Paulistano do bairro do Brás, German Lorca, de 86 anos, iniciou a carreira nos anos 1940, como autodidata. Dez anos depois já era um profissional reconhecido. Em 1952, ganhou o prêmio Alexandre Del Comte, na exposição internacional de Buenos Aires. Sem formação acadêmica na área, Lorca descobriu-se fotografando, até ingressar no Foto Cine Club Bandeirantes. Junto de outros fotógrafos referenciais como Eduardo Salvatore, Thomas Farkas e Geraldo de Barros, quebrou paradigmas da fotografia brasileira com experimentos, montagens e enquadramentos.

Fique por dentro da mostra de German Lorca.

Tem entre seus retratos, quase sempre enquadrados em plano médio ou próximo, nunca em close, fotos antológicas da atriz Bibi Ferreira, do inesquecível costureiro Denner Pamplona de Abreu, ambas de 1960, e do francês Pierre Verger, de 1985, que tanto fotografou a Bahia. Outros personagens da cena cultural brasileira misturam-se aos retratos de pessoas anônimas do povo e do círculo íntimo, engrandecidos pela luz e sombra da imagem em preto e branco do fotógrafo. Lorca foi um dos poucos profissionais a documentar fotograficamente a marcante comemoração do 4º.Centenário de São Paulo, em 1954, período histórico e politicamente marcante.

Com imagens que remetem a cenas e atmosferas que parecem de um clássico de cinema, a exposição traça um percurso dos 60 anos de carreira de Lorca. Ao longo do caminho profissional imprimiu marcas em sua arte, como o guarda-chuva –presente em vários trabalhos. Desde as primeiras fotografias até hoje, Lorca sempre retratou a cidade de São Paulo e, nessa expressão pessoal, registrou a transformação da capital paulista nas últimas seis décadas. “A fotografia dele é muito estética. Essa mostra integra o processo de leitura na obra de fotógrafos definitivos na construção da imagem fotográfica do Brasil”, afirma o curador, Diógenes Moura, curador de fotografias da Pinacoteca de São Paulo, que diz só entender de fotografia vendo-a “como literatura”.

As fotos de arte contam com experimentos feitos em seu Estúdio Lorca, ainda em atividade. Neste segmento há a captura do momento, como a de uma pilha de pratos em queda para a destruição e uma série de fotografias feitas em dias de chuva em São Paulo, representantes de toda a poética da expressão “cidade da garoa”. Somadas às imagens de outros gêneros, como publicitárias, é possível perceber a diversidade do olhar de Lorca, em fotografias eternizadas do cotidiano, das pessoas e das cidades.