Arilson Chiorato: o palanque de Lula estará mais forte no Paraná em 2026

Redação Bem Paraná
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O deputado estadual Arilson Chiorato, presidente estadual do PT, é o entrevistado do programa Bem na Pauta. Ela fala do desempenho do partido nas eleições municipais e do que espera para 2026. Chiorato avalia a estratégia das alianças feitas pelo PT no pleito municipal, incluindo a capital do estado, Curitiba, onde o partido, com a Federação Brasil da Esperança, se juntou com o PDT e o PSB na chapa Luciano Ducci-Goura. “Se você olha isoladamente o partido, a gente diminuiu. Mas na minha avaliação, o palanque do Lula vai estar mais forte em 2026 aqui no Estado”, disse Arilson Chiorato para justificar o papel coadjuvante do PT no pleito.

Um dos mais combativos deputados da pequena oposição ao governo Ratinho Junior na Assembleia Legislativa, Arilson Chiorato não entende que esse seja um combate inglório. “Às vezes você não tem a vitória na assembleia, na votação, mas você tem a vitória de conscientização política das pessoas”, acredita o deputado. Entre as principais lutas do bloco da oposição estão o combate às terceirizações e privatizações e uma revisão das concessões de isenção fiscal.

Martha Feldens – Deputado, o PT elegeu só três prefeitos no Paraná este ano e em 2020 haviam sido oito. Isso apesar de ter o governo federal, do presidente Lula. Qual a avaliação da direção estadual para esse desempenho?
Arilson Chioratto –
A gente tem um partido que está sobre fogo cruzado, criminalização, há muito tempo. Desde a eleição de Dilma Roussef, em 2014, a gente tem um processo tumultuado no Congresso Nacional, que é a triangulação feita pelo Eduardo Cunha, pelo Michel Temer, pelo Aécio Neves e outros participantes desse processo, que acabou culminando no impeachment da Dilma logo à frente. Passado esse processo, tem o governo Temer,  que vem destruir toda a política pública que o PT construiu. Aí vem a Operação Lava Jato, aí vem a prisão do presidente Lula, e outras coisas mais. Assim, o resultado eleitoral, ele também, ele é substancial no sentido de depender a trajetória. Quando você fala assim, o PT elegeu apenas três prefeitos, mas nós fizemos mais votos a prefeitos nessa eleição do que na outra. Nós fizemos, no Paraná, 37 mil votos a mais para prefeito que na outra eleição. Se não me engano, a gente tinha feito cento e noventa e poucos mil votos, E agora a gente fez 220 e poucos mil votos. Só que conseguimos fazer três prefeituras.

Martha – Por que só três prefeituras?
Arilson –
Seis das nossas prefeituras foram para reeleição. E perdemos prefeituras que a gente fez boa disputa, como é o caso de Guarapuava, onde perdemos a eleição por 60 votos apenas. Uma manobra política do governador que tirou o candidato que estava em quarto colocado com 9% fez com que o candidato deles ganhasse a eleição por 60 votos. Mas o partido aumentou os votos e infelizmente não conseguiu aumentar o número de prefeitos. Mesma coisa para vereadores. Nós tínhamos 123 vereadores do PT eleitos no ano de 2020. Nessa eleição a gente elegeu 122. Um a menos. Só que a gente fez 75 mil votos a mais pra vereador. Isso não é proporcional ao aumento do número de eleitores do estado. O voto aumentou, mas fomos inseridos numa federação junto com o PV e com o PCdoB? E a gente aumentou o PV, por exemplo, que soltou de 19 vereadores pra 32, por conta dos nossos votos, inclusive.

Martha – Então, mudou a regra eleitoral, entrou essa novidade do 80-20?
Arilson
– Você computava os votos na eleição passada de maneira diferente. Por exemplo, aqui em Curitiba, se fosse pelo modelo antigo de apuração, nós teríamos quatro vereadores. Agora a gente repetiu três eleitos. Então, essas mudanças  fizeram com que o PT tivesse mais votos, mas menos cadeiras. Mas, nacionalmente, houve aumento de prefeitos.

Martha – O Paraná é mais anti-PT que o resto do país?
Arilson –
Não te digo que é anti-PT, porque o PT já governou cidades importantes do Paraná, como Londrina, Maringá, Ponta Grossa e outras mais. É que a gente tem um Estado um pouco mais conservador que os demais. Há uma presença muito forte pelo ser aqui o berço da Lava Jato. Há também o governo do estado, na figura do Ratinho, que tem uma força política muito grande, e é um estado que o Bolsonaro fez bastante voto. Então, todo esse ambiente do lavajatismo, do bolsonarismo e do ratismo impactou no processo político. E a gente, embora tendo mais votos, não conseguimos ter um desempenho tão bom. O PT aumentou vereadores no Brasil em 500 vereadores, saiu de 2.800 para 3.300. Aumentou em 37% o número de prefeitos. Mas esse fenômeno se dá praticamente de Minas Gerais para cima. Então assim, o estado de São Paulo teve um resultado tão dificultoso como o nosso aqui no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul foi um pouquinho melhor, porque conseguiu cidades importantes, como Bagé, Pelotas, Rio Grande, mas também não aumentou as prefeituras. Então, a gente tem esse recorte regional, digamos assim, não é só o Paraná, a minha avaliação. Então, e aí o PT foi também pragmático nessa referência municipal, buscou alianças, buscou, e nem esteve na cabeça de chapa de cidades, por exemplo, como Curitiba.

Martha – E qual é a avaliação dessa estratégia hoje, passada a eleição? Porque nem esses se elegeram, nem esses candidatos.
Arilson –
Na eleição passada, a gente lançou no Paraná 92 candidatos a prefeito e elegeu 8. Nessa eleição, a gente lançou, se eu não me engano, 82 candidatos a prefeito. E aumentamos o voto, como eu te falei. Só que na eleição passada, a gente tinha candidata a prefeita de Curitiba, candidato a prefeito de Ponta Grossa, candidato a prefeito de Fazenda Iguaçu, candidato a prefeito em Francisco Beltrão. Nessa eleição, nós optamos pelas alianças para fortalecer o projeto político de frente a ampla que o presidente Lula defende. Aqui em Curitiba, nós apoiamos o Luciano Ducci, que fez 20% dos votos. Em Ponta Grossa, nós apoiamos o deputado Aliel Machado também, que fez quase 20% dos votos do PV. O Francisco Hilton apoiou uma candidata. Lá em Foz do Iguaçu, apoiamos o radialista Ayrton no PSB. Então, houve uma estratégia de coalizão, pensando, obviamente, também nas eleições daqui a dois anos, 2026.

Martha – E qual a avaliação desses resultados?
Arilson –
A gente esperava, por exemplo, ir no segundo turno aqui em Curitiba, mas teve um fenômeno diferenciado, que foi a questão da Cristina (Graeml).  Mas em termos de projeto político, os partidos que fazem base da aliança que dá governabilidade ao presidente Lula, nós aumentamos em termos de frente. Se você chamou o PSB, o PDT, o PV, o PT, o PCdoB e outros mais, a gente aumentou. Se você olha isoladamente o partido, a gente diminuiu, mas na minha avaliação, o palanque do Lula vai estar mais forte em e 2026 aqui no Estado. A gente já teve um bom desempenho aqui na eleição passada, o Lula fez 38% no Paraná.  Por conta de toda a situação, a gente teve ele preso aqui, teve a Lava Jato, teve essa questão que a gente colocou aí do governo Ratinho, do Bolsonaro, a gente teve um bom desempenho. A tendência agora é aumentar esse percentual de votos aqui no Estado do Paraná.

Martha  – O que o ex-governador Roberto Requião tem com esses 38% ?
Arilson
– Colaborou muito. O (Roberto) Requião é uma figura pública que tem o nosso respeito, o meu particularmente. Foi um grande companheiro. Fez uma boa eleição para governador, mas saiu muito magoado. Infelizmente, nem tudo ocorre do jeito que a gente quer.

Martha – E para 2026, em termos de Estado, já que estamos falando que o palanque é muito importante para o Lula, essa mesma frente ampla, vocês acham que está á garantida pra 2026?
Arilson –
 Quando teve a aliança se formando em torno do Requião, eu fui o coordenador desse processo. Até a gente apelidou de geringonça, por causa do modelo português que unia partidos diferentes para uma coalizão. Tinha mais pessoas no começo, depois obviamente com o processo eleitoral vai um pra cá, outro pra lá, mas ela se deu. E a gente vai construir novamente. Eu tenho articulado com o PSB, na figura do presidente Luciano Ducci, com o PDT, com o PV, com o PSDB, tenho conversado com o PSOL, com a rede.

Martha – O PSOL nunca vem, né?
Arilson –
Toda vez é convidado, mas não vem. Às vezes fica junto, às vezes não. É que depende muito da pauta, do contexto. A política é marcada por contexto regional e nacional. Eu acredito que a federação a nível nacional vai ser ampliada.

Martha – A federação vai ser ampliada? Quais os partidos? Hoje tem PT, PV e PSDB.
Arilson –
Eu acho que pode ter aí uma ampliação pra trazer o PDT, o PSB, esses outros partidos mais próximos aí. Então, vendo a ampliação nacionalmente, é obrigatório ela ser repetida no estado e no município. Então a gente tem essa perspectiva.

Martha – Vocês participam dessa articulação, aqui o PT do Paraná também?
Arilson –
Participo. Eu como presidente estadual do partido, a gente tem reuniões nacionais que tratam disso. Então, claro, para o presidente Lula é muito importante que a federação seja ampliada, porque isso garante mais aliança, mais tempo de TV e coisas mais.

Martha – Mas vamos voltar a falar um pouquinho de Estado. Teria chance de um candidato ao governo para 2026? E já tem nomes?
Arilson – A gente está discutindo alguns nomes. Tem, por exemplo, o diretor da Itaipu, Ênio Verri. Pode ser um candidato do PT, mas tem que ter nome também do PSB, do PDT e de outros partidos. Tem quatro vagas nessa eleição: um governador, um vice, um senador e um segundo senador. E eu vou fazer o possível pra costurar essa aliança.

Martha – Na Assembleia Legislativa, você, enfim, é oposição e se pauta, pelo que eu vejo, assim, muito em função de enfrentamento a projetos do governo ligados à terceirização, à privatização. Só que é um trabalho meio inglório, vocês não estão conseguindo adesão de gente fora da bancada da oposição
Arilson – Mas a gente está convencendo o povo, convencendo que isso está errado. Às vezes você não tem a vitória na assembleia, na votação, mas você tem a vitória de conscientização política das pessoas.  O tema, por exemplo, da Copel, mexeu bastante com o Estado, a gente sempre alertando a não necessidade de privatizá-la por conta do serviço que ela prestava e também da condição financeira muito favorável ao Estado;Agora privatizou e as pessoas estão sentindo a deficiência no serviço, interrupções de energia e outras coisas mais. Olha o que virou o Paraná nos últimos anos. O Ratinho vendeu a Copel Telecom, principal companhia em fibra ótica nos 399 municípios do Paraná, que era lucrativa. Depois vendeu a Copel Energia. Vendeu a Compagas, uma empresa essencial, como aqui em Campo Largo, toda a cerâmica é feita com o gás da Compagas, por exemplo. Aí ele veio e trouxe de volta a temática do pedágio, caro de volta, um modelo construído desde 2019 até 2022.

Martha – Que o governo Lula acatou.
Arilson –
Não, não é que acatou. Já estava pronto, já estava feito o serviço. O governo Lula ainda diminuiu alguns problemas que o pedágio tinha, mas não tinha muito o que fazer porque já estava feito o processo. Em novembro eles queriam fazer o início desse processo, na transição do governo Lula para o Bolsonaro, eles queriam resolver isso. E a gente conseguiu fazer algumas medidas. Colocamos o contador de veículos que abaixa a tarifa. Colocamos a questão do espaço. O olhar sobre a contagem de veículos também que estava escondido nesse processo. A gente levou esse aporte para 18%. Então, mudamos várias coisas. Mas ainda custou caro. Vai custar caro e vai ser ruim para o Paraná.

Martha – E os próximos lotes que estão por sair agora? Essas coisas vão se refletir? O valor será menor?
Arilson
– Vai. O preço estará maior, infelizmente.  Agora vai ser feito o leilão do lote 3 e 6, que é o DDD 43 e o DDD 46.  Na minha avaliação, os preços, pelas condições que foram construídas, aconcorrência é pequena. Você vê que um dos leilões vem de dois concorrentes, no outro vem de um só. E o cara deu a proposta de 0,005% de desconto. Então, recapitulando, colocou o pedágio. Agora está fazendo uma concessão do canal da Galeta, do Porto de Porto. Um problema seríssimo pro Paraná, porque a gente vai pagar pedágio pra importar e também pra exportar. Vendeu 210 escolas, praticamente, naquele processo do parceiro da escola. Agora, privatizou a Celepar, a companhia de dados de Estado, que é super lucrativa. É a empresa que tem mais lucro no Estado do Paraná. Sabe que ela, nos últimos dois anos, teve R$ 170 milhões de reais de lucro, dá 20% do faturamento de lucro. Qual empresa dá um faturamento desse? E mais do que isso, ela é a bola da vez. Hoje, armazenamento de dados e informação é tão valioso quanto água, quanto luz, energia elétrica, quanto petróleo. É uma coisa de soberani. E agora tem esse rumor aí da privatização do que sobra da Sanepar. Ou seja, Só falta o Palácio do Iguaçu para ser vendido. O resto já foi.

Martha – Bom, mas aí você diz, a gente ganha o povo conhecendo isso. Será que em todas essas privatizações, as pessoas percebem que tem diferença entre a gestão pública e a gestão privada?
Arilson
– Talvez a Compagas não, porque ela é mais direcionada para um determinado público. Agora, Copel com certeza,  o pedágio também, e assim vai. Então a gente vai sentir isso no bolso. Veja, Marta, o Ratinho ano passado aumentou em ICMS do Paraná em 1%. Tornou a alíquota mais cara do Brasil. E ele com dinheiro em caixa. Esse ano o estado do Paraná começou o ano com 24 bilhões de reais em caixa. Claro, vendeu tudo que tinha. Tem uma receita grande para ser utilizada, não precisava fazer, por exemplo, um aumento Aí, ao mesmo tempo que ele aumenta o imposto, ele aumenta a isenção fiscal. Quando o Ratinho assumiu o governo, ele dava R$ 10 bilhões de renúncia de receita através dessas empresas que têm aí um abatimento de pagamento de imposto, que a gente tem várias empresas do Paraná, antigamente atrelada ao número de emprego fornecido e coisas do tipo. Esse valor de renúncia fiscal é de R$ 20 bilhões. Dobrou. Então você tem de 20, o orçamento é quase 60 e pouco de corrente líquida, você tem quase um terço da arrecadação renunciada a favor de alguns setores estratégicos.

Martha – O que o senhor defende?
Arilson –
São muitas benesses e os retornos são menores. No Paraná não tem um sistema de revisão. Por exemplo, se a empresa está gerando tantos empregos, se a empresa está promovendo desenvolvimento local, se a empresa está fazendo isso aqui. Vou dar um exemplo para você da Ambev. Aquela empresa grandona, bonitona, na beira da rodovia ali em Ponta Grossa. Ela gastou, pra ser feita e colocada em funcionamento, R$ 420 e poucos milhões de reais. Gerou lá 400 e poucos empregos. Mas só isso, só porque ela é automatizada. Mas ela já recebeu este renúncia ao longo do tempo que ela tá aqui. E ela começa a contribuir a partir de quando? Então, se eu não me engano, daqui a dois anos. E aí, isso compensaria em quanto tempo? Essa aqui não existe. Aliás, existe um segredo sobre essa avalanche de aumento de benesses fiscais aqui no Paraná. A gente não consegue as informações necessárias. Isso que eu sou deputado. Eu não sou contra a renúncia. Eu sou contra não ter um mecanismo de acompanhamento do quanto isso tá sendo importante pro Paraná. Qual a atividade mais que a gente precisa fazer pra incluir aqui dentro ou tirar alguma que tá pra poder impulsionar algum setor? Não tem esse debate.

Martha – E os governos estaduais parecem que não abrem mão dessa guerra fiscal, né?
Arilson
– Não. Existe o Conselho das Secretarias de Fazendas do Brasil todo, que tenta normatizar esse processo, mas a gente não tem isso consolidado. Cada um tem o seu modelo de atuação por conta, obviamente, da sua particularidade econômica, a sua atividade econômica preponderante, o desenho, o arranjo produtivo local de cada estado é diferente. Outro vai para a indústria, outro para tecnologia de informação e assim vai. Então vai ter uma briga por conta disso. Mas aqui no Paraná a gente precisa ter um debate sobre isso. Inclusive esse próximo ano é o tema do nosso mandato. Fazer um debate político, sério, fiscal, equilibrado, respeitoso sobre o quanto a gente está tendo aí esses benefícios fiscais.

Martha – O que você pretende fazer?
Arilson –
Levar as discussões Para as regiões, falar com unidades de classe. FIEP, FIEP, Fecomércio, sindicatos, trazer esse pessoal para debater. Depois a gente pode chegar a conclusões diferentes sobre isso, mas eu posso estar muito equivocado, mas a conclusão vai ser que a gente tem que reduzir isso. A gente pega e corta. Eu vou te dar um exemplo bem claro. Aquele mercadinho pequeno que a gente vai na vila, ele não tá contemplado no benefício fiscal. Aquela farmácia de duas portas que o pai, a mãe e o tio trabalham, não tá. Aquela lojinha na ponta do bairro, não está. Aquela mulher que tá hoje fazendo pão, fazendo doce, tem um CNPJ, ela não tá nessa renúncia fiscal. De repente, tem que inverter a lógica. Afinal, 71% quase dos empregos gerados são por micro e pequenas empresas. Quem garante para gente não tem que rever o benefício fiscal e passar uma parte dessa renúncia pra ele poder continuar gerando emprego, pagando menos imposto e aquecendo mais a economia? Então, é um debate a ser feito. Vamos ver o que você vai conseguir com esse debate.

Martha – Como é que você avalia, até aqui, o governo do presidente Lula?
Arilson –
Eu acho que é um governo que está fazendo o correto. A gente não pode esquecer de como o Lula assumiu o governo. Um rombo fiscal alto, declarado, e depois de trabalhado pelo governo, detectado que foi aumentado. A gente tem avanços na economia importante, a gente tem uma inflação mais tranquila do que os últimos quatro anos, estamos em uma situação de desemprego hoje de 6,5%, Quando você chega a 5% você está quase na situação de pleno emprego. É um ponto positivo. Então sim, a gente tem resultados expressivos. E tem entrega de políticas públicas muito boas pelo presidente Lula. Retomaram programas importantes como Minha Casa é Minha Vida, Mais Médico, Farmácia Popular. Tiveram novos programas como Pé de Meia, que faz com que a permanência escolar seja aumentada. benefício financeiro para essas jovens que estão lá, que podem ajudar a família. Então, assim, tem coisas aí dando certo.  Pelo grau de complexidade que ele encontrou o Brasil, eu acho que ele está avançando, e bem.

Martha – E por que isso não se reflete, assim, em popularidade e aprovação ao governo?
Arilson-
Olha só, a gente tem hoje um cenário diferente dos últimos anos de análise política. Se você me perguntasse isso quando a gente perdia a eleição para o PSDB ou ganhasse o PSDB, eu ia falar pra você que senão eu ia se repetir. Muitas das coisas que tem hoje a gente tem relação direta com o ambiente virtual, com o conteúdo de desinformação produzida. Então tem muita gente que é beneficiada num programa e que propriamente critica o programa, foi feito um cardzinho com uma desinformação sobre isso, com uma fake news sobre isso. A gente está hoje num processo não é de guerra de informação, é um processo de guerra cognitiva. A construção num ambiente virtual, programada, feita, planejada, pra fazer com que as pessoas não entendam esse processo, ou dificulta o entendimento delas. Por isso que a aprovação não se reflete. Então se você fala assim, mas como é que a pessoa hoje pode falar de desemprego? A gente está nos menores patamares de desemprego. E você vai perguntar pra pessoa, o que falta? Emprego. Porque a gente tem todo um trabalho feito, orquestrado, organizado. E você pensou, você disse assim, se a economia vai bem… É que mudou. Hoje, a gente tem que reconectar com as pessoas. Qual que é o desafio meu enquanto presidente do PT? Hoje, no Estado, por exemplo? Fazer com que a gente reconecte o nosso discurso, que as pessoas entendam o que a gente está.  O modelo mudo A gente tinha um partido, num contexto econômico, uma determinada forma de fazer política, certo? Então, o PT ia na porta da fábrica, falava do direito, carteira assinada, porque o trabalhador tinha que ter isso. Trazia resultados. Mas aí você conversava com a massa e as pessoas entendiam. Hoje, mudou esse arranjo. As pessoas, de repente, não querem ter carteira estável. Querem ser empreendedor, querem ter o seu MEI, trabalhar de forma mais sem cumprir o horário, por exemplo, estar num processo de uberização. Está numa empresa de tecnologia, está numa startup, coisa do tipo, com seu horário flexível. E o nosso discurso não está chegando nesse público, por exemplo, hoje mais. Então a gente tem que readequar a abordagem da narrativa nossa pra que as pessoas entendam isso, que a gente ainda defende o que é bom pra elas, mas esse discurso precisa ser melhorado. Como fazer isso? A gente ainda não sabe, a gente tá tentando como adequar isso. Porque os resultados econômicos que eu te coloquei, por exemplo, você viu, o Brasil vai ter um crescimento de PIB, segundo as projeções internacionais, de 3,5%. Resultado que nunca teve nos anos juntos do governo passado. Mas você pergunta as pessoas em economia, ah, tá ruim. Você tem o PIB aumentado, você tem a maior atração de investimento estrangeira nos últimos 10 anos do Brasil, o que é muito positivo. Você tem a inflação praticamente sob controle. Tem o desemprego em um percentual baixo. Mas se você perguntar, vai falar que a economia está ruim. Porque a gente não conseguiu se comunicar da forma que as pessoas entendem por conta dessas mudanças que teve. Então hoje a gente tem que entender esse processo, tem que reorganizar.

Martha – Até que ponto as pautas de costumes influenciam nessa percepção também ruim em relação ao governo?
Arilson –
A pauta de costume é uma pauta da extrema-direita. Nós, do PT, sempre tivemos ela incorporada nas nossas ações contra a criminalização dos homossexuais, sem criminalizar a opção das pessoas, sem ter preconceito, essas coisas. Nós sempre defendemos o contrário, é tudo isso. Mas o povo nacional direito começou a criar fake news sobre isso. Ah, o Haddad entregou na campanha passada o kit gay, que nunca existiu, nem a mamadeira, nem o kit gay. Então eles trazem a pauta de costume para esconder a pauta econômica, que tem resultado. Vai esconder a discussão sobre o Brasil saudável, que é a gestão pública mais participativa.

Martha – Mas por que eles encontram tanto eco?
Arilson –
Porque é uma pauta que chama atenção. Porque a gente tem a ampliação desses valores do sistema de crenças e valores na sociedade hoje. E quanto mais conservador o Estado, mais tem eco. Aqui no Paraná tem mais eco do que no Nordeste, por exemplo.Essa pauta. Então, quando você não consegue discutir economia, quando você não consegue discutir gestão pública, você vai pra pauta de valor. E a maioria delas é mentira.  O PT defende o aborto. Não existe isso. Eu sou presidente do PT, eu não sou a favor do aborto. O Lula declarou isso nas eleições também. Há coisas que são mistificadas. E aí a gente demora um tempo pra poder apagar isso tudo. Então a gente vai tendo que fazer esse trabalho que eu tô te colocando aqui.

Martha – Como que faz esse trabalho num ambiente que praticamente no mundo inteiro a extrema-direita tá avançando e incomodando, vamos dizer assim, os partidos ao centro?
Arilson –
São ciclos, né? Se a gente pega a história mundial, há uma oscilação nesse sentido. E essa onda de extrema-direita tá acontecendo no mundo? Sim, claro, tá acontecendo no mundo. Tá acontecendo na América do Sul também, A gente, embora tenha a vitória da frente ampla no Uruguai agora, de esquerda, mas a gente tem na Argentina a vitória da extrema direita. Então assim, cada caso é um caso e eles estão conectados. A gente estudar o que foi feito no Uruguai pra ver o que aconteceu, o que eles conseguiram vencer um governo, um governo de extrema direita, na verdade, que estava no poder. Como eles conseguiram conversar com a população. O que foi feito lá, que pode ser feito aqui, pra gente poder encontrar a conexão. Tem outros resultados. A gente tem resultado no Reino Unido, na França, tem que ir atrás desses resultados aí e ver qual tipo de trabalho, qual que é a narrativa que foi usada, qual que é a fórmula usada, o jeito, pra gente poder construir isso aqui. Aqui no Brasil, eu não tenho dúvida da eleição do presidente Lula.

Martha – Mas e se o Lula não for o candidato?
Arilson
– Mas o Lula é candidato. O Lula é candidato. O Lula tá saudável, o Lula tá firme, está trabalhando bastante, ele é candidato. Isso daí a gente não tem. E a gente tem que entender uma coisa. O resultado da eleição municipal, ele não é conectado 100% com a eleição nacional. Toda a história foi assim. Imagina só, como é que o Lula virou presidente da república? Aqui no Paraná, nós tínhamos seis prefeitos apoiando o Lula. E o Lula virou presidente com 38% dos votos. Hoje nós temos mais de 50. Sei lá, tem mais. Contando os partidos que estão junto conosco. A gente tem mais. Esse daí não é um resultado direto. Isso não garante a reeleição. O que garante uma reeleição tem a questão de saber se comunicar, traduzir-se em voto, a economia. A economia vai bem, mas as pessoas têm que entender que a economia tá boa. A economia tá boa e as pessoas estão sendo manipuladas a não estarem com essa percepção é uma situação, então nós temos que trabalhar isso. Eu acredito na reeleição do Lula, até por conta que eu acredito que esse cenário que tá posto aí, com essas revelações da trama golpista e coisas mais, vão derreter o bolsonarismo.

Martha – Você acredita mesmo nisso?
Arilson –
Piamente.

Martha – Porque eles estão tentando, na verdade, desqualificar um pouco a investigação e colocar como se fosse um exagero, uma narrativa. E tem bastante empenho no Congresso também do pessoal.
Arilson
– Quanto a fato, não tem narrativa, né? Tem áudio de militar tramando o golpe, tem documento do golpe impresso na Secretaria Geral da Presidência, tem cópia do golpe presa agora na sede do PL, a retirada do sigilo do processo, que tá público de ontem pra hoje, desnuda o bolsonarismo. Era uma coisa orquestrada. Até as faixas de protesto eram produzidas e desenhadas dentro do palácio. Então você tem aí um presidente que ajudou a planejar, ajudou a organizar e ajudou também a executar esse processo de golpe. E eu acho que a gente chegou à vez das instituições saírem fortalecidas nesse país. É agora essa vez. É a hora do Poder Judiciário, do Executivo e do Legislativo punirem os culpados. Nem na ditadura a gente teve premedição assassinar presidente eleito, vice-presidente, figuras do STF. Aqui a gente tem isso posto em evidência. E não é só tentativa. Houve execução do processo. Não foi só pensou. Botaram os caras na rua. Se não fosse um fortuito da sessão do congresso do STF ter terminado antes, Teria dado errado. Se não é o general, ministro-chefe do exército e da aeronáutica lá, não aceitamos o golpe, tinha dado o golpe. Esse povo tem que pagar.

Martha – E a direita não tem outro candidato?
Arilson –
Não, a gente precisa separar um pouquinho as coisas. Quando fala direita, tem extrema-direita, tem direita e tem esquerda. É hoje constituído no país. Eu acho que tem outros candidatos. Com força pra enfrentar o presidente Lula.

Martha – Você acha que não?
Arilson
– Com força para enfrentar o presidente Lula, não. O único que tem um pouco de força ainda é o Bolsonaro, que vai perder mais ainda essa força agora. A gente tem os governadores que estão reeleitos, como é o caso do governador de Goiás, o Caiado, tem a questão do Zema em Minas Gerais, tem o próprio Ratinho aqui no Paraná, tem o Tarcísio em São Paulo. Eles têm um aspecto já mais à direita, indo mais para o sistema de direita, digamos assim, mais à direita. Obviamente, porque é extrema-direita. Mas eu acho difícil a eleição, porque não são figuras a nível nacional ainda conhecidas. O Tarcísio, por exemplo, eu acredito que é muito difícil ele largar o governo do estado de São Paulo para a presidência, porque ele vai tentar uma reeleição. Tem que abrir mão do cargo para ir para um debate com o presidente Lula. Não é qualquer figura. Estou falando de um presidente que ganhou eleição três vezes, fez a Dilma presidente, ajudou a construir o Senado a Dilma presidente duas vezes. Então, é uma pessoa.  Ela é maior que o PT, a gente sempre vem claro, o Lula é muito maior que o PT, tem uma figura carismática, tem acertos enormes no governo, então acho difícil a não reeleição do Lula.

Martha – Mas ainda tem o Congresso contrário. Enfim, pode acontecer muita coisa também.
Arilson –
acho que a eleição mais importante pra nós, além de reeleger o Lula obviamente, é eleger deputados e senadores com compromisso progressista, que é onde a gente não tem as vitórias plenas. Você pergunta assim, mas o Lula fez pouco? Eu te falei como eu disse no nosso bate-papo aqui, que diante do cenário que ele tinha encontrado. Quando a gente fala do cenário, tem a destruição do país com as contas e com problemas todos que o Bolsonaro deixou, mas o ambiente político, Lula vem com minoria na Câmara e minoria no Senado. Aí tem coisas que a gente… É intrínseca o PT. Reforma trabalhista. Que a gente queria fazer, mas não tem voto pra fazer. Entendeu? Revogação do novo ensino médio. É uma bandeira que a gente contra, mas não tem muito voto pra fazer. Então tem muitas coisas que a gente queria ter feito, não conseguiu taxar as grandes fortunas. Não conseguiu fazer. Que é a justiça fiscal e justiça social e tirar do mais, do maior e passar pro menos. Aí a pessoa pergunta assim, pô, mas o Lula não falou que quem ganhasse até 5 mil reais não vai pagar imposto de renda? É a bandeira nossa. Mas pra isso a gente precisava fazer a taxação da grande fortuna, entendeu? Pra poder taxar mais eles, eles pagarem mais e o pobre pagar menos. Esse você não consegue fazer por conta das dificuldades que a gente tem no Congresso. Então.

Martha- Diante disso também, até essa questão do projeto da anistia lá, que agora falam, ah, tá enterrado, mas será que tá enterrado mesmo o projeto da anistia? Porque com maioria…
Arilson –
É, mas uma coisa é maioria e outra coisa é opinião popular favorável. A opinião popular hoje é contra o golpismo. Isso pesa muito. Porque o deputado que vai lá votar, ele anda pelo seu estado, anda para lá e pra cá. E ele também toma… O voto dele tá condicionado à vontade popular dos seus eleitores. Então, quando há um massacre muito grande, uma criminalização por parte do povo, como está tendo, ninguém concorda com esse processo. Muito poucos. Aí ele é pressionado. Então, isso perdeu muito ambiente político. O cara já era a favor da anistia. O da extrema-direita continuou. Mais ao centro-direita, ele começa a sofrer pressão. É, porque eu percebo muito o silêncio de lideranças políticas. Teoricamente democratas, né? Que não tão se manifestando, não tão condenando, não tão nada. O silêncio diz muita coisa. Então, é bastante silêncio. E isso, inclusive, se fosse em outros tempos, haviam manifestações positivas criticando que era um exagero, que não tinha coincidido isso, aquilo. Mas eles não tão fazendo esse comentário também. Quem tá falando isso é só sistema direito. É um silêncio pros dois lados. Digamos assim. Esperando pra ver o que vai acontecer. Mas eu vejo, por exemplo, políticos de centro criticando essas posturas. Então você já pega assim, tem um pouco mais o centro e a esquerda criticando e só a extrema direita, então, defendendo. Então a gente tá vendo aí que a gente tem uma vantagem sobre isso. Então eu acredito que o processo de anistia, ele está enterrado. Hoje, é dinâmico, né? Acontece um fato diferente.

Ficha técnica da entrevista com Arilson Chiorato

Coordenação e produção: Josianne Ritz

Apresentação e produção: Martha Feldens

Operação e edição: Evandro Soares

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