Conhecido por sua pluralidade artística como curador, escultor, pintor, gravador e designer gráfico, Emanoel Araújo mostra todo seu talento nesta mostra antológica. A exposição, com curadoria de Agnaldo Farias, exalta 45 anos da diversificada atividade de Emanoel, responsável pela revitalização da Pinacoteca do Estado de São Paulo e pela criação e direção do Museu Afro Brasil. Esculturas, relevos, gravuras, peças gráficas e um conjunto de obras recentes, “Cosmogonia dos Símbolos”, estão em exibição entre as 250 obras.
Acompanhe a mostra de Emanoel Araújo.
Para ilustrar o alcance da poética de Emanoel Araújo, além de trabalhos tridimensionais, a mostra exibe uma antologia de seu trabalho gráfico. São cerca de 130 esculturas e gravuras, além de aproximadamente 120 obras gráficas como cartazes, livros, programas e convites desenhados por ele, muitos deles para as próprias exposições e para a programação de espaços culturais que dirigiu. Um matizado conjunto de obras que se constitui em uma prova incontestável da amplitude e da capacidade criativa do artista. A mostra também reúne, por meio de fotos e registros, cenas da eclética trajetória de Emanoel que, desde os anos 80, quando foi nomeado diretor do Museu de Arte da Bahia, vem se destacando como curador de inúmeras exposições e, atualmente, na condução do Museu Afro Brasil, que idealizou e fundou em 2004.
Obras Recentes
O principal destaque é o conjunto “Cosmogonia dos Símbolos”, nesta apresentação com 30 trabalhos expostos, a maior parte dele produzido entre 2006 e 2007. Uma obra arrojada, na qual as formas geométricas esculpidas em madeira conjugam-se com cores vivas, aspecto inédito em sua vasta produção. Nos trabalhos do conjunto incorpora materiais pertencentes à ornamentação de cerimônias religiosas e festejos populares para aludirem a signos do sincretismo religioso, em representações de divindades africanas.
O precioso acabamento de sua marcenaria, ressalta o curador, resultante das lições recebidas ainda na infância com o mestre Eufrásio Vargas, em Santo Amaro da Purificação (BA), mistura-se a fragmentos de madeira torneados dos séculos 18 e 19, e a outros materiais como vidro e ferro, onde a cor pode surgir na madeira pintada ou potencializada, como acontece em um conjunto de miçangas de azul profundo, em que “tudo concorre decisivamente para a obtenção de uma atmosfera silenciosa, um respeitoso tributo ao sagrado”.
Farias diz que o contato com os relevos e as esculturas, mais decididamente geométricos, pode levar o visitante a concluir que resultam do diálogo do artista com o Concretismo paulista e o Neoconcretismo carioca. “Embora essa aproximação faça sentido, é preciso considerar antes as fortes referências africanas e, afro-brasileiras que, além de presentes em obras de artistas como Rubem Valentim, incluem também, a maneira do que acontece com “Cosmogonia dos Símbolos”, padrões geométricos aplicados na ornamentação de tecidos empregados na confecção de roupas, construções arquitetônicas e, muito fortemente, nos signos de ascendência litúrgica.”
A mostra exibe ainda a série Máscaras, um conjunto de estantes, Louise Nevelson, dedicado a artista russa radicada nos Estados Unidos, além de oito relevos. Em todas as obras há o desenvolvimento em profundidade de um raciocínio complexo, pautado na fusão de formas ritualísticas com uma geometria rigorosa, numa prova de que não há oposição entre os dois termos.
O trajeto de Emanoel Araújo
O baiano, natural de Santo Amaro da Purificação, Emanoel Araújo foi aprendiz de marceneiro e talhador. Aos 13 anos passou a trabalhar na Imprensa Oficial da sua cidade, na área de composição gráfica. Após completar o curso secundário, Emanoel mudou-se para Salvador, onde cursou a Escola de Belas-Artes da Universidade Federal da Bahia.
Emanoel, que realizou sua primeira exposição individual aos vinte anos de idade, tem obras figurando nos principais museus brasileiros, coleções particulares e edifícios públicos.
No decorrer dos anos, realizou exposições individuais e coletivas em vários estados brasileiros e em algumas partes do mundo. Em seus 45 anos de carreira recebeu mais de 20 premiações, entre as quais destacam-se: o Prêmio Odorico Tavares (Bahia/1970), a Medalha de Ouro da III Bienal Gráfica de Florença (Itália/1972) e dois prêmios por linguagens distintas (gravura e escultura); foi escolhido o melhor gravador do ano (1974); e o melhor escultor do ano (1983), ambos concedidos pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo. Já nos anos de 1988 e 1989 atuou, a convite, como Distinguished CUNY Visiting Professor of Art – Of the City College of the City University of New York” em Nova York (EUA).
O artista plástico dirigiu o Museu de Arte da Bahia (1981-1983); a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992- 2002) e, atualmente, dirige o Museu Afro Brasil. Além disso, foi Secretário Municipal de Cultura de São Paulo (2004). Foi, ainda, curador de mostras como O Universo Mágico do Barroco (1998), Negro de Corpo e Alma, Carta de Caminha e Arte Popular (2000), Negras Memórias, Memórias de Negros (2001), O Imaginário de José de Guimarães (2005), Odorico Tavares: A Minha Casa Baiana – Sonhos e Desejos de Um Colecionador (2006) e Museu da Solidariedade –Salvador Allende (2007).