No domingo (13), na final do Mundial de Clubes da Fifa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi vaiado assim que começou a execução do hino nacional dos Estados Unidos no MetLife Stadium, em New Jersey.
A transmissão oficial logo cortou a imagem da autoridade norte-americana. O político não se intimidou e foi ao gramado após os 3 a 0 do Chelsea sobre o Paris Saint-Germain para entregar a taça os ingleses. E ficou no meio dos campeões, como se também comemorasse, ignorando novo apupos das arquibancadas, constantes na vida de outros presidentes, sobretudo no Brasil.
Aqui no Brasil, desrespeitar a principal autoridade em exercício é coisa comum.
Atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva já foi alvo da revolta de um estádio no qual governava. Antes do Jogos Pan-Americanos de 2007, falhou em sua missão de declarar aberta a competição no Maracanã, no Rio de Janeiro, após ouvir os apupos da torcida quando apareceu no telão e nas vezes em que seu nome era citado por demais autoridades. Coube a Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), modificar o protocolo, evitar mais constrangimentos, e anunciar a largada do Pan.
Lula deixou o estádio em silêncio na época e não deu declarações sobre as vaias na cerimônia posteriormente. Sentiu na pele o que dizia o jornalista Nelson Rodrigues, de que no Maracanã “vaia-se até minuto de silêncio”.
Dilma Roussef, que assumiu a presidência do Brasil após os dois primeiros mandatos de Lula, também viveu situação semelhante. Por mais vezes e em três estádios distintos. Em 2013, no Mané Garrincha, em Brasília, a presidenta não se intimidou e discursou na abertura da Copa das Confederações.
Em 2014, ela voltou a sofrer com o clima hostil na abertura da Copa do Mundo, em Itaquera, na agora Neo Química Arena, e depois no Rio, na decisão. Após a Alemanha conquistar o título com 1 a 0 sobre a Argentina na prorrogação, no Maracanã, Dilma foi ao gramado para entregar o troféu aos europeus e teve de encarar a revolta das arquibancadas. Ao lado de Joseph Blatter, entregou a taça para o capitão alemão Philipp Lahm sob vaias e ofensas pesadas, o que já havia ocorrido antes e no decorrer da final.
Para evitar um clima ainda mais hostil, os telões evitaram mostrar Dilma antes da premiação e o sistema de som do Maracanã colocou músicas altas para ofuscar o desrespeito à presidenta, que ficou com o troféu em mãos por poucos segundos.
Michel Temer assumiu o cargo de Dilma após o impeachment e também recebeu a desaprovação das arquibancadas do Maracanã. Na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, onde um apelo à tolerância era o símbolo da competição, o político quase não foi ouvido quando declarava a largada da competição tamanho os apupos.
O nome de Temer não estava no programa do Comitê olímpico Internacional (COI) no decorrer do evento de abertura da Olimpíada, o que evitou desagrados desde o início. Apenas no fim, quando o presidente em exercício apareceu, que a revolta foi gigantesca.
Nem mesmo a chegada de Jair Bolsonaro à presidência evitou que as manifestações de repúdio em estádios continuassem. Amante de futebol, mesmo sem competições internacionais no País no período, o político vestiu diversas camisas de clubes e foi a suas arenas para torcer.
Declarado palmeirense – comemorou o título brasileiro de 2018 no campo após entregar a taça aos jogadores no gramado do Allianz Parque, em misto de apoio e apupos -, acabou revoltando as torcidas oponentes. E a recepção nem sempre foi calórica nos estádios rivais, com vaias no MorumBis ao acompanhar um jogo das oitavas da Copa do Brasil de 2023 no qual foi acusado de “penetra” – estava à convite do governador Tarcísio de Freitas – e também na Vila Belmiro, com nota de que “não era bem-vindo ao local”, divulgada pala Torcida Jovem.
Dia desses, pelo Campeonato Carioca, ao comparecer a um clássico entre Vasco e Fluminense, no Mané Garrincha, em Brasília, Bolsonaro ouviu um jingle nada amistoso de que “uh, vai ser preso, uh, vai ser preso”, em referência ao julgamento no STF e teve de ficar fora da visibilidade dos torcedores.
Sem jamais se arriscar a ir ao estádio do Corinthians, Bolsonaro viu seu filho, Eduardo, ter de enfrentar a ira dos corintianos na Neo Química Arena em evento em 2023. O deputado federal foi bastante vaiado na ocasião e não adiantou tentar justificar que “apenas” seu pai era palmeirense. Deixou o local irritado em uma demonstração que eventos esportivos no Brasil não se alinham aos políticos.
Em 1940, anos após a Revolução Constitucionalista de 1932, o então presidente Getúlio Vargas foi fortemente vaiado pelos quase 70 mil presentes nas arquibancadas paulistanas na inauguração do Estádio do Pacaembu.