O sucesso foi grande na primeira passagem por Curitiba e a Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo está de volta neste fim de semana com Hermanoteu na Terra de Godah – com direito a sessão extra no sábado. E com piadas novas, garante Jovane Nunes, um dos integrantes, que bateu um papo bem legal com a reportagem, sobre comédia, claro, mas não só. Ele contou também porque o pessoal da companhia decidiu sair do Zorra Total e adiantou sobre os novos projetos: lançamento de Dvd em novembro, sua vontade de fazer uma série de humor e o longa-metragem que eles começam a gravar ano que vem.

Jornal do Estado — Nos últimos anos tá uma febre de espetáculos de humor, o que você acha que atrai tanto o público?
 Nunes — Só tem lado bom nisso. Quando nós nascemos em Brasilia há 14 anos já dizia que era ruim ter um só grupo de humor na cidade. Quanto mais melhor, porque se cria um pool, um movimento que é o que está acontecendo. Quando começamos tinha até aquela camiseta “Vá ao teatro mas não me convide”? A partir do momento e que se cria um aumento de gente interessada em fazer – e assistir – é bom pra todo mundo. A opção de barzinho e cinema agora também tem o teatro. E os bons vão ficando e os que não são tão bons assim vão ficando pra trás, o público  mesmo faz essa selação natural.

Jornal do Estado — Tem aquela coisa de que a vida tá tão pesada que o povo não quer coisa séria, quer mais é rir, nem que seja de si mesmo?
Nunes — Sempre foi assim na história da humanidade. Até a tragédia grega tem momentos cômicos,  e é  pra fugir dessa rudeza da vida. Sempre houve interesse pela comédia, o teatro francês, Moliére são provas disso; Shakespeare tinha humor. Acontece que ficou visto como uma coisa menor, mas ao contrário, considero o comediante superior,  porque fazer rir é um remédio pra alma. O comediante tem uma porção teapeutica e reflexiva. Tanta gente vem falar pra mim que teve uma semana difícil e riu tanto que saiu com a alma leve.

JE — É, mas também tem aquela coisa de dar circo e comida para manter o controle, né?
Nunes — Existe o humor chapa branca, esse humor a gente abomina, tanto que recebemos um monte de processos porque o que nos interessa é aborrecer autoridades, criar casos. Tem uma frase do Chacrinha perfeita: “Não vim para explicar, vim pra confundir”. Nós não viemos para apaziguar, a função do palhaço é botar fogo no circo. Quando o humor não é chapa branca é muito bom até para a democraria. Só na democracia se pode exercitá-lo, senão prendem e matam. O humor chapa branca é aquele que é amigo, não quer ofender ninguém  e pede desculpas. É muito chato.

JE — O Stand up comedy virou uma febre, inclusive em Curitiba que tem alguns representantes.
Nunes — Sim, o Diogo (Portugal), a Katiuscia (Canoro) eles são daí. São muito bons. O stand up virou moda por causa do lance da tv a cabo, porque sempre existiu. Chico Anysio, Mazzaropi, sempre fizeram isso. Não é novidade. O que acontece agora é essa influência do americano que faz muito isso e com a tevê a cabo e internet , que também é nossa grande divulgadora, isso tudo ganhou força.

JE — Mas o que garante a atenção por mais tempo?
Nunes — Estar atualizado. Na épóca em que estudava, percebia que não existia autores de  teatro. Eles tinham sido desaparecidos com o golpe. A televisão se deu bem, a música achou um inimigo e o teatro sumiu. Na minha época não tinha texto para montar e comecei a escrever. E me descobri autor de teatro assim, e  percebi que havia sim, outros, como Mauro Rasi, Falabella, que se juntaram a  irmãos Marx, Trapalhões, Monty Python, como minhas inspirações. Muito disso tudo que estamos falando, esse ressurgimento, tem a ver com isso, com novos autores. Porque a pessoa vai ao teatro e quer que falem de hoje, da vida que ela vive, da sociedade dela, dos seus problemas e reflexões.  E é isso que faz nosso teatro se manter; tanto é que o texto vai mudando. Quem viu a gente em Curitiba ano passado, vai notar a mudança.
 
JE — Como funciaona a Melhores do Mundo?
Nunes — Fazemos tudo junto. Nossos bate- papo são cheios de tiradas que vão se juntando.

JE — Vocês gravam essas “reuniões”?
Nunes — Na cabeça. Anotando: opa, essa ideia é boa. Eu e Vitor, como redatores finais,  organizamos. Mas o texto é criação coletiva, afinal de contas, porque o argumento é coletivo. Vamos falando e observando. O grupo tem este padrão, e esse modelo abre essa possibilidade de ter mais temporadas sem ser o mesmo o tempo todo. O único texto  que não foi mexido é o Joseph klimber.

JE — E televisão?
Nunes  — O grupo todo estava no Zorra Total e saiu, porque  tava difícil manter com espetáculos em diferentes lugares toda semana. Eu resolvi ficar porque me interessa muito escrever para televisão, tenho outros projetos. Quero fazer uma minissérie. Imagine uma minissérie de humor?. Elas sempre são épicas ou trágicas. Gosto dessa ideia. Mas, Os Melhores do Mundo não abriram mão do registro audiovisual. Para isso, temos os DVDs. O que interessa pra nós é mostrar nosso trabalho, o que não é possível na tevê, que tem suas próprias regras e muito chapa branquismo.  Nosso jeito é o Dvd. Acabamos de gravar do  Hermanoteo, que virá cheio de extras, em novembro. E também começamos a pré produção de um longa-metragem com roteiro e tudo,  que vamos filmar ano que vem.

SERVIÇO
O que: Hermanoteo Na Terra da Godah.
Quando : Dia 16 às 19h e 21h30 e 17 às 18h.
Onde: Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300).
Quanto:   R$60 (inteira) e R$30. Informações o público: (41) 3317-3107.