Conversa com filho de Tite reergueu Paquetá e ajudou a torná-lo indispensável

Estadão Conteúdo

Lucas Paquetá era aquele torcedor empolgado, que no período de Copa do Mundo, pintava a rua de sua casa, ajudava na decoração com bandeirinhas verde e amarela e outros acessórios e acordava cedo para assistir aos jogos da seleção brasileira. Hoje, vive o auge de sua carreira e está entre os 26 convocados de Tite e disputará no Catar o seu primeiro Mundial.

“Eu me sinto privilegiado de estar fazendo parte disso porque eu já tive do outro lado, já torci, já pintei rua, já acordei cedo, de madrugada, para ver jogo”, conta o meio-campista, durante bate-papo por intermédio do time da Betway, patrocinador do West Ham, novo rico do futebol inglês que gastou mais de R$ 300 milhões para tirar o jogador do Lyon.

Em meio à escassez de jogadores criativos, Tite encontrou em Paquetá um atleta que executa diferentes tarefas e ser um armador é uma delas. Cria do Flamengo, ele forma parceria bem-sucedida com Neymar, se destacou no ciclo para o Mundial do Catar e se tornou figura indispensável para seleção brasileira com gols, assistências e liberdade para criar. São sete gols em 35 jogos.

Mas, não foi só de brilho a trajetória do atleta de 25 anos até a confirmação de que estaria no Catar. Houve um começo ruim no Milan, críticas por alguns jogos ruins na seleção brasileira e, principalmente, incertezas. Uma pessoa foi fundamental para reerguer o moral de Paquetá e deixá-lo confiante.

“Uma cara que mudou a minha cabeça foi o Matheus (Bachi), filho do Tite. Não tinha feito um bom jogo com a camisa 10, acho que o Neymar não estava. Eu liguei pra minha esposa, para os meus pais e falei: ‘acho que eu não jogo nunca mais na seleção’. Que é a primeira coisa que a gente pensa. Eu desliguei o telefone, ele bateu lá na porta, e falou: “posso conversar com você?’ Acho que nunca contei isso. Aí ele conversou comigo e falou: ‘Cara, a gente confia muito em você, fica tranquilo, não se cobra tanto. Você é um grande jogador, a gente tem certeza disso’.

O que sente às vésperas de jogar a sua primeira Copa do Mundo?
Eu acho que a copa do mundo é sinônimo de felicidade pra gente, de emoção, de união. É quando o povo se encontra, se reúne pra assistir o Brasil jogar, pra comemorar, pra apoiar. Então eu me sinto privilegiado de estar fazendo parte disso e, porque eu já tive do outro lado, já torci, já pintei rua, já acordei cedo, de madrugada, para ver jogo, então eu sei o quanto é importante para todos eles e fico grato também pelo apoio e o carinho deles.

O jogo era no dia seguinte e a gente começava pintando, pendurando bandeirinha, comprando corneta. Então, a gente se preparava realmente para esse show, né, que era a seleção jogar. E no dia seguinte a gente estava lá. Às vezes de madrugava acordava para assistir aos jogos, torcer muito. Não só com as vitórias, mas também com as derrotas, a gente estava lá, apoiando, porque isso faz parte da nossa cultura. O futebol, para o Brasil, é algo único, que a gente se mostra, coloca nossas emoções pra fora, a gente se reúne. Se você não fala com alguém, você volta a falar, porque está ali, vai torcer junto. Então, acho que futebol é sinônimo de união pra gente no Brasil. Então, eu espero que nessa copa a gente possa dar muitas alegrias para o povo brasileiro e comemorar muito.

Qual o momento mais difícil que considera ter passado nesse ciclo na seleção brasileira?

Teve um momento em que eu não estava bem no Milan, mas mesmo assim o professor Tite me devolveu essa confiança, e eu joguei um jogo. Acho que o Neymar não estava, aí eu joguei com a camisa 10 e não fiz um bom jogo. Eu escutei muitas coisas, claro que a gente não vê, acompanhar a rede social, tudo mais, mas você acaba vendo, acaba escutando. Não tem como fugir disso. Isso me machucou muito, machucou minha família. Mas como eu disse, a gente sempre escutou, de cabeça baixa, porque a gente sabe que faz parte. E os jogadores me apoiaram muito, mas acho que um cara assim que mudou a minha cabeça foi o Matheus, filho do Tite. Depois desse jogo, eu liguei pra minha esposa, para os meus pais e falei, acho que eu não jogo nunca mais na seleção, né? Que é a primeira coisa que a gente pensa. Eu desliguei o telefone, ele bateu lá na porta, e falou: “posso conversar com você? Acho que nunca contei isso. Aí ele conversou comigo. Cara, a gente confia muito em você, fica tranquilo, não se cobra tanto. Você é um grande jogador, a gente tem certeza disso.

E faz parte jogar mal, faz parte não ir bem. Você precisa de momentos como esse pra crescer. Enfim, me deu um gatilho ali, sabe? E partir daquele momento ali a minha cabeça virou totalmente. Ele falou sobre me preparar, sobre me concentrar. E eu busquei tudo isso, sabe? Claro que aí depois eu tive um jogo contra a Coreia, logo depois, novamente com a camisa 10, que é uma camisa muito pesada da seleção brasileira. Eu fiz gol, aí aquilo ali já me mudando. E logo em seguida eu voltei pra casa, meu filho nasceu e aí, minha vida foi mudando muito. Comecei a me preparar diferente, comecei a me alimentar diferente, comecei a fazer tudo diferente. E a partir daquela conversa ali, todas as vezes que eu voltei pra seleção, graças a Deus, eu pude ir muito bem e ir conquistando o meu espaço pouco a pouco. Então, acho que o Matheus, filho do Tite, foi um cara que mudou, sim, o meu pensamento. A comissão, no caso, a comissão da seleção. Então, acho que são pessoas como essa que mudam a trajetória de um jogador dentro do futebol. E eu sou muito grato a eles por isso, porque mudou ali na seleção, eu voltei para o clube, mudou minha cabeça. Cheguei no Lyon, já era outro jogador. São coisas assim que eu nunca esqueço.

Quais são seus ídolos no futebol?
Eu sempre me espelhei muito no Kaká, né? Pela história de vida, é claro que por tudo que ele jogou. Porque a nossa história é um pouco parecida, a dificuldade que a gente teve ali na transição até chegar no profissional, de amadurecer. Kaká é um grande jogador, sempre me espelhei muito nele e acho que ele é o meu ídolo assim desde pequeno. E um cara de quem eu sou fã, que eu já falei é o De Bruyne, é um cara que eu admiro muito o futebol dele, a inteligência, a forma de pensar o jogo, de se posicionar. Também é um grande jogador.

E seus treinadores, teve algum que te marcou mais até hoje me sua carreira?
Acho que todos que passaram na minha vida futebolística até agora me acrescentaram alguma coisa do (Reinaldo) Rueda, Zé Ricardo, do professor do West Ham (David Moyes). Acho que o (Maurício) Barbieri assim foi um cara que foi mais amigo que me jogou lá pra cima, na amizade. Eu não olhava ele como um técnico. É claro que eu respeitava muito, mas a confiança que ele me passava, a amizade, a liberdade que a gente tinha para conversar, foi uma coisa única, óbvio, porque o treinador ele se impõe, o Barbieri fazia isso aí também, mas a gente tinha essa relação boa. E em relação ao Dorival foi um outro nível de convivência, era um treinador mais experiente e me dava os caminhos mais simples. Que talvez a minha confiança, eu extrapolava um pouco de tentar uma jogada, de fazer coisas um pouco mais difíceis e aí ele soube me direcionar. ‘Ó, você nesse momento aqui você pode fazer, nesse aqui não’. Acho que isso vai se interligando. E no Milan não foi diferente, taticamente eu cresci muito. Aí eu cheguei um outro jogador no Lyon. E espero que aqui eu possa continuar a minh trajetória que eu vinha fazendo no Lyon, de gols, de assistência e fazer o meu melhor.

Vê muitas diferenças da Premier League em relação às outras ligas?
A intensidade é algo diferente, pelo menos da liga italiana em que eu joguei, e da liga francesa. É um pouco parecida em relação à força com a liga francesa, mas a intensidade, sem dúvida, é… o ritmo do jogo é muito intenso, e isso pesou um pouco, né? Na minha chegada, mesmo nos treinos, bem pesados, mas acredito que eu estou me adaptando cada vez mais e a cada jogo eu estou sentindo uma evolução e espero me adaptar o quanto antes para que eu possa estar fazendo o meu melhor dentro de campo.