(Crédito: Franklin de Freitas/ Bem Paraná)

Lançado nesta quinta-feira, o documentário “Olha o que ele fez”, do Globoplay, tenta traçar uma linha de quem foi Galvão Bueno, maior voz do esporte brasileiro, para além das câmeras. Mais de 50 pessoas foram ouvidas para ajudar a montar o perfil do narrador, trazendo uma perspectiva humana e profissional – por vezes esquecida. Nesses 41 anos na Globo, Galvão criou alguns “desafetos”, pessoais e profissionais, e que estão retratados também ao longo dos episódios.

Sidney Garambone, um dos diretores da minissérie documental, conta ao Estadão que a produção foi projetada para expor todas as faces do narrador. O próprio, em uma das primeiras reuniões, não queria que sua história fosse revisitada a partir de uma perspectiva “chapa branca”.

Nos anos na Globo, o narrador criou algumas inimizades. Cafu, em um dos relatos obtidos pela produção, diz que Galvão é “corneteiro”. Rubens Barrichello diz que o narrador “fala para c******” em outro momento das gravações. Ambas em tons amistosos. Outras personalidades esportivas se recusaram a revisitar suas rusgas com o profissional.

Este é o caso do jornalista Renato Maurício Prado, ex-comentarista do Grupo Globo. Em 2012, os profissionais discutiram ao vivo durante o programa “Bem, Amigos”, do SporTV. Convidado para participar do documentário, ele recusou. “Fui e recusei. Obviamente (por causa) do Galvão. Se ele quisesse fazer as pazes mesmo, que me procurasse pessoalmente antes. Não através de produtores, para posar de bom moço no documentário”, afirmou o jornalista, por meio de suas redes sociais.

Nelson Piquet, tricampeão de Fórmula 1, é outra personalidade que foi contatada pela produção, mas se recusou a participar. Ao longo de sua carreira, ele chegou a reclamar da personalidade do narrador em diversos momentos, inclusive chamando-o de “chato”. Apesar disso, tantos os momentos com Renato Maurício Prado quanto de Piquet estão presentes em imagens de arquivos no documentário.

Para Garambone, essas lembranças de ex-companheiros ajudam a construir e preservar a imagem de Galvão Bueno. “A gente quer mostrar que o Galvão não era fácil. O Galvão é esse personagem gigante, cheio de contradições. É impossível não passar dos limites em uma bronca, estando ao vivo para 100 milhões de pessoas”, conta. Neymar, que recebeu críticas do narrador por suas atuações em campo, e Felipão, pelo 7 a 1 em 2014, são outros nomes que foram convidados, mas não aceitaram participar das gravações.

Por outro lado, alguns atletas aceitaram o convite prontamente para relembrar suas desavenças pessoais com o narrador. Foi o caso de Zinho, campeão mundial com a seleção brasileira em 1994, que escutou críticas de Galvão na transmissão da Copa. Na época, ele chamou o atleta de “jogadorzinho” e clamou para que Carlos Alberto Parreira (técnico do Brasil) o substituísse nos jogos.

No primeiro episódio da série, já é mostrado o reencontro entre as partes. Galvão, em frente às câmeras, se desculpou pessoalmente com Zinho e conversaram sobre esse momento. “Eu não sou 100% bonzinho, mas eu também não sou um monstro”, diz, no documentário.