Paulo Martins se diz animado para trabalhar na prefeitura e garante que seu foco é Curitiba

Na entrevista, Paulo Martins contou sobre as dificuldades que teve como uma espécie de estranho no ninho logo após sua indicação para a chapa de Pimentel

Redação Bem Paraná
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Paulo Martins no Bem na Pauta (Bem Paraná)

Eleito vice-prefeito na chapa que vai levar Eduardo Pimentel (PSD) à prefeitura de Curitiba a partir de 1° de janeiro, o jornalista Paulo Martins (PL), que mesmo durante a campanha manteve seu foco nas duras críticas ao governo federal, promete que a partir de agora as coisas vão mudar.

Indicado por Pimentel como secretário de Desenvolvimento Econômico de Curitiba, Paulo Martins disse em entrevista ao programa Bem na Pauta, do Estúdio Bem Paraná, que agora seu foco é Curitiba e a responsabilidade que terá como agente público.

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Com centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, muitos de fora da cidade e do Estado, Martins não se preocupa com a possibilidade de perder como influenciador da oposição a Lula ao se concentrar mais nos assuntos de Curitiba. Agora, segundo ele, isso é o mais importante.

Na entrevista, Paulo Martins contou sobre as dificuldades que teve como um estranho no ninho logo após sua indicação para a chapa de Pimentel. “Muitos não me queriam lá”, admitiu na conversa com o Bem Paraná. Mas ele garante que isso não vai interferir no seu desempenho e na sua relação com o futuro prefeito.

O jornalista também falou sobre a investigação da Polícia Federal em relação ao plano de um golpe militar após a eleição presidencial de 2022, que elegeu Lula. Martins fala que houve, sim, “conversas esquisitas” entre militares e disse: “Não contem comigo para nada disso”. Mas ainda acha que Bolsonaro não foi o articulador do plano.

Veja a entrevista completa.

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Abaixo, você confere a transcrição da entrevista, na íntegra:

BEM PARANÁ: Paulo, seu nome acaba de ser definido pelo prefeito eleito, Eduardo Pimentel, como secretário de Desenvolvimento Econômico. O que você vai fazer nessa pasta? Era algo que você tinha em mente? Como que você vê essa sua indicação?
PAULO MARTINS:
Sim, para mim é bastante natural. Esse é um assunto, é um campo onde eu sempre trabalhei, sendo observador, estudioso ou como legislador. Sempre tentando tirar as amarras do Estado, minha visão liberal sobre o funcionamento da economia. Então é um assunto que eu sempre gostei de estudar e isso foi me aproximando também do empresariado, sempre entendi as suas demandas, ouvi, trabalhamos em parceria, reforma trabalhista, uma série de coisas. Então é um campo natural para mim. Essa pasta não existia na Prefeitura. Ela não existe hoje, será criada. Existem na Prefeitura várias iniciativas e várias instâncias que lidam com esse tema. A Agência Curitiba…

BP: Todas vão ficar sob o guarda-chuva da nova pasta?
MARTINS:
Elas não ficam, elas ficam mantidas como elas estão. Mas você tem uma secretaria agora que trabalha articulando elas. Esse é o nosso objetivo e eu estou feliz com isso. Acho que vai ser legal. Eu acredito realmente que há o que ser feito. Curitiba já vem bem nesse campo, mas isso é uma luta permanente que tem sempre que se procurar aprimorar e me sinto à vontade com o tema.

BP: Quando a eleição terminou e a chapa de vocês foi vencedora, você falou que, particularmente para você, foi um processo doloroso nessa eleição, houve uma disputa no mesmo campo político… Você pode contar um pouco agora sobre o que você passou e como é que foi esse processo doloroso?
MARTINS:
Sim, sim. Veja, nesse renascimento da direita política no Brasil, que ficou um tempo que não existia [a direita]. Existia uma coisa que se chamava de direita, mas não era uma direita: uma centro-esquerda social democrata e tal. Uma direita propriamente, não havia. Eu fui um dos pioneiros nesse nessa retomada. Então ajudei a criar muita coisa, muita gente cresceu depois, declaradamente inspirado até no meu trabalho inicial. Então são pessoas que eu acabo conhecendo, quase que o ecossistema inteiro. E aqui o quadro ele se desenhou de forma com que o segundo turno fosse disputado por duas candidaturas no mesmo campo. Só que uma candidatura se posicionava como a direita pura, a direita mais à direita. E a militância, ela está sempre dois tons acima da política real. Sempre que se coloca uma candidatura, uma opção que se diz mais ligada ao polo, ele tende a atrair a militância. A militância busca o ideal, ela é o idealizado, ela costuma ignorar certos aspectos da realidade até. Então, essa é uma militância que me respeitava muito, ela passa a me acusar. ‘Por que você não tá lá?’ ‘Por que você não tá lá no polo?’ ‘Traidor e tal’, coisas assim.

BP: Você vivenciou isso…
MARTINS:
Vivenciei bastante, bastante. Muitos amigos de fato, na política e na vida, muito pressionados por essa realidade do like, de ter que se posicionar sobre tudo, fazendo campanha para adversário, a campanha contra mim. Eles têm todo o direito de fazer, está tudo bem e eu respeito o adversário também, isso não é a questão. Mas não é tão simples você ver pessoas que você caminhou junto estarem do outro lado. E eu nem estou fazendo o julgamento deles, se estão errados ou não. Eles têm lá sua coerência também. Mas não é fácil. É algo que acaba incomodando, claro. Ricardo Salles, sempre foi um amigo muito antes dele ser ministro. Ele estava declarando voto para outra candidatura, veio aqui inclusive e até me mandou mensagem esses dias perguntando se estava chateado com ele. Claro que eu estou chateado com ele. Seria um cara normal se eu não estivesse. Não quer dizer que não vai continuar a ser meu amigo e nós não vamos conversar, mas é um processo que não é o ideal. Você tem que lidar, mas vai ganhando resiliência também. No fim das contas, quando acaba, você fala ‘pô, foi uma experiência difícil, forte, mas se passei, então eu saio mais forte disso também’.

BP: E como um representante do PL nessa chapa, você ficou ressentido com o Bolsonaro também, por não ter vindo, por ter feito algumas sinalizações pra Cristina?
MARTINS:
Não, não é ressentido. Não é essa a palavra.

BP: Mas chateado, então…
MARTINS:
Veja, essa construção da chapa, da aliança com o PSD, ela foi feita conversando com todo mundo e não foi nem capitaneada por mim. Eu tentei até construir uma candidatura própria, não teve respaldo do partido. O partido já vinha conversando com o PSD antes porque havia uma expectativa de ter uma nova eleição para o Senado, quando havia aqueles processos [contra Sergio Moro, senador do União]. Então esses partidos estavam próximos. Não aconteceu, mas então já tinha muitos interesses que estavam interligados. E aí o PL entendeu que não era interessante romper com o PSD para lançar a candidatura própria em Curitiba, sendo que havia já uma conversa avançada em vários outros municípios: Londrina, Guarapuava, um monte de coisas. O partido tem deputados federais, tem várias instâncias de poder aí. Então não é, você não constrói dizendo assim ‘sou candidato’. E por mais que eu seja o presidente do PL de Curitiba, no PL há resolução: Capitais, é a executiva nacional quem vai deliberar sobre candidaturas. Então, ok, quando foi construído, o PL vai ter que caminhar junto com o PSD mesmo, e o Bolsonaro até fala comigo, ‘não, vai lá, vamos ganhar a eleição e tal’.

BP: Isso ocorre naquela ida à Porto Alegre que vocês fizeram, que acabou sendo a única manifestação do Bolsonaro e que foi para a propaganda eleitoral depois, por que não teve outra, né??
MARTINS:
É, a gente acaba indo à Porto Alegre. E não, não teve outra.
Depois a realidade eleitoral foi se moldando, a candidatura da Cristina passa a ser viável e a militância cobra o Bolsonaro, que deve estar na candidatura da Cristina. Foi isso que aconteceu. Então, falar em chateação… não é. É ruim só a posição que eu fico, porque pode ser a impressão de que eu não quis fazer tais movimentos, e não foi bem assim. Eu fiz um movimento de grupo, ao aceitar o serviço. Até porque, quando eu não consigo a candidatura, eu comunico a todo mundo ‘oh, não vou participar do processo eleitoral, vou ficar quieto’. E eu fui pressionado a aceitar, a vir a participar.

BP: Essa construção foi toda do Ratinho?
MARTINS:
Ele estava envolvido em tudo, claro.

BP: Você era assessor dele, o PL está no governo do estado…
MARTINS:
É, exato. Mas chegou até um ponto de desgaste ali naquele momento, mas depois aceitei e vi que era o melhor a fazer mesmo.

BP: Mas vocês ainda esperavam que o Bolsonaro viesse à campanha?
MARTINS:
Não, eu não esperava mais. Eu entendo como é que funciona esse ecossistema, eu sei da posição dele. Ficou difícil pra mim, ficou difícil pra ele [risos]. Mas deu certo.

BP: E como que você viu esse crescimento da Cristina? Como é que você entendeu isso? Ela era uma candidata que não tinha tempo de TV, que não tinha aliança nenhuma, que não tinha nada, não tinha dinheiro, enfim. O que você analisa como comentarista político mesmo?
MARTINS:
Surpresa nenhuma. Primeiro que ela estava trabalhando bastante, ela acreditou na candidatura dela e foi à rua, foi a campo mesmo. Segundo que você tem um mercado eleitoral que quer consumir essas ideias. Hoje você tem um mercado de direita, de fato, super consolidado, grande e mobilizado. Construiu canais próprios, você tem redes de grandes influencers e o conteúdo, ele é viável economicamente, inclusive. Então, se nenhuma candidatura for falar com esse ecossistema, ele vai procurar quem esteja mais próximo, vai. E a nossa candidatura, no primeiro turno, se recusou a falar com esse ecossistema. Poderia ter me usado muito mais e falaria muito melhor. Não, preferiu-se por não falar. E aí esse ecossistema foi procurar e encontrou a Cristina, que está lá fazendo o trabalho dela, desde 2019 ou 2020 mais focado nesse público, e tem legitimidade. Então o público foi lá e é um público grande. Soma-se isso a um desgaste natural de uma gestão, de um grupo que está há oito anos no comando da Prefeitura… Encontrou-se um campo fértil para crescer. A surpresa para mim foi zero.

BP: A sua expectativa maior, então, era, antes, tentar concorrer ao Senado naquela vaga que, eventualmente, se abriria com a cassação do Sérgio Moro. Era esse o teu projeto principal?
MARTINS:
Eu não tinha nem como não ter esse projeto. A gente tinha saído de uma eleição. Eu saí com quase 30% dos votos. Você faz um esforço enorme pelo estado. Se houvesse uma nova eleição, eu teria que ser candidato. Não dá para dizer ‘não quero mais agora’. Não é assim, tem muita gente que caminhou com você, que acreditou em você. Você tem que fazer. Então, seria o natural. Não houve, ok. Temos que tocar a vida.

BP: Mas ficou uma situação um pouco conflituosa ali com o Moro. Eu lembro quando o Moro, enfim, foi absolvido, ele fez umas publicações nas redes sociais acusando você e o Giacobo de terem trabalhado contra ele. E você me disse ‘eu não vou comentar essa fraude’. O que você queria dizer com isso?
MARTINS:
Um cara que se elege com o eleitorado de direita e depois vota no Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal, eu acho que isso é autodefinível. Mas essa questão aí de processo, decisão de partido, aquilo que é legítimo em fazer, por mais que fosse em meu interesse… Mas veja que depois o próprio partido, a maior liderança do partido, foi lá lançar outro candidato aqui, que não era eu, que era a Michelle [Bolsonaro]. Ficaram um ano nessa discussão. E eu nunca tratei, nunca fiz desse processo um cavalo de batalha. Tratei como uma questão jurídica. Está e ponto, não faço isso. Até nem outros processos que eu já figurei como parte ou como proponente, eu nunca fiz disso cavalo de batalha público, acho que não é por aí. Ele quis fazer e beleza, opção dele. Segue a vida.

BP: Falando um pouquinho aqui da campanha, num primeiro momento da campanha você ficou realmente de fora até da propaganda e até o candidato teve que refazer peças publicitárias, que o seu nome não aparecia e tal. Você chegou a sentir que não era bem-vindo no grupo?
MARTINS:
Sim, havia um constrangimento.

BP: Você sentiu isso? E isso se resolveu como?
MARTINS:
Você tem que ser paciente. Muitas vezes as pessoas que te rejeitam, elas te pré-julgam sem te conhecer. ‘Ah, o Paulo é da direita. A direita é autoritária, não sei o quê’, todos esses monstros que tem aí. ‘Logo, não serve. Logo, não deve estar conosco.’ Tem muito disso. Acho que são vários componentes. Aí teve um episódio de um desgaste pessoal entre eu e o Rafael Greca, na campanha de 2022. Tinha um acordo, ele foi pro outro lado, eu o critiquei. Ué, é natural. Mas eu não fiz daquilo um elemento de ‘é meu inimigo’. Nunca ataquei ele. Fiz uma crítica sobre aquilo, ponto. Fui um cara que ajudou na gestão dele, antes daqueles episódios, como deputado. Ele sabe disso e segue a vida sem problema nenhum.

BP: No grupo mesmo [de apoio a Pimentel], a deputada Márcia Huçulak chegou a me dizer que faria campanha desde que não tivesse que ir a eventos com você, porque você tinha sido muito crítico, durante a pandemia, do trabalho de combate à Covid e ela era secretária da Saúde. Esse mal-estar está resolvido ou vocês nem têm proximidade?
MARTINS:
Não. Ela faz o trabalho dela, eu faço o meu. Durante campanha estive com ela em alguns eventos. Fui muito gentil com ela, fiz questão. Ela, nem tanto comigo. Ok, eu entendo. Não precisa ser minha amiga. Ela tem as amigas dela, eu tenho os meus. Na pandemia, eu trabalhava na Jovem Pan e eu não fui duro com ela, não. A Jovem Pan, em regra, acho que sim. Eu até sempre fazia as ressalvas de que ‘olha, eu entendo que os gestores estão pressionados e tal’, porque a minha tese ali naquele período é que não podia cercear o debate. E eu estava vendo um debate nacional ser cerceado: ou você pensa isso aqui ou você não presta. E não é assim. Isso é anticientífico, isso é antitudo, bem diferente do que se falava. Era essa a minha postura. E mesmo que tenha criticado ou que tivesse criticado, isso é normal. Eu estava ali fazendo o meu trabalho. Agora, eu fui o deputado que mais deu dinheiro pra pasta da Saúde em Curitiba. Isso ninguém quer lembrar.

BP: Chegaram a dizer que você era negacionista em relação às descobertas científicas, de vacina e tal. Você negou isso…
MARTINS:
A Justiça reconheceu [que não sou negacionista].

BP: Você chegou a ser processado…
MARTINS:
Eu processei. Nós ganhamos direito de resposta. As pessoas que foram responsáveis por essas peças estão respondendo, até. Eu fui autor de projeto que facilitava a compra de vacina por empresas, inclusive. Eu queria acelerar a distribuição dos medicamentos que estavam sendo desenvolvidos. A ressalva eu sempre fiz é: eu não quero que obriguem as pessoas, porque eu entendo que pessoas tenham medo, é um medicamento feito em um ano, é natural que as pessoas tenham medo. Eu não queria ver o Estado pegando gente a laço aí, sendo que os próprios fabricantes diziam ‘olha, mesmo o vacinado transmite, o que vai acontecer é que vai fazer menos mal’. Então não tinha sentido.

BP: Eu não lembro, mas em relação ao fechamento do comércio, essas coisas, você também tinha manifestações?
MARTINS:
Sim, sim. Eu desconfiava do lockdown, tinha dúvida se ele ia funcionar, se fazia sentido. Muitas vezes, se o problema é concentração, as vezes é melhor você estender e desconcentrar, porque as demandas das pessoas não cessam. As demandas não cessaram. Você tem diversos estudos hoje que atestam que o lockdown foi inócuo. E eu tinha muito medo do que poderia gerar socialmente: desabastecimentos, necessidades, e tal. Eu tinha muito medo que houvesse uma ruptura total de tecido social e caísse na barbárie, cada um tentando buscar o seu para se virar. E aí a gente ia perder de vez qualquer condição de se organizar para enfrentar aquilo que não se conhecia. Não havia na história situação análoga para aquilo que nós vivemos. Traçaram-se teses, alguns se apegaram a umas teses, e outras desconfiaram. Eu acho que eu fiquei no desconfiado.

BP: Essas diferenças em relação ao Greca e ao grupo, estão todas dirimidas hoje?
MARTINS:
Da minha parte, sim. Eu não pauto a vida por isso, não. Eu acho isso tão pequeno, tão pequeno… Tem tanta coisa legal pra gente pensar, tanto desafio grande que Curitiba precisa enfrentar. Eu não vou ficar ‘ah, que o Greca não gosta de mim, que não sei o que e tal’. Não gosta, não gosta. Segue. Eu não vou deixar de existir por isso. Tenho um trabalho anterior e vou continuar trabalhando, ele também tem a história dele. Ele ou qualquer pessoa do grupo. E a gente tem que conviver.

BP: Como é que vai ser a formação ainda da equipe? O PL espera mais pastas?
MARTINS:
Estamos conversando. É possível que o PL venha a ter mais espaço e tal, mas o diálogo com o Eduardo está muito bom. Ele está sendo de uma condução muito leve, muito aberta, não tem tratado de forma ‘aqui é meu’. Muito longe disso. Ele está sendo muito hábil e estou muito satisfeito. Vai fazer o governo dele, com certeza. Esse anúncio de secretariado que ele fez agora demonstra claramente isso. É uma sequência, mas é ele, é outro prefeito. Ele e o Rafael não são pessoas iguais. Eles pensam diferente, tem história de vida diferente. Trabalharam juntos e agora é a vez dele ser o capitão do navio. E ele vai mexer as peças dele, e ele tem que fazer isso mesmo. Ele está correto. Ele tem que afirmar o exercício de liderança, porque a gestão pública… A gente fala em gestão e você imagina alguém olhando uma planilha e vendo lá uma questão técnica. Não, não é só isso. É um processo, sobretudo, de liderança. Você lidera um grupo técnico para uma direção. Você faz com que um grupo técnico acredite numa direção e aí a máquina se move em favor das suas teses, senão você não consegue.

BP: Você acha que ele tem esse perfil assim, de liderança, de direcionamento?
MARTINS:
Tem, está mostrando isso. Ele foi uma personalidade, um vice mais discreto. Ele foi atuante, muito atuante. Foi secretário de Obras e depois secretário da SECID [Secretaria das Cidades do Estado do Paraná] do governo, que é a secretaria mais forte do governo estadual. Ele era um cara discreto, mas atuante. Pessoal acha que o vice… ‘Esse é um vice que atua’, e o cara que tá fazendo um monte de confusão, polêmica desnecessária e tal. Não, ele não fez isso. O Rafael é uma figura pública muito grande. Ele é até um tanto folclórico, ele é da paisagem de Curitiba, e acaba trazendo os holofotes todo pra ele. O Eduardo respeitou isso, ele foi muito resiliente, muito equilibrado. Foi um Marco Maciel [vice-presidente do Brasil entre 1995 e 2003, na gestão FHC] quase. E hoje é a vez dele e isso tudo deu maturidade para ele, deu condição. Estou muito feliz com as decisões que ele está tomando e a forma como ele está conduzido, de verdade.

BP: Você é um jornalista que sempre deu opinião e tem muitos seguidores nas redes sociais. Mas sempre com foco muito em oposição ao governo Lula, mesmo durante a campanha eleitoral era pouca coisa regional aqui. Isso pode mudar um pouco agora com a sua atuação municipal, esse foco?
MARTINS:
Claro, né. Aí eu tenho que comunicar um trabalho na gestão e o papel dos meus canais pessoais fica outro. Ali sempre foi uma espécie de serviço de informação e minha opinião, ou posição como parlamentar. Agora, não. Eu tenho uma responsabilidade de gestão: ‘estamos fazendo isso, faremos aquilo, temos que responder a isso’… Então será diferente, certamente.

BP: Você não teme perder seguidores, porque muita gente entre teus seguidores é de fora, é do resto do país.
MARTINS:
A internet tem isso, né? Você não tem limites físicos. O meu ainda, proporcionalmente, é bem mais alto no Paraná. Mas a maioria acaba não sendo, normal. Mas a minha responsabilidade não é ganhar ou perder seguidores. A minha responsabilidade é entregar o que Curitiba precisa, o que o cara que paga imposto e quer uma vida boa aqui precisa. Essa é a minha preocupação. Se isso vai me dar ou não seguidores, é uma preocupação secundária. Tenho muita honra por cada um que chega nas minhas redes sociais, mas o objetivo aqui é outro. Se vai funcionar como comunicação e a forma de como eu vou comunicar… As pessoas gostam também de admirar um bom trabalho. Eu posso capitanear com isso também e de repente ter mais seguidores. Olha, essa direita que eu falei para você que é nascente há alguns anos, ela carece de experiências de gestão também. Até porque é o processo de maturação. Começou com alguns opinadores, depois se torna candidato e vai pro Legislativo, e agora tá na fase de ir pro Executivo aqueles que já estão um pouco mais maduros e que vão sobrevivendo ao processo, né? Porque a caminhada política é essa. No fim, é quem sobrevive. Chega quem sobrevive. Então, é por aí.

BP: Bom, você fala assim ‘ah, eu sou da direita, eu faço todo um trabalho nessa linha’, mas você é uma pessoa da direita democrata que se elegeu, que chegou onde chegou pelo voto. Como é que você está acompanhando essa investigação da Polícia Federal, na Operação Contra-golpe, em que alguns militares estavam armando um golpe de Estado, já uma coisa bem concreta, né?
MARTINS:
Tinha umas conversas ruins, né? Vejam: a minha surpresa quanto a militares aloprando, é nenhuma, porque sempre vai ter, sempre tem. E no Brasil, agora teve um feriado, dia 15, que era a comemoração de um golpe. Gostem ou não, sinto muito, mas é o golpe militar de 1889. Golpe militar para depor o Império. Um Império que era uma monarquia parlamentarista e o senhor Floriano [Peixoto] fechou o Congresso depois, um ano depois. Tá todo mundo comemorando. Então, vamos fazer uma crítica mais ampla aqui do negócio? Eu não gosto disso, eu não quero isso. Aliás, corro e assumo os riscos de ser ridicularizado ao fazer essa análise. Não tenho problema nenhum com isso, porque é uma análise correta. Eu sou um conservador de fato, eu não quero revoluções. Não dão certo. Não contem comigo para esse tipo de patacoada. De forma nenhuma. Sempre termina mal, é ruim, porque artificializa o processo e rompe o processo histórico natural, onde a sociedade vai, nas suas tensões, se moldando. E o final é sempre ruim. O Brasil está há 100 anos instável. Está há 100 anos instável. O maior período de estabilidade foi o segundo reinado. Isso é dado histórico. Depois nós tivemos aqui a ditadura floreanista, depois a ditadura Vargas, depois a militar, e agora nós estamos discutindo golpe de novo. Está ruim, né? Não é muito bom…

BP: Mas você, eu vi nenhuma manifestação sua defendendo, como outros da direita, que não houve, que isso e aquilo. Você entende que de fato houve [uma articulação para se tentar um golpe]?
MARTINS:
Não, tinha gente conversando sobre isso, está ali, né? Você tem diálogos lá. Não vou falar que não tem. A minha dúvida é em que grau isso estava, com quem estava envolvido. O ex-presidente, por exemplo, eu acredito que não [estava envolvido].

BP: Você acha que não?
MARTINS:
Eu não li ainda o relatório, porque ele foi publicado hoje ou ontem. Eu quero ler o relatório, obviamente. Mas tenho que ler, eu não vou me posicionar num assunto desse sem ler o relatório, até porque eu conheço o Presidente da República, trabalhei com ele, fiz campanha com ele, tenho que entender ali. E depois da eleição, eu tive com ele duas ou três vezes, e ele comentou comigo duas ou três vezes assim, ‘tem um pessoal aí querendo que eu faça besteira. Eu não vou fazer besteira, essas coisas não funcionam, eu tô fora disso aí, vamos organizar a oposição’. Ele falou assim, estou te dando um testemunho, tá? Ele pode ter mentido pra mim, mas eu tenho que acreditar, é o que eu tenho. É o que eu tenho. E eu entendi, como tem um pessoal aí, eu tava entendendo que era o pessoal de WhatsApp e tal. Imaginei que tivesse um general lá e tal… Eu lidei com vários militares nesse período, né? Tinha militares no governo. Ajudei o Exército com emendas também, essas coisas assim. E eu não via qualquer ânimo pra isso, tampouco empolgação com o próprio Bolsonaro, uma coisa muito carreirista. Até alguns jornalistas me questionavam na época, e eu dizia isso pra eles. ‘Se alguém quiser, vai se frustrar, porque não vai acontecer, não vai encontrar respaldo’. E a reforma do Exército que foi feita ali no governo Castelo Branco, ele faz com que, para haver um levante, você precisa envolver uma parcela muito, muito grande das Forças, para ter viabilidade. O comandante não fica mais um tempão sobre o mesmo comando, ele roda, então não cria essa afinidade com a tropa. As tropas vêm de uma região para a outra, então você não tem o sentimento regional. Foi muito bem pensado aquilo tudo e que faz com que eu sempre desdenhasse disso aí. E é o que aconteceu aí. Por mais que venha a culpar todo mundo aí, mas foi irrisório na Força. Os próprios ‘kids pretos’ que eles falam lá, as forças especiais, tinham o quê? Seis kid pretos? Ah, pelo amor de Deus.

BP: Mas e os generais que estavam dentro do governo?
MARTINS:
Mas os generais tinham tropa? tinha seis kids pretos. Eu não estou minimizando os fatos, mas estou falando sobre a exequibilidade da coisa.

BP: Porém, isso está embaçando um outro projeto, que é esse da anistia, que muitas pessoas da direita já estavam contando com isso, inclusive para livrar o Bolsonaro da sua inelegibilidade. Com a sua experiência no Congresso, você acha que esse projeto da anistia, com esses fatos, murchou agora?
MARTINS:
Ficou ruim, sim. Eu acho que ficou inviável. Já era difícil, não era fácil. Tinha um outro campo – eu não acompanhei tão bem, não tô indo a Brasília tanto -, que queria deixar claro que a anistia era para aqueles fatos lá e pra não ter essa politização, assim, de Bolsonaro, se atinge Bolsonaro ou não. Isso tornava o projeto mais viável. Mas agora é que a Câmara, ela tem uma coisa assim, um fato, ele contamina a gaveta inteira. Por mais que aquele é um outro, são outras pessoas e um outro um outro contexto, mas como é facilmente linkável, está na mesma gaveta, contaminou esse negócio. Eu acho que não vai para frente, não.

BP: Eu quero agradecer a sua participação aqui no bem na pauta e você tem um minuto para se dirigir aos nossos espectadores.
MARTINS:
Eu espero que a gente tenha esse diálogo permanente. Nós queremos fazer uma gestão com muita transparência, conversando muito com a sociedade. Eu não acredito em mudanças que não venham a ser dialogadas. Eu acho que mudanças abruptas ou impostas elas geram resistência mesmo para aqueles que seriam beneficiados por elas. Você precisa dialogar, se fazer compreender para poder realizar. Então estamos todos muito animados para iniciar essa gestão. E para mim, especialmente, é uma grande honra. Cheguei em Curitiba com 18 anos de idade, sem conhecer uma única pessoa. Vim para cá para lutar pela minha vida sozinho, minha família continua não morando aqui. Fiz a minha família aqui, construí meus amigos, meu trabalho, minha profissão e hoje tenho a responsabilidade de estar junto com o Eduardo no comando da cidade. Então agradeço a Deus por essa bênção e tenho certeza que eu vou honrar essa missão.