O estudo da arquitetura e do sentido dos abrigos mais remotos e simples transformaram-se na exposição Maoz da artista plástica Marly Willer. Com três instalações em cerâmica, a ceramista buscou explorar com o barro as diversas formas de abrigos e moradias, como as cavernas, iglus e nuraghes (construções características da ilha da Sardenha, na Itália, edificadas há pelo menos 4 mil anos). “As forma de abóbadas desses abrigos sempre me chamaram a atenção, pois estão ligadas a necessidade do homem por proteção e segurança”, diz a artista. Maoz, palavra em hebraico que significa abrigo e proteção, abre em Curitiba.
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Para o professor de história da arte e crítico de arte Fernando Bini, “as obras de Marly nos conduzem à reflexão das nossas necessidades primordiais de abrigo e de calor, da vida em comunidade, da preservação de nosso passado arqueológico bem como a procura da resposta a uma questão sempre presente: quem somos e para onde vamos”.
Bini diz ainda que os abrigos ancestrais podem ser observados sob o olhar arqueológico, mas também como uma memória e imagem do passado e do presente. “Podemos pensar na casa enquanto forma, mas vai além pois também é refúgio familiar, abrigo de homens e mulheres, tribos que se reúnem em torno do fogo – elemento metafórico que aquece e mantém a vida”.
Já a artista contrapõe a era tecnológica com a proteção. “Não há qualquer referência a isso na exposição, mas penso que o rápido desenvolvimento da tecnologia pode causar uma perda de abrigo”, afirma.
A opção de Marly pelo uso da argila local encontrada nos arredores de Campo Largo e a utilização da queima única, sem alta temperatura nem esmaltação não foram escolhas em vão. Para Bini, o barro é um material natural e ancestral que tem a ver com a história do homem. “Mas a artista nos mostra que podemos usar esse material para falarmos de outras coisas. Trabalhando a cerâmica na forma clássica, ela retoma o valor artesanal e a necessidade de todo artista ‘pôr a mão na massa’”.