O angolano Júlio Quaresma (1958) é formado em arquitetura e com a pintura exerce seu talento multifacetado, já que também estudou artes plásticas e cenografia o que, certamente, influencia suas obras. Artista contemporâneo, o angolano apresenta nesta mostra 17 óleos sobre tela e fotografia; além de quatro fotografias, sendo uma delas composta por um conjunto de 10 fotos, intitulada “Urbe”. A exposição foi exibida com sucesso em São Paulo, no Memorial da América Latina, e depois de Curitiba segue para Salvador, Brasília, Panamá e Shangai.

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“Quaresma é um artista comprometido com o seu tempo, com os desafios decorrentes de grandes conflitos que enfrentamos atualmente”, afirma a curadora Consuelo Ciscar, diretora do IVAM (Institut Valenciát d’Art Modern). Para ela, a pintura dele funda-se no alerta aos graves acontecimentos políticos e sociais da contemporaneidade. Partindo de uma das máximas do artista, que “somente o homem transforma a sociedade”, ele recorre constantemente à representação do corpo humano, como processo de re-humanização do objeto de arte.

A curadora explica que Quaresma utiliza a figura humana sempre posicionada entre o profano e o sagrado. “Uma busca de espiritualidade que se reflete, muitas vezes, em imagens da Tora, do Corão ou da Bíblia, como a cruz, a maçã, Adão e Eva”. Nas suas pinturas, o corpo do homem assume uma força expressiva e incomum, quando perde um de seus traços fundamentais: a cabeça, que ele esfumaça, esconde ou decompõe. Na sua representação do corpo, em quadros e fotografias, essa transfiguração da cabeça, “posicionam o homem como portador de sensações, sem abandonar a racionalidade inerente à temática”.

“Esse desencontro entre cabeça e corpo, entre sensação e razão é explorado sabiamente nas suas obras, transportando-nos para além do seu limite natural e fisico. Os sentimentos expõem-se a partir das mãos, dos músculos e são acentuados pelo confronto cromático entre os tons claros das figuras e os tons escuros , vermelhos ou negros dos fundos.”

Para Consuelo Ciscar, a exposição “O Homem.com-se” representa o espaço que gira em torno do Homem como um espaço multicultural, um elo de comunicações e inter-relações que funcionam também como barreira, num espaço de conflito e incompreensão na difícil relação que estabelecemos contra a religião e o poder.