
Ex-governador e hoje deputado federal, político tucano desabafa sobre perseguição que sofreu por parte da Lava Jato: “Não pense que eu não olhei pela janela do 24º andar e tive vontade de pular”
Após quase quatro anos afastado dos holofotes, período no qual esteve sem mandato e permaneceu mais recluso, Beto Richa (PSDB) está de volta à vida pública. Eleito deputado federal pelo Paraná, o ex-governador concedeu na última segunda-feira (15 de maio) uma entrevista ao Bem Paraná e ao Museu da Lava Jato, gravada diretamente do estúdio do jornal. Na conversa, o tucano falou sobre sua trajetória pessoal e profissional, desabafou sobre a perseguição jurídica de que foi vítima e comentou sobre a retomada de sua carreira política, fazendo ainda uma revelação: é possível que seu nome apareça na disputa pela Prefeitura de Curitiba em 2024.
Questionado se seu nome poderia ser considerado para a eleição do próximo ano, o presidente do PSDB do Paraná foi direto: “Pode”, disse ele, ressaltando que a partir do segundo semestre essa possível candidatura deve começar a ganhar maior concretude (ou não).
“Eu tenho sofrido alguma pressão para uma candidatura à Prefeitura de Curitiba. Eu estou avaliando ainda, acho que é um pouco cedo. Todo partido deseja uma candidatura própria, mas tem de ter um mínimo de viabilidade, ninguém vai entrar num suicídio. E eu nunca sofri de ansiedade, as coisas na minha vida acontecerão sempre de forma muito natural”, destacou Beto Richa.
A primeira eleição que o político disputou foi em 1992, para o cargo de vereador da capital paranaense. Na época, não contou com o apoio de seu pai, José Richa, ex-governador e ex-senador pelo Paraná, e não teve sucesso na empreitada. Dois anos depois, porém, foi novamente convocado pelo PSDB, desta vez para disputar o cargo de deputado estadual. Finalmente apoiado pelo patriarca, conseguiu se eleger e exerceu o cargo por dois mandatos, iniciando uma ascensão meteórica na política paranaense.
Entre 2001 e 2004 o tucano foi vice-prefeito de Curitiba e secretário de Obras Públicas da cidade. Entre 2005 e 2010 foi eleito e reeleito prefeito, liderando na sequência, entre 2011 e 2018, o governo do Paraná, vencendo duas eleições para governador ainda no primeiro turno.
Em 2018, deixou o Palácio Iguaçu para disputar uma das duas cadeiras em disputa para o Senado. Era um dos favoritos para ganhar a eleição, mas poucas semanas antes do pleito, na manhã de 11 de setembro de 2018, acabou sendo preso (junto de sua esposa, Fernanda) pela Operação Rádio Patrulha, do Ministério Público do Paraná, no mesmo dia em que seria alvo da 53ª fase da Operação Lava Jato (Integração). Por conta dessa interferência, acabou não sendo eleito (“Me tomaram o mandato de senador na mão grande”, desabafa ele) e ainda teve de encarar mais duas prisões nos meses seguintes (uma em janeiro e outra em março de 2019), totalizando 30 dias atrás das grades.
Até hoje, Beto Richa não foi condenado em nenhum dos processos, enquanto sua esposa (que também chegou a ser presa) sequer foi denunciada.
‘Não pense que eu não olhei pela janela do 24º andar e tive vontade de pular’
Segundo Richa, o fato de ter perdido oito anos de mandato como senador não o fez perder um minuto sequer de sono. “O que me deixou enlouquecido foi a desonra, a humilhação e execração pública a que eles me submeteram. Preso, três vezes. É uma loucura total, uma insanidade. E agora ambos [Sergio Moro e Deltan Dallagnol] estão na política”, desabafa o tucano. “”Eu fui vítima de um sistema, fui vítima da Lava Jato. Eu fui um cabra marcado para morrer”, emenda ainda ele.
Numa fala forte e emocionada, o ex-governador do Paraná ainda admite que chegou a pensar em suicídio. “Eu vi a minha mulher chorar todos os dias em 2019. Não pense que eu não olhei pela janela do 24º andar e tive vontade de pular. O que nos manteve de pé é a fé que a nossa família tem em Deus”, afirmou o deputado, ressaltando ainda que tem vencido todas as denúncias apresentadas contra si.
“Não existe meia prova contra mim. Eu estou vencendo tudo na Justiça, eu não tenho nenhuma condenação. Você sabia que até hoje, passados quase cinco anos, eu não fui sequer depor até agora? O que mais impressiona é o nível de crueldade deles. E esse líder da Lava Jato ainda tem a cara de pau de falar o nome de Deus, faz o maior discurso piegas”, afirma Beto Richa, rebatendo ainda um artigo no qual Deltan Dallagnol se disse revoltado por ver o tucano no Congresso Nacional. “A hora que eu o vejo eu tenho vontade de vomitar. Ele é um ser execrável, um ser abjeto.”
Polarização política e avaliação sobre os governos Bolsonaro e Lula
Nessa retorno à vida política, Beto Richa revela sentir um certo incômodo acerca da polarização entre esquerda e direita no Congresso. Colocando-se numa posição mais de centro, ele faz um apelo aos colegas parlamentares: “Se cada deputado fizer sua parte, a gente consegue avançar, consegue conquistar importantes para o Brasil. O que eu percebo lá [na Câmara] é que tudo que um lado apresenta o outro vai contra, e não pode ser assim. Todos os lados têm coisas boas e coisas ruins”, diz ele.
Essa opinião reflete também a posição de independência que o PSDB adotou diante do novo governo Lula e na avaliação que o próprio Beto Richa faz sobre o que seriam os dois “polos” existentes atualmente na política brasileira, o lulismo e o bolsonarismo.
“Bolsonaro deixou muito a desejar, até pelas suas falas e suas faltas, o que culminou com a derrota que ele teve ano passado. Basta ver que é o primeiro presidente na história do Brasil que não se reelege. Foi trágica a gestão dele na pandemia”, avalia Beto Richa, que demonstra ainda preocupação com o atual governo, ainda que tente se manter otimista com o futuro da gestão Lula.
“O atual governo também não mostrou até agora o rumo e também [teve] falas, discursos, manifestações do presidente desencontradas. Estamos vendo com bastante preocupação o rumo que o país está tomando hoje, embora eu seja otimista, torça pelo meu país, qualquer que seja o presidente. Eu torço por esse governo, sim.”
40 anos do Bem Paraná
O Estúdio Bem Paraná faz parte das comemorações pelos 40 anos do Bem Paraná.
Ficha técnica
Coordenação: Josianne Ritz
Apresentação: Rodolfo Kowalski
Operação: Franklin de Freitas e Luísa Mainardes
Edição: Felipe Ribas