Das cinzas de um incêndio que destruiu quatorze casas em novembro do ano passado, deixando 56 pessoas desalojadas, o Parolin vê renascer a esperança. Localizado a cerca de 15 minutos do Centro, o bairro, que se tornou sinônimo de favelização nas últimas décadas, deve ter reforçado nos próximos meses o senso de comunidade entre seus integrantes.
É que espaços comunitários, importantes para ancorar encontros —ampliando a convivência, consolidando laços sociais e transformando “áreas de perigo” em “áreas de paz” —, deverão ser renovados nos próximos meses e ter sua atuação amplificada a partir da atuação em conjunto da YVA Arquitetura e do Coletivos em Movimento, que procura identificar as demandas de cada comunidade e oferecer suporte para a elaboração e implantação de projetos sociais.
O primeiro espaço a ser reformado é a casa da Luciana de Morais Pacheco, uma recicladora de 34 anos que três vezes por semana prepara e distribui refeições aos mais carentes dentro da favela. “Contando com a doação de gás e ingredientes para sopas e outras refeições, a Luciana utiliza a precária cozinha de sua própria casa para esta missão. Abraçamos esta causa e propusemos não apenas o projeto arquitetônico para uma cozinha e distribuição de refeições, como também a reforma da casa existente”, conta o arquiteto Yuri Vasconcelos Silva, de 39 anos, sócio da YVA.
O outro local a ser reformado é um centro comunitário completamente degradado, onde atividades diurnas da comunidade dividem espaço com uso de drogas, à noite. “Nossa ideia é criar uma relação com a quadra de futebol (que fica ao lado do centro). Escolhermos a cor branca para adotar uma lionguagem neutra. Se os moradores quiserem, podem fazer um painel ou algo assim daí. Também planejamos utilizar muito a iluminação natural, construir um jardim interno e deixar uma área de uso múltiplo”, explica Lucas Bochnie, estagiário do escritório de arquitetura.
A terceira proposta arquitetônica, desenvolvida por alunos de arquitetura da UFPR e coordenada por Yuri Vasconcelos, é a revitalização de um espaço multiuso cultural. O local, que já oferece aulas de capoeira, dança, yoga, festas, oficinas e palestras, deve ter sua capacidade ampliada e ainda receber uma clínica médica.
“A intenção do projeto é reformar atividades que já acontecem nos espaços. Em arquitetura e urbanismo, geralmente pegamos um terreno vazio e projetamos o que imaginamos que esse espaço pode se tornar. Esse, porém, é diferente. Já temos coisas acontecendo nesses locais e só queremos reforçar, que eles (moradores) tenham orgulho desses espaços e que isso gere um afeto entre os moradores e o local, protegendo a edificação”, explica Yuri.
Luciana de Moraes Pacheco: uma mãe para o bairro
“Dizem que me doo demais, mas não é que me doe demais. Eu gosto de fazer isso”, afirma Luciana de Morais Pacheco, de 34 anos. Para sobreviver, ela conta que “cata reciclagem”, vendendo cargas fechadas. Ainda assim, encontra tempo e energia para todas as segundas, quartas e sextas-feiras fazer refeições gratuitas para 80 famílias, além de entregar 200 copos de sopa na região central de Curitiba.
Há três anos ela realiza esse trabalho no Parolin, preparando alimentos doados para não deixar que os mais vulneráveis da comunidade passem fome. A reforma de sua casa, conta, é um sonho se realizando. Mas para que ela possa continuar fazendo seu trabalho, precisa de ajuda.
“Tentamos sempre fazer a distribuição na segunda, quarta e sexta. Mas não estamos conseguindo na segunda e sexta. Nas quartas, que é quando tem a sopa, temos sempre as doações e continuamos fazendo com regularidade. Mas para segunda e sexta, quando faço canja de frango e polenta com frango, não tenho recebido doações e por isso não estou conseguindo fazer”, conta a recicladora e cozinheira.
Revitalização do Parolin
O que é: um projeto liderado pela YVA Arquitetura que visa reformar três espaços no Parolin: a Cozinha da Lu (cujas obras devem custar cerca de R$ 80 mil, já com tudo equipado), o Centro Comunitário Associação de Moradores (entre R$ 200 mil e R$ 250 mil) e o Espaço Multiuso Cultural (que deve custar em torno de R$ 200 mil).
Como ajudar: Com os projetos arquitetônicos já prontos, a iniciativa agora entrará na etapa de arrecadação. A ideia inicial é contatar empresas da própria região, como a Leroy Merlin e o Condor, em busca de apoio. Além disso, nas próximas semanas também será lançada uma campanha de crowd funding online, na qual toda a sociedade poderá dar sua contribuição para as reformas.
Quando acontecerá: A intenção dos responsáveis pela iniciativa é começar as obras na Cozinha Comunitária até o final do ano e no ano que vem começar as obras do Centro Comunitário.
Mais informações: quem quiser colaborar com a iniciativa ou então conhecer mais sobre o projeto pode entrar em contato com o Yuri Vasconcelos Silva, sócio-proprietário da YVA Arquitetura. Os telefones são: (41) 3039-9212 ou (41) 99923-6134.