O Último Stand-Up transforma personagens da mitologia grega em moradores sem teto de uma São Paulo do futuro, em um verão castigado por uma enchente que matou um milhão de pessoas. No poema original, escrito na década de 30 do século passado, a autora belga atualiza alguns personagens mitológicos. Cabral os trouxe para mais perto ainda, ao situar sua história em uma realidade que os Satyros conhecem de perto. Desde 2000, quando mudou-se para a Praça Roosevelt, a companhia curitibana vem desenvolvendo um trabalho de investigação sobre o cotidiano dos anônimos do centro de São Paulo, adaptando suas histórias para os palcos. O espetáculo O Último Stand-Up dá continuidade a essa pesquisa, ao investigar a vida dos sem-teto.
“O que mais adoro na obra da Marguerite é a beleza de como humanizar os mitos. Essa história do Pátroclo, um dos personagens da peça, está na Ilíada. Ele tinha uma relação com Aquiles. Ambos estão lutando em uma guerra quando Pátroclo é assassinado. A forma como ela conta essa história é deslumbrante. O que me interessa é a humanidade que ela põe nos personagens, que é o que os deixa mais próximos”, comenta. Nesta São Paulo prestes a viver uma nova guerra, está também Pentesiléia, uma amazona presente também na Ilíada e no poema de Marguerite, que fecha o triângulo protagonista. “Eles são artistas de rua, que vivem num assentamento sem teto. Não podem mais ter contato com o sol e por isso vivem de noite e dormem de dia. O enfrentamento se dá quando a polícia chega disposta a tirá-los dali”, situa Ivam Cabral. A direção é de Fabio Mazzoni e dramaturgia de Ivam Cabral, a partir da obra de Marguerite Yourcenar. Nesta quarta (30) e quinta (31) no Teatro Paiol.