Santa Cruz acusa esquema de jogos

Lycio Vellozo Ribas

O presidente do Santa Cruz, Edson Nogueira, cumpriu a promessa de expor denúncias graves com irregularidades na Série B. Ontem, ele entregou um dossiê com 13 páginas ao Ministério Público, em Recife, e também à Federação Pernambucana. O dirigente diz ter sido extorquido por pessoas supostamente ligadas a árbitros. Eles teriam pedido dinheiro para arrumar resultados a favor do time pernambucano — que acabou rebaixado para a Série C com uma rodada de antecedência, ao ser derrotado pelo Criciúma (2 a 0) no último sábado.

No dossiê, Nogueira apresentou números de contas bancárias e e-mails. Em uma das mensagens eletrônicas aparece o nome de Paulo Jorge Alves, que seria da Comissão de Arbitragem da CBF. Mas o dinheiro deveria ser depositado no nome de Francisco Gaspar Neto. O dirigente do Santa Cruz preferiu não acusar ninguém diretamente. Ele revelou que foi orientado pelo MP a fazer um depósito para ter como comprovar a denúncia. Isso contrasta com seu comportamento dos dias anteriores, quando disse que o dossiê estremeceria as estruturas do futebol brasileiro.

“Entregamos o que temos em mãos ao presidente da federação e ao Ministério Público”, disse Nogueira. “Estou dizendo que o Santa Cruz foi extorquido, não estou dizendo que ninguém é ladrão. O nosso pedido é para que apurarem o que aconteceu”.

A federação pernambucana, por sua vez, mostrou-se revoltada. “Tem que suspender a segunda divisão até se apurar o que houve”, afirmou o presidente da entidade, Carlos Alberto Oliveira, a uma rádio de Recife. O departamento jurídico da Federação também estuda entrar com um pedido administrativo junto à CBF, solicitando o afastamento preventivo da Comissão de Arbitragem.

“A Federação irá cobrir todas as instâncias possíveis, vai instigar tanto o poder jurídico como o próprio poder administrativo da CBF de modo a pugnar pela lisura da competição”, falou Evandro Carvalho, vice-presidente jurídico da Federação. “E, caso seja apurada fraude ou crime, que a mesma seja anulada, já que uma competição que resultou de vício não poderá gerar resultados jurídicos perfeitos. Os resultados terão que ser anulados”.

Escândalos de arbitragem no futebol nacional não são coisas novas. Em 2005, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho confessou ter feito parte de uma máfia de apostadores para “arranjar” resultados em partidas do Campeonato Brasileiro daquele ano. Ao todo, 11 partidas tiveram o resultado anulado e foram remarcadas. Graças a isso, o Corinthians conseguiu o título daquele ano. O time paulista havia sido derrotado em dois jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho. Nas novas partidas, o time triunfou e, após a última rodada,  acabou três pontos à frente do Internacional — para quem a anulação de partidas foi inócua. (LVR)