O Brasil de Pierre Verger mostra diversidade cultural

As fotos lançam um olhar sobre o cotidiano brasileiro da cidade e do campo

Redação Bem Paraná

A trajetória do fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger nas diversas viagens que fez pelo Brasil, principalmente pelo Nordeste, desde que chegou à Baía de Todos os Santos em 5 de agosto de 1946 é o tema da exposição “O Brasil de Pierre Verger”. A mostra, organizada pela Fundação Pierre Verger e patrocinada pela empresa Price Waterhouse, já passou por Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre e apresenta 290 fotografias preto-e-branco com temas distintos como cultos afro-brasileiros, sertão, arte e artesanato; festas populares e cenas do cotidiano.

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Embora suas fotos revelem uma realidade das décadas de 40 e 50 através do clássico preto-e-branco, elas são marcadas pela diversidade cultural brasileira e pelos contrastes sociais presentes naquele período, mas que representam ainda hoje a realidade do Brasil, sendo por este motivo uma exposição bastante contemporânea. As fotos de Verger lançam um olhar sobre o cotidiano brasileiro da cidade e do campo, marcando em cada particularidade o universo retratado.

Nas imagens de Verger o passado entrelaça-se ao presente, cujas marcas, embora muitas vezes belas, guardam também a memória da pobreza e das desigualdades sociais. Este é o resultado de uma pesquisa de mais de seis anos, realizada pela equipe responsável da Fundação Pierre Verger, e que torna público um extenso acervo praticamente inédito.

O mote da exposição é a interatividade e a mescla do clássico preto-e-branco – tradicionalmente emoldurado – a formatos variados, como projeções de vídeo e um espaço interativo que trazem um link com as múltiplas linguagens contemporâneas. As temáticas presentes nas fotografias mostram um contexto pós-II Guerra Mundial, marcado pela dinâmica da reorganização urbana e por um tradicional, mas também criativo universo religioso e profano das manifestações populares: a diversidade na singularidade das lentes de Verger.

As temáticas revelam em si a obra brasileira de Pierre Verger que, embora não seja conhecida do grande público, é representativa em qualidade e em quantidade em relação a toda a sua extensa produção fotográfica. Com aspectos particulares de cada contexto, as temáticas foram avaliadas e comentadas por especialistas sobre o assunto.

As fotos selecionadas compõem um quadro que narra a história, a arte, a cultura e o cotidiano de um povo: um somatório de memórias que traz importantes registros históricos, desvelando os brasis desse nosso grande Brasil de hoje, extenso em suas terras e em sua diversidade cultural. Esta obra reflete um olhar ao mesmo tempo poético, sensível e realista captado pela versátil Rolleiflex de Verger.

A exposição exibe um filme, com duração de 30 minutos e cerca de 600 fotografias, tendo como acompanhamento a trilha sonora composta exclusivamente pelo experiente artista baiano Bira Reis e trazendo a especial participação de Bule-Bule – referência do tradicional samba-de-roda do Recôncavo baiano – e do artista pernambucano Antúlio Madureira. A projeção narra um pouco a trajetória de Verger da Baía de Todos os Santos aos demais lugares pelos quais passou.

No espaço interativo, o visitante poderá acessar através de computadores, documentários, gravações sonoras, documentos iconográficos, bibliografias e textos de vários autores de projeção como Gilberto Freire, Roger Bastide, Jorge Amado, Darcy Ribeiro e outros.

O artista

Pierre Verger nasceu em 4 de novembro de 1902, em Paris. Formado no ambiente de uma família economicamente estável, aprendeu a fotografar em 1932. Fascinado por viagens, o artista aprendeu o ofício numa máquina Rolleiflex. De 1932 a 1946 viajou, após a morte de sua mãe, por vários países. Nesse último ano conheceu a Bahia e ficou fascinado pelo ambiente cultural que encontrou – oposto ao clima de pós-guerra que a Europa vivia.

Ao descobrir o candomblé, passou a pesquisar com profundidade o culto dos orixás. A dedicação nos estudos fez com que ganhasse uma bolsa para conhecer os rituais na África, para onde partiu em 1948. A intimidade com a religião fez com que, em 1953, recebesse o nome de Fatumbi. Como resultado de sua dedicação, Pierre Verger produziu 2 mil negativos e passou também a escrever sobre suas experiências e estudos. Suas viagens se intensificaram em seguida e fez intercâmbios entre países africanos, da Oceania, Europa, América Latina e a própria Bahia, que adotou como seu lugar, apesar de ser visto como nômade.

Nos anos 60, comprou uma casa em Salvador e, dez anos depois, parou de fotografar. Na década de 80, preocupou-se mais com o estudo do material coletado, e, em 1988, criou a Fundação Pierre Verger, para a qual doou toda obra. A instituição mantém 62 mil negativos fotográficos, gravações sonoras, filmes, documentos, correspondências, manuscritos e objetos relacionados ao artista. Pierre Verger morreu em 1996 e pediu que seu trabalho tivesse prosseguimento.