Maria Lenk morre aos 92 anos

Pioneira da natação estava se preparando para disputar o Campeonato Brasileiro de Master

Bem Paraná

 Pioneira da natação brasileira, Maria Lenk morreu nesta segunda-feira, aos 92 anos, depois de mais uma manhã rotineira de treinos. Ela passou mal na piscina do Flamengo e foi levada em seguida para o Hospital Copa D’Or, em Copacabana, no Rio. Internada com insuficiência respiratória, chegou a sofrer uma parada cardíaca logo depois de os médicos constatarem um quadro de aneurisma com rompimento da aorta torácica e hemorragia.


Maria Lenk estava se preparando para disputar no final do mês a prova de 1.500 metros do Campeonato Brasileiro de Masters, em Brasília. “Ela estava muito bem treinada e animada para a competição. Nós estamos em estado de choque. Como era de sua vontade, seu corpo vai ser cremado”, disse Nanci Passos, sobrinha da nadadora.


Primeira mulher a representar o Brasil em Jogos Olímpicos, em 1932, em Los Angeles, Maria Lenk cumpria com alegria suas tarefas matinais: acordava cedo e caminhava cerca de meio quilômetro até a sede do Flamengo, na Gávea. Sempre sozinha, dirigia-se para o vestiário do clube, trocava a roupa e em poucos minutos já estava na piscina: fazia alongamentos, cumprimentava os conhecidos e nadava por uma hora e meia, com pequenas interrupções. Depois, tomava um copo de café com leite ou um suco de laranja.


Nesta segunda-feira, tudo parecia normal para os demais alunos da turma de masters do Flamengo. Maria Lenk nadava com desenvoltura, por volta das 10 horas, na piscina olímpica do clube. Dividia o espaço com outros 30 colegas. Um deles, o professor de pólo aquático Antônio Carlos Canetti, ocupava a mesma raia dela.


“Eu disse quando cheguei à borda: ‘Bom dia, Maria!’ Ela não me respondeu, estava concentrada, não deve ter ouvido. Percebi depois de nadarmos lado a lado cerca de 25 minutos sua cabeça meio curvada, dentro d’água. Pensei que estivesse se alongando. Eu então me aproximei para tirar a dúvida e a vi bebendo água”, contou Canetti.


Nervoso, Canetti pediu socorro à salva-vida de plantão, Ana Beatriz. O clima de apreensão tomou conta do parque aquático até a retirada da nadadora. “Foi um corre-corre. Todo mundo ficou muito preocupado”, disse Célia Martins, também da turma de masters. “A gente já sabia que, pela idade, ela poderia partir a qualquer hora. Mas não esperava da forma como foi. A Maria Lenk é um mito.”


Assim como Célia Martins, os outros alunos deixaram a piscina rapidamente para tentar ajudar Maria Lenk. O médico do Flamengo, Álvaro Chaves, passava por perto e nem precisou ser chamado. Enquanto Canetti e Ana Beatriz carregavam a nadadora numa maca até o centro médico do clube, Álvaro Chaves já tomava ciência da gravidade do caso.


Maria Lenk recebeu oxigênio e foi levada de ambulância para o Copa D’Or, onde deu entrada às 11h02. Estava inconsciente, com insuficiência respiratória e quadro compatível com choque circulatório. Morreu às 13 horas, no momento em que os médicos se preparavam para uma cirurgia de emergência.


Viúva e mãe de um casal de filhos – Gilbert e Marlen -, Maria Lenk deixa ainda dois netos. Os quatro parentes moram no exterior, nos Estados Unidos e nas Ilhas Fiji, mas devem estar presentes na cerimônia de cremação, quarta-feira, no Cemitério do Caju, no Rio.


O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) decretou luto por três dias e o Flamengo anunciou que o time vai atuar com uma tarja preta, quarta-feira, contra o Real Potosí, em jogo pela Libertadores. No entanto, a última grande homenagem que Maria Lenk recebeu ainda em vida foi dar nome ao parque aquático que está sendo construído no autódromo do Rio e será palco das competições nos Jogos Pan-Americanos, em julho.