Peça traz a vida e a obra da poetisa Ana Cristina Cesar

“Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar”conta com Paulo José na direção e no elenco

Redação Bem Paraná

Baseada na vida e obra da poetisa carioca Ana Cristina Cesar (l952-l983), Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar estreia na Caixa Cultural Curitiba. De 22 a 24 de julho (sexta-feira, sábado e domingo), o público poderá conferir a peça que tem Paulo José na direção e elenco, interpretando ele próprio.

Sua filha, Ana Cristina Kutner, personifica o papel-título na montagem cujo 90% do texto foi extraído de poemas, prosa, cartas e diários da autora de Luvas  de Pelica. O espetáculo apresenta em cena a dicção singular, o vigor e o teor da palavra poética de Ana Cristina Cesar. Através dela, traz à tona sua busca, suas angústias, suas inquietações e expõe seus enigmas.

O projeto foi construído a partir de uma peça escrita em 1996 por Maria Helena Kühner, mas ganhou nova feição dramatúrgica com Walter Daguerre com a introdução no entrecho da breve e pouco amigável convivência de Paulo José com a escritora.

Em 1982, Paulo havia sido incumbido pela Rede Globo de criar um programa que concorresse com o líder de audiência da época na hora da Ave-Maria – o popular O Povo na TV, exibido pela extinta Tupi. Nascia então o Caso Verdade, que dramatizava e exibia em minisséries de uma semana de duração histórias verídicas enviadas pelos telespectadores.

Recém chegada de Essex, Inglaterra, onde recebera com distinção o título de Master of Arts em Teoria e Prática e Tradução Literária, Ana Cristina integrava o Departamento de Análise de Textos da Globo e costumava ser implacável com os roteiros do programa folhetinesco, superficial, simplório (estes eram alguns dos adjetivos que povoavam seus relatórios).  Assim, em pouco tempo, diretor e analista de roteiros tornaram-se, na definição do próprio Paulo José, inimigos quase íntimos.

No mesmo ano, fora já dos quadros da Globo, Ana Cristina lançava A Teus Pés, seu segundo e último livro de poesias. A sofisticação, a visceralidade e a excelência da poesia produzida pela ex-colega deixaram Paulo José, um amante do gênero, simplesmente pasmado. 

Em 29 de outubro de 1983, Ana Cristina punha fim à própria vida, atirando-se do 8º andar pela janela do apartamento de seus pais em Copacabana.  Aos  poucos,  a produção  inédita  da escritora  foi  sendo  editada,  revelando  novos  conteúdos de sua  fina  escrita.  Além de mais prosa, poesia, ensaios, estudos, reflexões sobre o fazer literário, críticas, traduções e correspondências.

Quanto mais penetrava no amplo universo da produção literária de Ana Cristina Cesar, mais Paulo José lastimava o fato de ter passado um ano a um metro de distância dela sem desfrutar do privilégio de conhecê-la melhor. Um Navio no Espaço (…) se apropria desse sentimento e dessa experiência para criar seu arco dramático. Ao rememorar a história que viveu (ou deixou de viver) com Ana Cristina, Paulo José, o personagem, evoca a figura da poetisa para tentar entender a mulher por trás do mito e refaz com ela sua trajetória literária e existencial – dos seis anos de idade, quando tem seus primeiros poemas publicados, aos 31, quando se despede da vida.

Ana Cristina Cesar traduziu, entre outros, os poetas T. S. Eliot, Ezra Pound, Emily Dickinson, Mallarmé, Dylan Thomas, Walt Whitman, Sylvia Plath. O conto Bliss, de Katherine Mansfield, foi o tema de sua tese de mestrado na Universidade de Essex, Inglaterra (1979-1981).

O trabalho de videografismo e animação de Rico e Renato Vilarouca simula de forma estilizada a criação em tempo real de desenhos, manuscritos e originais pela máquina de escrever de Ana Cristina Cesar, trazendo para a cena a presença viva da palavra escrita e a natureza febril do processo criativo da autora.

Na busca do fino equilíbrio entre não produzir interferências nas projeções dos irmãos Vilarouca nem na estética clean do cenário de Mello da Costa, e, ao mesmo tempo, estabelecer um diálogo rico com elas, Kika Lopes trabalha com diferentes tipos de trama, tons extremos de claro e escuro (cru e marinho) e economia de cores e adereços, imprimindo aos figurinos a atemporalidade própria da palavra.

Serviço:

Local: Teatro da Caixa
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro
Data e horário: de 22 a 24 de julho –  sexta e sábado às 21h e domingo às 19h
Preço: R$ 20 e R$ 10 (meia – conforme legislação e correntista CAIXA)