Nesta sexta-feira (23), às 19h30, a Fundação Cultural de Curitiba inaugura no Espaço Cultural David Carneiro a exposição “Os Ervateiros Paranaenses e a Litografia”. A mostra reúne rótulos das embalagens da erva-mate paranaense produzida no início do século XX. As obras, que integram o acervo da Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação, mostram a expansão da arte litográfica ligada às atividades dos ervateiros paranaenses.

Os documentos, recebidos pelos ervateiros paranaenses em exposições e feiras daquela época, atestavam a qualidade do produto. A exposição “Os Ervateiros Paranaenses e a Litografia” coloca o alcance do público uma parte do acervo de bens culturais móveis sob a guarda da Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba. Formado por mais de 20 mil peças, o acervo é ampliado regularmente por meio de doações e aquisições selecionadas por comissões técnicas especializadas.

História da litografia

A litografia, inventada por Aloys Senefelder, em Munique (Alemanha), no final do século XVIII, consiste em reproduzir, pela impressão, desenhos traçados com um corpo gorduroso numa pedra calcária de grãos muito finos. Os desenhos, dos quais podem ser tiradas cópias, são feitos na superfície da pedra e apenas as partes a serem impressas recebem a tinta gordurosa; as demais são molhadas. Dessa forma, a tinta não se mistura com as áreas úmidas, permitindo que apenas a parte pintada seja impressa. Por esse motivo, a pedra precisa ser molhada a cada impressão. São feitas cópias do desenho para cada cor, impressas separadamente em pedra própria.

Em Curitiba, a arte litográfica utilizou durante muito tempo a pedra calcária, cuja porosidade se adequava a esse tipo de trabalho e era, em geral, importada da Alemanha. Com o tempo, passaram a ser utilizadas as chapas de zinco e alumínio. Uma das dificuldades iniciais da litografia paranaense era a falta de profissionais qualificados. Por esse motivo, empresas, como a Impressora Paranaense, contratavam litógrafos da Alemanha, Suíça e Áustria, o que não solucionava o problema.

Na ausência de escolas, a mão-de-obra passou a ser formada nas próprias empresas. Os aprendizes recebiam noções de perspectiva e depois passavam ao desenho de letras, conhecendo todos os tipos – do gótico ao romano – formando palavras e depois frases. No final, os funcionários exercitavam-se em ampliações e reduções à mão-livre.

Formados, os litógrafos precisavam saber desenhar direto na pedra. Havia três categorias de profissional: o letrista, que se especializava em tipos; o cromista, que desenhava; e o gravador, de nível mais elevado, que, além de gravar na pedra com agulhas apropriadas, dominava as demais especialidades.

Impulso

Em Curitiba, as artes gráficas tiveram um impulso significativo a partir de 1880, quando o serviço de tipografia passou a utilizar o prelo mecânico. O equipamento viabilizou o lançamento de revistas, a edição local de livros e a melhoria da periodicidade de jornais, como o “Dezenove de Dezembro”, que em 1884 passou a ter edição diária.

Nesse ano, chegou a Curitiba o desenhista catalão Narciso Figueras, que trabalhava com gravura sobre pedra. Sabendo da necessidade de melhorar a qualidade gráfica do material produzido nas tipografias, o gravador abriu seu estabelecimento. Sabe-se que, em 1887, a Litografia do Comércio, de Figueras, funcionava na Rua Trajano Reis. Alguns estabelecimentos tornaram conhecidos na cidade seus trabalhos de litografia, como a Impressora Paranaense, a Litografia de Alfredo Hoffmann, a Litografia Progresso e a Sociedade Metalgráfica.

A elaboração dos rótulos e embalagens, às vezes, seguia ao sabor dos desejos dos clientes. Em outras, cabia ao próprio litógrafo buscar a inspiração para o trabalho. Algumas firmas traziam a idéia pronta, cabendo ao desenhista desenvolvê-la, fazer o croqui e submetê-la ao cliente. Freqüentemente, essa tarefa cabia ao litógrafo que, ao elaborar o rótulo, batizava o sabão, a bala ou a gasosa. A inspiração vinha dos fatos mais diversos: notícias de jornal, acontecimentos inusitados – como a neve de 1928 – homenagem a times e esportes, figuras de animais, além de notas humorísticas, encontradas principalmente nos rótulos de aguardentes.

Espaço Cultural David Carneiro

O Espaço Cultural David Carneiro, inaugurado em 08 de novembro de 2004, é resultado de acordo firmado entre a Prefeitura Municipal de Curitiba e o Pestana Curitiba Hotel, que se responsabilizou pela administração do local. O espaço tem como objetivo preservar a memória do professor David Carneiro, uma das mais importantes referências da cultura paranaense. Instalado onde funcionou a empresa ervateira da família, além da residência e do museu criado por David Carneiro, abriga acervo doado à Fundação Cultural de Curitiba. São livros, textos, fotos, objetos e documentos pessoais que retratam uma vida dedicada ao magistério e à pesquisa da história brasileira, fazendo de David Carneiro um marco da intelectualidade de seu tempo.

Nascido em 29 de março de 1904, quando Curitiba comemorava 211 anos de fundação, David Carneiro foi professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná, da Universidade de Brasília e diretor da Escola de Belas Artes do Paraná. Na década de 1960, exerceu a função de professor visitante em universidades dos Estados Unidos, nas quais lecionou história e economia. Estudioso do Positivismo, liderou grupos de discussão sobre temas históricos, filosóficos, políticos e científicos. Falecido em 04 de agosto de 1990, David Carneiro deixou numerosas obras que atestam sua importância como professor, historiador, cronista, poeta, ensaísta romancista, professor, biógrafo e jornalista.

Serviço:

Exposição “Os Ervateiros Paranaenses e a Litografia”

Espaço Cultural David Carneiro (Rua Comendador Araújo, 499)
Abertura às 19h30 do dia 23 de março de 2007 (sexta-feira). Permanece aberta à visitação do público até o final do ano
Horário de visitas: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Entrada franca