MON sedia exposição sobre arte cubana

Exposição fica no museu de 10 de outubro, às 19h, até janeiro do ano que vem

Bem Paraná

Composta de 117 obras, assinadas por 61 artistas, a mostra apresenta um extenso panorama da arte cubana no século 20. Este é o mais significativo conjunto de obras cubanas já exibido no Brasil, proveniente de coleções dos próprios artistas e do acervo do Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba, instituição que administra a maior parte do patrimônio artístico da ilha. As obras abrangem desde o surgimento das vanguardas – quando a produção artística de Cuba ganhou de fato uma identidade própria –, até as manifestações mais contemporâneas. De acordo com a curadora Ania Rodríguez, a
exposição apresenta diversas possibilidades de se entender a arte do século 20 em Cuba. Portanto, para facilitar a compreensão a curadora optou por organizar a disposição das obras de forma cronológica.
Entre as várias possibilidades, a primeira leitura segue a lógica temporal e destaca o surgimento e a consolidação da arte moderna nas primeiras décadas do século, os movimentos abstratos, a pluralidade estética que acompanha as mudanças da revolução nos anos 60 e 70, e a renovação e experimentação características dos 80 até hoje. Além dessa interpretação mais linear, no entanto, há vários outros caminhos que se perfilam ao longo dessa produção, propondo uma segunda leitura, temática, que agrupa artistas de diversas gerações por meio de preocupações comuns ao longo do século:
A arte como espaço de reflexão sobre as raízes da cultura cubana. As indagações iniciais de Carlos Enriquez com seu Romancero Criollo, ou de Eduardo Abela com as suas representações de cenas camponesas e rituais tradicionais têm uma sutil relação com a posterior criação da pessoal iconografia de Wifredo Lam, baseada na apropriação dos códigos visuais da cultura afro-cubana. Do mesmo modo, hoje, artistas como René Peña ou Roberto Diago, encaram o componente africano da cultura cubana, questionando os estereótipos do negro e seu lugar na sociedade atual.
O compromisso social do artista. Expressa-se desde a militância explícita de artistas como Marcelo Pogolotti, que nos anos 20 destaca em suas obras uma visão marxista da sociedade, até a dramaticidade impressa nos trabalhos de Fidelio Ponde de León. Há ainda uma produção marcada pela efervescência da Revolução Cubana, com obras afirmativas ou críticas, mas em que a posição do artista não fica indiferente à realidade social vivida. A “II Declaración de La Habana”, de Mariano Rodríguez, ou a representação de heróis feita na linguagem pop de Raúl Martinez, refletem isso. Do mesmo modo, peças mais recentes, de artistas como Tania Bruguera ou José Toirac, exploram a memória pessoal. Experimentação com linguagens artísticas e poéticas pessoais. À margem de qualquer temática imposta, os artistas manifestam também sua vontade de experimentação com novas linguagens. Os artistas dos anos 50 voltaram-se para a abstração, fugindo das figurações locais, que já viravam estereótipos do “cubano”. Do mesmo modo, uma parte da produção artística hoje tende a escapar das referências explícitas a Cuba, para realizar uma obra de referências políticas mais sutis e abrangentes, válidas para promover uma reflexão além do contexto local.

Movimentos Cubanos
 
 A Exposición de Arte Nuevo (1927) é tomada como ponto de partida do movimento moderno cubano. Arte de Cuba exibe alguns dos artistas emblemáticos desse período como Victor Manuel (sua obra “Dos Mujeres y un Paisaje” é usada na identidade visual da exposição), Eduardo Abela, Marcelo Pogolotti, entre outros. Os artistas rompem com as regras acadêmicas e debruçam-se sobre um jogo intrincado de tendências, estilos e interesses variados, na sua busca de uma expressão artística nacional.
 A consolidação do modernismo traz à luz importantes artistas como Wifredo Lam, que é hoje talvez o nome cubano mais reconhecido internacionalmente, Roberto Diago, Amelia Peláez, René Portocarrero, etc. Trata-se de um momento bastante rico no cenário cultural cubano, frequentemente comparado às manifestações vigorosas que aconteciam simultaneamente no México e no Brasil.
 Entre o final dos anos 40 e início dos 50, os grupos “Los Once e 10 Pintores Concretos” reúnem artistas em sintonia com as correntes européias da abstração. Paralelamente, nomes como Sandú Daríe e Luis Martínez Pedro destacam-se com obras geométricas, combinando rigor e imaginação, na interpretação da curadora.
 Os anos 60 dão lugar a uma produção interessada na história de Cuba, desde seus grandes acontecimentos políticos, sociais e econômicos até as perspectivas mais cotidianas. A Revolução Cubana leva a uma pluralidade de opções artísticas: o pop e a nova figuração encontram seus principais representantes em Raúl Martinez e Antonia Eiriz, respectivamente.
 A nova geração, formada com a revolução recupera algumas das preocupações que ocupavam a produção moderna, como Nelson Dominguez ou Zaida del Rio na busca por uma temática mais nacional nas tradições camponesas e Manuel Mendive na exploração de mitos afro-cubanos. Vale também mencionar  Roberto Fabelo e Pedro Pablo Oliva, todos identificados por uma similar sensibilidade para o onírico e o lírico.
 A partir da década de 80, Cuba experimenta uma ebulição criativa não só entre os artistas, mas também entre os críticos, curadores e especialistas, que estruturam um pensamento teórico com novos enfoques e pontos de vista. Nomes como José Bedia, Humberto Castro, Leandro Soto e Arturo Cuenca formam parte da chamada “Geração dos Oitenta”, que desestrutura a simbologia tradicional do imaginário cubano, e assumem posturas críticas e transgressoras na forma de expor a sua arte. Para a curadora da mostra, Ania Rodríguez, “os artistas adotam diversas estratégias, do humor à ironia e à crítica mais radical. Tudo é indagado, desde a memória pessoal até as estratégias do poder, em obras que se caracterizam por uma acentuada densidade conceitual”, diz ela.
 Cuba entrega-se a um movimento de renovação e experimentação nas artes, em que os artistas se assumem como testemunhas de um contexto político e social muito particular, tornando quase obrigatória sua presença nas mais prestigiadas coleções do mundo. Neste cenário, a Bienal de Havana, cuja nona edição aconteceu em março de 2006, também assume um papel fundamental, funcionando como porta de entrada para marchands e instituições internacionais em um mercado até pouco tempo mais fechado.
 Alguns dos artistas que hoje encontram um espaço de reconhecimento internacional, como Carlos Garaicoa, Tânia Bruguera, Los Carpinteros e Kcho, pensam seu entorno por uma perspectiva mais abrangente e geral, fugindo de referências locais para dialogar em torno aos dilemas do homem contemporâneo no mundo atual.
 A idéia inicial de Ania Rodríguez era privilegiar a produção contemporânea, mas o envolvimento do museu permitiu a ampliação de seu objetivo, chegando a um painel que abrange também a arte moderna e suas origens. Segundo a curadora, a exposição traz ainda a oportunidade de se notar os pontos de confluência entre a arte cubana e a brasileira: “Os dois países adotaram posturas parecidas na apreensão das linguagens vindas da Europa e sua combinação à identidade nacional de cada um”, afirma ela.

A criação do museu cubano

 Inaugurado oficialmente em 28 de abril de 1913, o Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba nasceu de um projeto estruturado em 1910, quando um comunicado público convidou artistas, colecionadores privados e instituições a doarem obras para o que era ainda só uma idéia bastante informal de museu.
 O grande impulso à iniciativa deve-se a Antonio Rodríguez Morey, nomeado diretor em 1918 e que, por quase 50 anos, trabalhou empenhado na estruturação, documentação e preservação da arte cubana. Com um acervo composto basicamente por meio de doações, pouco se pôde fazer para definir, em um primeiro momento, um perfil para a coleção.
 A vitória da Revolução Cubana em 1959, no entanto, é um marco na história do museu. O êxodo de grande parte da burguesia do país permitiu à instituição o acesso a um conjunto precioso de obras, tornando públicas peças fundamentais para uma reflexão mais profunda dos vários períodos e movimentos artísticos que se sucederam ao longo dos anos, da produção colonial à pintura acadêmica, passando pelos nomes modernos e estendendo-se aos destaques contemporâneos.
 A arte atual, aliás, é uma das prioridades do museu, que investe para manter o acervo atualizado e, assim, capacitado para servir como uma espécie de vitrine dos jovens artistas cubanos, tão festejados no exterior.

 

Serviço:
Arte de Cuba       
Abertura: 10/10, às 19h
Visitação Pública: até 14/01/07
Patrocínio: Compagas
Apoios: Governo do Paraná, Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba, Centro Cultural Banco do Brasil, Petrobras, Clearchannel
Onde: Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico – CEP: 80530-230
Telefone: (41) 3350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes identificados
(Crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental, agendados não pagam)
Solicitação de Agendamento entre em nosso site www.museuoscarniemeyer.org.br
na pasta Ação Educativa, em Agendamento