Dunga jogou para o Milan toda a responsabilidade pelo corte de Kaká, que não defenderá a seleção brasileira nos jogos contra Paraguai, dia 15, em Assunção, e Argentina, dia 18, no Mineirão, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. O técnico alegou que não tinha como integrar o meia à seleção porque o clube italiano enviou à CBF um documento desaconselhando treinos antes do dia 10. O fax, no entanto, teria sido enviado há mais de duas semanas, antes mesmo da cirurgia a que Kaká foi submetido. O corte pegou Kaká de surpresa e o deixou irritado.
Na Itália, o chefe do departamento médico do Milan, Jean-Pierre Mersseman, afirmou que não tinha como vetar a utilização de Kaká, pois nem vem tendo contato com ele – o meia está no Brasil, tratando-se no São Paulo, com a equipe do fisioterapeuta Luís Rosan, que também trabalha na seleção.
Além disso, os jogos com Paraguai e Argentina são oficiais, e durante as chamadas “datas FIFA”, e clube nenhum tem poder de veto de convocação de um jogador nesse período. Ou seja: se Dunga quisesse mesmo ter Kaká no grupo. Nem mesmo o Milan, como tentou alegar. “Tenho que preservar o jogador, que é reconhecido
mundialmente. Ele já vinha com esta lesão há bastante tempo e pra jogar tem que estar apto para isso. A decisão é do clube, que é quem paga os salários do atleta. No clube pode se arriscar um jogador por quatro ou cinco meses, mas na seleção, não. Vai que acontece alguma coisa…”
Kaká teria tomado conhecimento da notícia pela imprensa, ainda que, na versão da assessoria da CBF, o jogador foi informado pelo médico José Luiz Runco, por telefone, antes de o corte ser anunciado no site oficial da entidade. Foi o próprio Runco, aliás, quem fez a cirurgia no joelho de Kaká. “Claro que falei com o médico (Runco) e o fisioterapeuta (Rosan), mas tem coisas que, por ética, não posso passar para vocês”, disse o treinador, sem entrar em detalhes.
A relação da CBF com o Milan é conturbada há tempos. Em 2004, o clube se recusou a liberar Kaká para o Pré-Olímpico, e meses depois vetou Dida, Cafu e o mesmo Kaká para o amistoso contra o Haiti. Nesta quinta Dunga lembrou que o clube italiano já havia vetado a participação de Kaká na Olimpíada de Pequim. O técnico queria que o meia forçasse sua presença na Seleção, entrando em conflito com o Milan, o que não aconteceu.
“A gente sabia das situações que iriam acontecer com o Milan”, disse Dunga. “Temos que deixar o Kaká se recuperar tranqüilo, ver o filho nascer com calma, e quando o Milan tiver boa vontade, ele volta”, emendou o treinador, lembrando que o primeiro filho do jogador, Luca, está para nascer.
O técnico disse ainda que “a gente não pode ficar preso a um ou outro nome, mas ao grupo.” Deixou claro que jogadores como Kaká e Ronaldinho Gaúcho, por mais qualidade que tenham, nunca ganharão tratamento diferenciado – ao contrário do que aconteceu recentemente na Argentina, onde o técnico Alfio Basile concordou em dar férias ao atacante Carlitos Tevez, que alegou cansaço e pediu para não enfrentar o Brasil em Belo Horizonte.
Dunga elogiou bastante o jogador convocado para o lugar de Kaká, o volante são-paulino Hernanes. “Ele atua em várias partes do campo, já vinha fazendo parte do nosso grupo, tem idade olímpica e está acostumado a jogos difíceis como esses, contra Paraguai e Argentina”, explicou.