A violência contra o homem é o tema central da notável obra do equatoriano Oswaldo Guayasamín (1919-1999). Em traços fortes, seus personagens esquálidos relatam dor, tristeza, medo, espanto e horror. Os trabalhos em exibição demonstram a força expressiva depositada nas mãos e nos olhos de suas figuras, características marcantes e recorrentes em sua produção. Mãos, olhos, ossos, dentes e lágrimas saltam da tela e chamam a atenção de quem observa. São traços que denunciam e revelam a revolta do artista diante da opressão e do sofrimento provocados pelas guerras, pelas ditaduras e pelas desigualdades sociais.
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O Museu Oscar Niemeyer abre a mostra Guayasamín, com curadoria de Pablo Davi Guayasamín, filho do artista, a exposição apresenta 98 obras representativas na trajetória do equatoriano. Os trabalhos pertencem ao acervo da Fundação Guayasamín, com sede em Quito. A exibição em Curitiba tem o patrocínio do Centro Cultural Banco do Brasil e da Agência de Fomento do Paraná, com o apoio do Ministério da Cultura, do Governo do Paraná e da Caixa Econômica Federal. Realizadas a partir de diversas técnicas, como aquarelas, óleo sobre tela, acrílico sobre tela e desenhos em tinta sobre papel, as obras fazem uma retrospectiva de 60 anos da produção de Guayasamín.
Obras
Parte dos trabalhos pertencem a séries memoráveis, como a primeira intitulada Huaycañan, que no idioma quéchua –uma das línguas aborígenes do Equador – significa Caminho do Pranto. Os esboços e desenhos para esta primeira série foram feitos durante uma viagem que realizou do México até a Patagônia, entre 1944 e 1945.
Produzida entre 1964 e 1984, a segunda grande série, chamada de La Edad de La Ira ou A Idade da Ira, reflete sobre as crueldades da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), as invasões nazistas, os campos de concentração, o ataque a Hiroshima (06 de agosto de 1945), a guerra no Vietnã (1959 – 1975), as torturas e os genocídios promovidos pelas ditaduras no Chile (1973-1990), Argentina (1976-1983), Uruguai (1973-1985) e em outros países latinos.
A terceira série –Mientras viva siempre te recuerdo ou Enquanto viver sempre me lembrarei de ti, com a idéia sintetizada pela expressão Ternura– faz uma homenagem de ternura à sua mãe e às mães do mundo. Também são exibidas ainda naturezas mortas, paisagens e retratos. O artista retratou personagens célebres da história contemporânea, escritores, artistas e estadistas. Entre eles destacam-se o poeta chileno Pablo Neruda, que se referia ao artista como o “anfitrião de nossas raízes”, o escritor Gabriel García Márquez, o presidente francês Françoise Mitterrand, o rei Juan Carlos da Espanha, a princesa Carolina de Mônaco e Fidel Castro, com quem desenvolveu grande amizade e retratou por várias vezes.
Em seu conjunto, são obras que relatam a dor e a miséria enfrentadas por grande parte da humanidade e, ao mesmo tempo, denunciam a violência cometida contra o homem ao longo do conturbado século 20. Por ocasião da exposição realizada em São Paulo, em 2008, a filha do artista, Verenice Guayasamín, disse que o pai usou do talento que possuía para influenciar a busca de um mundo melhor, mais justo e menos agressivo. “Meu pai viveu quase 80 anos e conheceu de perto os grandes conflitos do século. Apesar de toda revolta exposta em suas telas, não militou em nenhum partido político, mas definia-se como marxista-fidelista (…). Sua obra não é panfletária, somente revela ‘o mundo que me coube viver’, como dizia sempre.”
Influências
Alimentado pelas vanguardas do último século, Guayasamín recebeu forte influência da milenar arte pré-colombiana, do muralismo mexicano e da Guernica de Picasso. Para Pablo Neruda, Guayasamín forma, ao lado do brasileiro Portinari e dos pintores mexicanos José Clemente Orozco, Diego Rivera e Rufino Tamayo, a “estrutura andina do continente”. “Poucos pintores da nossa América são tão poderosos como este equatoriano (…) Ele tem o traço forte, ele é um anfitrião das raízes e invoca a tempestade, a violência e a falta de exatidão. E tudo isto transforma-se em luz na presença e na paciência dos nossos olhos.”
Mas foi a origem simples, com nome e ascendência indígena, a vida de privações e pobreza na infância, que deixou marcas profundas na criança com tanta sensibilidade. Seu primeiro grande impacto com a violência, depois revelado em suas obras, foi a morte de seu melhor amigo, de sobrenome Manjarrés, morto por uma bala perdida. O episódio foi registrado em Los niños muertos (As crianças mortas), que retrata a cena brutal de um grupo de cadáveres amontoados, em uma rua de Quito, entre os quais está o melhor amigo.
Sempre solidário às causas de seu povo, em 1976, junto de seus filhos, Pablo e Verenice, criou a Fundação Guayasamín, pela qual fez a doação de todo o seu patrimônio artístico para o Equador. A partir desse patrimônio, foram organizados os museus de Arte Pré- Colombiana, com mais de 300 peças, e de Arte Contemporânea, com mais de 250 trabalhos. Foi a herança deixada pelo filho mais velho de 10 irmãos, que começou a pintar aos sete anos. Embora uma professora, ofendida por suas caricaturas, teria chegado a dizer que ele tinha que “virar sapateiro” porque “não serve para nada”. Não sabia que exceto para pintar.
Serviço:
Guayasamín
Patrocínios: Centro Cultural Banco do Brasil e Agência de Fomento do Paraná
Apoios: Ministério da Cultura, Governo do Paraná e Caixa Econômica Federal
Visitação: de 18 de março a 25 de julho 2010
Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999
Aberto de terça a domingo, das 10h às 18h
R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 estudantes, com carteirinha
Gratuito para grupos agendados da rede pública, do ensino médio e fundamental, para estudantes até 12 anos, maiores de 60 anos e no primeiro domingo de cada mês.