A trajetória rumo ao retorno à primeira divisão nacional pode não ser um dos temas mais glamourosos na história do Coritiba. Mas foi o tema escolhido pelo jornalista e radialista Edílson de Souza para seu primeiro livro na carreira. Em ‘A volta do campeão do povo – Uma superação coxa-branca’, Edílson diz ter ouvido e acompanhado mais de 90 jogos do time coxa-branca na Série B entre os anos de 2018 e 2019, enquanto o objetivo era retornar à primeira divisão nacional. A ideia do autor era que o Coritiba aprendesse com os erros cometidos nesse tempo, mas curiosamente o time se aproxima de mais um rebaixamento no Brasileirão.
Edilson de Souza inicia o livro na derrota do Coritiba para a Chapecoense por 2 a 1, na última rodada do Brasileirão de 2017. E passa por todos os 76 jogos do time nos dois anos em que esteve na Série B. As partidas são narradas em detalhes. Outro ponto alto do livro consiste nos depoimentos opinativos de jornalistas e radialistas que acompanharam o clube nesse tempo.
Sem nenhum apoio do Coritiba, Edilson decidiu lançar o livro por conta própria. Recorreu a pessoas e empresas que se dispusessem a pagar uma parcela da tiragem. Em troca, cedeu espaços para publicidade no próprio livro. Embora a ideia pareça meio fora da ordem em termos de livros, foi isso que garantiu a viabilidade do projeto. Sobre o livro e o atual cenário da literatura paranaense quando o assunto é futebol, Souza conversou com o Bem Paraná.
Bem Paraná – De onde vieram a inspiração e as ideias para o livro?
Edílson de Souza – Olha só, dizem que, para que possamos registrar a nossa existência aqui na terra seria necessário cumprir três objetivos: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Como sou do interior, já plantei várias árvores, também já tenho filhos, então me faltava escrever um livro. E a ideia desse projeto não poderia ser outra, falar sobre futebol. Pois sou viciado nesse esporte. Jogo futebol, estudo futebol e trabalho com futebol. Então, a obra teria que estar relacionada a aquilo que mais me agrada.
Bem Paraná – Você escolheu um tema menos glorioso na história do Coritiba. Houve algum motivo especial para isso?
Souza – Escrever sobre momentos gloriosos, feitos especiais, grandes conquistas é muito mais cômodo e com mais possibilidades de sucesso e retorno financeiro. No meu caso, eu quis apostar no desafio de fazer o relato de uma “tragédia” que levou um clube ao fundo do poço e que culminaria com o sucesso retumbante da volta para a elite do nosso futebol. Infelizmente, o Coritiba não fez um bom trabalho na temporada (2020) e pode ter minado todo o projeto. Contudo, está feito o registro histórico. Daqui alguns anos, quando alguém quiser fazer uma pesquisa sobre a passagem do Coritiba pela Série B nos anos de 2018 e 2019 e não queira apenas dar uma olhada no Google, o livro ‘A Volta do Campeão do Povo’ poderá ser a referência. Então, esse é o único motivo especial. Algumas pessoas terão exemplares guardados em suas prateleiras e ou em suas bibliotecas e serão fontes de pesquisas.
Bem Paraná – Como foi a produção do livro? Qual foi a maior dificuldade?
Souza – Quando você se mete a fazer uma coisa que não é do seu domínio, tudo é dificuldade. A pesquisa é muito complicada. No caso específico desse projeto, eu fui “obrigado” a assistir mais de noventa jogos, contanto com aqueles nos quais eu trabalhei na narração. Depois de assistir e analisar todos os jogos, fazendo as anotações pertinentes, vem a segunda parte, que é sentar em frente ao computador e transformar os apontamentos em texto. E aí a coisa se complica, pois parece que o texto não rende. A gente escreve tudo e ainda não preencheu uma lauda.
Bem Paraná – O livro recorre a um recurso pouco usual para ser viabilizado: a venda de espaços publicitários. Como isso foi feito?
Souza – Escrever um livro é um sonho que, para quem não é do ramo, custa caro. A gente não conhece ninguém, não tem editora, não acha gráfica de confiança e principalmente não se sabe como vender depois de concluído o projeto. Por esse motivo optei por vender o projeto para pessoas que tivessem qualquer tipo de vínculo emocional com a história que seria contada. Foi uma espécie de venda de um apartamento na planta. Conversei com muitas pessoas, e elas compraram lotes do livro. Então, praticamente não houve e não haverá distribuição em livrarias. A maioria dos livros será doada pelos parceiros que adquiriram algumas unidades logo na concepção da ideia. Assim, quem recebeu de presente, ou comprou essa obra deve guardar como relíquia.
Bem Paraná – Por que você acha que há poucos livros sobre o futebol paranaense?
Souza – Nós, brasileiros, temos um péssimo costume: não gostamos de ler. As coisas pioraram com a internet e o Google. Tudo que você precisa vai encontrar no Google. Por esse motivo, poucas pessoas se interessam em ler um livro. E, como são poucos os leitores, aqueles que gostam de escrever não encontram consumidores para esse produto. Somado a isso, há uma falta muito grande de incentivo aos escritores. Tudo é muito caro, muito difícil e as editores não apostam em “pratas da casa”. E, além disso, infelizmente parece que os nossos clubes de futebol não são pautas interessantes, do ponto de vista econômico, para a produção literária.