Divulgação – Sandro Moser

Publicar uma biografia não era algo que fazia parte dos planos do ex-jogador Barcímio Sicupura o maior artilheiro da história do Athletico. Contudo, passou a fazer parte dos planos da família do craque. E há muito tempo fazia parte dos planos do jornalista Sandro Moser. Assim, Sicupira perdeu essa, por 2 a 1. Perdeu, não; ganhou. No caso, ganhou uma biografia caprichada. O livro de Moser – ‘Sicupira – vida e gols de um craque chamado Barcímio’ – resgata a trajetória do jogador em quase 400 páginas.

A obra traz desde o nascimento de Sicupira, na Lapa, em 10 de maio de 1944, até a carreira de comentarista esportivo, passando pelos clubes que o craque defendeu. Além disso, tem dois destaques. Um deles é a lista de cada um dos gols marcados por Sicupira nos cinco clubes em que jogou na carreira. Em especial, os 158 gols que anotou durante oito temporadas no Athletico, entre 1968 e 1975. Outro destaque é a coleção de fotos, em tempos nos quais os registros eram raros. Uma das imagens que mais orgulha Sicupira é uma em que ele, aos 18 anos, está perfilado no Botafogo-RJ junto com Garrincha, Gérson, Jairzinho e Zagallo, todos campeões mundiais com a seleção brasileira.

Segundo Moser, a publicação não interessa somente aos torcedores do Athletico. “A passagem pelo Athletico durou 8 anos e foi o momento mais importante da sua carreira e esta proporção está mantida no texto e nas fotos da publicação. Mas o livro busca recriar desde a infância a vida dentro e fora do campo e de alguma forma mostrar as transformações que a cidade, o país e o futebol passaram nas últimas sete décadas”, afirmou. Sobre o livro e o atual cenário da literatura sobre futebol, Moser conversou com o ‘Bem Paraná’.

Bem Paraná – De onde vieram as ideias para o livro?

Sandro Moser – Este livro era uma sonho antigo. Sou um aficionado por biografias, em geral, e por biografias de futebol, em especial. Sempre quis me arriscar a escrevê-las e o nome do Sicupira era o primeiro da minha lista. Aliás, há uns 10 anos, quando eu ainda estava na faculdade, encontrei o Sicupira no Bar do Dante, no Juvevê, e me ofereci para escrever sua história. Ele me disse: “Não quero fazer biografia não. O cara lança na sexta e morre no sábado”. Anos depois, porém, os filhos dele me procuraram pois achavam que era a hora de registrar sua vida extraordinária à posteridade quando ele completava 75 anos. Por sorte, lançamos há mais de 3 meses e estamos todos bem (risos).

Bem Paraná – Sicupira é um ídolo do Athletico, mas há poucos livros sobre ídolos do futebol paranaense. Quais outros jogadores ou ex-jogadores poderiam ganhar biografias?

Moser – O que não faltam são grandes personagens no futebol paranaense. Dá para pensar rapidamente em Caju, Jackson, Krueger, Zé Roberto, Dirceu, o casal 20 Washington e Assis. É possível escrever sobre os estádios, sobre os grandes jogos, sobre os clubes que não existem mais, uma enciclopédia dos grandes jogadores paranaenses, a imprensa esportiva, as torcidas, a evolução dos uniformes, os clubes do interior, os grandes esquadrões como o Furacão de 49 do Athletico. Nunca entendi como não há um grande livro sobre o Coritiba dos anos 1970. O Athletico está prestes a fazer 100 anos e o primeiro título nacional vai completar 20. O livro oficial do Athletico já saiu e eu sei que muita coisa boa deve pintar na área em razão disso. Eu mesmo estou trabalhando em algo que ainda não posso contar.

Bem Paraná – Qual foi a maior dificuldade na produção?

Moser – Eu te digo que o maior desafio em uma biografia é a pesquisa. Você precisa se transportar para um tempo que é não é o teu e isso implica muita coisa. Não basta ler todos os jornais esportivos de todos os dias entre 1959 e 1976 – o que eu fiz – mas é preciso também ler sobre os usos e costumes da época, a cultura e a sociabilidade. Acho que uma biografia só é boa quando consegue articular a figura púbica e privada do biografado, pois só as duas juntas formam o tecido da vida real. É também preciso ter tempo para ouvir o que os episódios e os lugares têm a dizer. Quando o biografado ainda é vivo, é preciso calçar os sapatos do biografado como ensina o historiador Evaldo Cabral. Neste caso, eu calcei as chuteiras do Sicupira, para tentar viver em um tempo que não é o atual e sentir com o sentimento dele. Por fim, é preciso, em nome do rigor, ter em mente que toda lembrança é quebradiça e assim tentar remontar os acontecimentos da melhor forma possível com as fontes documentais.  

Bem Paraná – Como foi feita a distribuição do livro?

Moser – Depois de investigar muitas formas de produzir o livro – cogitamos o crowdfunding, lei de incentivo, apresentar o projeto a editoras especializadas – decidimos, eu e a família, que a empreitada seria toda nossa. Eles me deram a liberdade para montar a equipe da edição que eu queria – e que fez toda a diferença, aliás, o projeto gráfico do Lucio Barbeiro, a revisão do Irineo Netto e André Pugliesi e a supervisão editorial do Téo Souto Maior. Eu me comprometi a sair atrás de patrocínio depois que o livro estava pronto, pois a edição é ambiciosa. O livro tem 370 páginas e o padrão de acabamento é alto. Por sorte, encontramos apoio de empresários amigos da bola e dos livros e, por sorte, houve uma grande mobilização de notáveis atleticanos que se cotizaram e nos apoiaram para que o livro tivesse o padrão que queríamos e que conseguíssemos fazer o lançamento na Pedreira Paulo Leminski. Depois, do livro pronto, montei o esquema de distribuição com vendas online nas redes sociais e em lojas como a Amazon e o Mercado Livre, nas melhores livrarias da cidade e alguns pontos boêmios. Entre erros e acertos, já vendemos mais de 2 mil livros em menos de quatro meses.

Bem Paraná – Por que você acha que há poucos livros sobre o futebol paranaense?

Moser – Há de fato, poucos livros sobre o futebol paranaense. Mas se formos aumentando o zoom da lupa pode-se dizer que há poucos livros de futebol no Brasil, há poucos livros produzidos no Paraná, há cada vez menos leitores e uma grande crise em todo setor no Brasil e no mundo. Choradas essas pitangas, e respondendo a tua pergunta, eu acho que faltava à nossa geração meter a cara. A maior parte dos livros que temos são feitos por uma geração anterior e cabe a nós suprir esta lacuna. Temos pólvora, chumbo e bala, faltava fazer mesmo com todas as adversidades. Tomara que o meu trabalho também inspire outros colegas.