Ela nunca pilotou uma moto, mas comanda um império sobre duas rodas

Advogada por formação, empresária por opção e inquieta por natureza, Denise Remor assumiu a Magnetron em 2010, após a morte do marido

Katia Michelle
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(Foto: Reprodução/YouTube)

Denise Remor nunca teve dúvidas sobre qual curso seguir. O Direito parecia uma escolha natural, em sintonia com seus interesses, sua paixão por leitura e o desejo de entender melhor o comportamento humano. O que ela não previa é que, já perto dos 50 anos, com dois filhos pequenos e uma carreira consolidada, trocaria os tribunais pelos bastidores de uma indústria. Após a morte repentina do marido, vítima de um infarto fulminante, Denise assumiu a presidência da Magnetron, uma das maiores empresas brasileiras no mercado de peças de reposição para motocicletas.

Sem experiência prévia na gestão industrial, ela fez o que sempre soube fazer: estudou. Pediu ajuda, contratou professor particular para entender de finanças, mergulhou nos números e voltou para a sala de aula. “Lia muito, estudei, me virei”, resume, com a franqueza de quem aprendeu, na prática, que a coragem também se constrói com método.

(Foto: Jéssica Rodrigues)

Assumir a presidência da Magnetron foi um ponto de virada — mais emocional do que planejado. “Minha prioridade era preservar a empresa. Era dali que tirávamos nosso sustento”, conta. Nascida em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, Denise deixou a cidade natal aos 17 anos para concluir o ensino médio em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde já sabia que faria Direito. “Nunca tive dúvida”, afirma. 

Depois de formada, morou em Porto Alegre e, mais tarde, voltou a Joaçaba para trabalhar com o tio, em especial na área de Direito de Família. Foi ali que teve contato com os dilemas humanos que tantas vezes transbordam do campo jurídico. “O conflito começa pequeno, mas a falta de maturidade amplifica tudo”, observa. Ao longo do tempo, desenvolveu o que chama de “escuta seletiva”: uma forma de manter distância emocional diante de disputas. “Sempre fui racional e seletiva com o que deixo me afetar.”

Assista a entrevista completa de Denise Remor no Retrato Gravado:

O inesperado acontece

O casamento com Oscar Branco, então presidente da Magnetron, levou Denise a Curitiba no fim da década de 1980. “Quando cheguei, diziam que a Justiça do Paraná tinha dono. Preferi seguir na empresa da família, atuando na área jurídico-administrativa, mas assumir a presidência nem me passava pela cabeça.”

Mas o inesperado acontece. Fundada na década de 1960 como Magnetos Vibema Ltda., a Magnetron foi incorporada em 1976 pelo Grupo Caetano Branco. Em 1979, tornou-se fornecedora da Honda no projeto pioneiro de motos a álcool, com a bobina da CG125 como seu primeiro produto homologado. Ao longo das décadas seguintes, a empresa diversificou, exportou para América Latina e Estados Unidos e se consolidou como referência em seu setor. Quando Denise assumiu, em 2010, guiou a empresa por um processo de modernização, fortalecimento de marca e digitalização. Em 2024, alcançou o maior faturamento da história.

Hoje, a Magnetron conta com mais de 1.000 clientes ativos, um portfólio de mais de 2 mil itens e presença nacional por meio de milhares de distribuidores e revendas. E, mesmo trabalhando menos, Denise continua presente na gestão. “A empresa precisa continuar crescendo, com planejamento e visão de longo prazo.”

Além, disso, Denise é sócia da Flyworks Drone Show, empresa especializada na realização de espetáculos com drones. A Flyworks foi responsável pelo show de drones no Natal no Parque Barigui, em Curitiba; pelo primeiro show da história da Tomorrowland — o maior festival de música eletrônica do mundo — e também colaborou no recorde mundial com 10.000 drones na China.

A empresa criou o primeiro espetáculo entre estruturas do mundo, na tour Áurea, e projetou o rosto de Fernanda Torres no céu de Salvador durante o Oscar. O tributo a Ayrton Senna, em Interlagos, emocionou espectadores ao redor do planeta.

(Foto: Jéssica Rodrigues)

Equilibrio

A empresária organiza o tempo entre o trabalho e uma rotina pessoal que inclui ioga, musculação, tênis e pilates. Mãe próxima, como se define, é também leitora incansável, apaixonada por mitologia celta, arte e literatura. Publicou dois livros infantis e, atualmente, cursa escrita criativa — encaixando textos e exercícios entre reuniões e compromissos. “Tenho uma relação intensa com a estética e com a palavra. A arte me faz bem. Escrever me ancora.”

Denise é patrona do Museu Oscar Niemeyer, integra a associação do MAC e gosta de repetir que está em paz com o tempo. “Não gosto de me ver velha no espelho, mas gosto do que o tempo trouxe pra mim. O diabo é o diabo porque tem experiência, não porque é o diabo”, diz, rindo.

Entre a executiva e a escritora em formação, está a mulher que nunca deixou de observar o mundo à sua volta — e de se mover com ele. “Criar filhos dá trabalho, mas é um privilégio. Formar um cidadão exige presença, escuta e exemplo.” Em breve, será avó. E ainda tem planos para novos livros.

Sua história é de reinvenção. Mas mais do que isso, é sobre viver com curiosidade, manter os afetos por perto e seguir em frente. Sempre.

Escute a entrevista completa de Denise Remor no Retrato Gravado:

FICHA TÉCNICA
Coordenação: Josianne Ritz
Apresentação e produção: Katia Michelle
Operação e edição: Evandro Soares
Email: estudiobemparana@gmail.com