavam o direito de posse das terras, sendo essa a origem do nome pelo qual a região e, consequentemente a guerra, ficaram conhecidas: Contestado.
A principal causa da guerra foi uma desapropriação de terras para a construção da estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul que estava sendo realizada por uma empresa norte-americana, com apoio do governo e de coronéis da região. Este fato gerou muito desemprego entre os camponeses, que ficaram sem terras para trabalhar. Nesta época, as regiões mais pobres do Brasil eram terreno fértil para o aparecimento de lideranças religiosas de caráter messiânico e na área do Contestado não foi diferente. Incentivados por um líder religioso (o Monge José Maria), os camponeses iniciaram um movimento de resistência contra as forças militares e governamentais em uma batalha que durou mais de 4 anos, levando à morte mais de 20.000 pessoas em uma das guerras mais violentas de que se tem registro na América Latina.
Os coronéis da região e os governos (federal e estadual) começaram a ficar preocupados com a liderança de José Maria e sua capacidade de atrair os camponeses. O governo passou a acusar o beato de ser um inimigo da República, que tinha como objetivo desestruturar o governo e a ordem da região. Com isso, policiais militares, sob o comando do Cel. João Gualberto, foram enviados para o local, com o objetivo de desarticular o movimento, gerando conflitos armados nos quais mais de dez mil rebeldes, na maioria camponeses, morreram. As baixas do lado das tropas oficiais foram bem menores.
A guerra terminou somente em 1916, quando as tropas oficiais conseguiram prender Adeodato, que era um dos chefes do último reduto de rebeldes da revolta. Ele foi condenado a trinta anos de prisão.
Terminada a Guerra, que somou mais de 20.000 mortos, Paraná e Santa Catarina chegaram a um acordo sobre a questão dos limites e a colonização da região foi intensificada. O desenvolvimento, que aconteceu a passos largos, preserva, contudo, o espírito inconformista e empreendedor do homem do Contestado, que venceu as adversidades de uma região inóspita e conflitante na luta por sua sobrevivência e na busca de seus direitos.
João Luiz Fiani – Ator, autor e diretor comemora seus 30 anos de carreira, com esta montagem épica, que busca trazer de volta à memória de todos esse fato histórico tão importante. Apesar de ter nascido no Paraná, muito cedo minha família voltou a viver no Rio de Janeiro, onde cresci. Mais tarde, voltei a viver no Paraná que me acolheu e me deu todas as oportunidades profissionais, as quais abracei com toda garra e determinação. Então nada mais justo que homenagear essa terra que me recebeu de braços abertos, contando uma página tão importante e significativa de sua história, comenta Fiani que além de autor do texto, é também diretor do espetáculo.
SERVIÇO
Local: Teatro Lala Schneider
Endereço: Rua 13 de maio, 629
Datas e horários: A partir do dia 20 de maio de 2011 (sexta-feira) – de sexta a domingo, às 21h
Preço: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)