A busca de um novo começo para quem foge de crises econômicas e políticas é sempre marcada por muita dificuldade. E se o país para onde você está indo fala uma língua completamente diferente daquelas que você cresceu ouvindo, a tarefa torna-se ainda mais difícil. E foi pensando justamente nessas dificuldades que um grupo de haitianos que vive em Curitiba criou a ONG Byenvini.
Fundada há sete meses, a instituição tem como objetivo declarado “observar e desenvolver a situação dos imigrantes haitianos em Curitiba, ajudando-os a se se adaptarem à cultura brasileira e se profissionalizarem, ao mesmo tempo em que tenta impactar diretamente o seu país de origem. O “projeto-sonho” é conseguir recursos financeiros suficientes para implantar um orfanato-escola no Haiti.
“Estamos aqui trabalhando na Byenvini para tentar ajudar os haitianos não só no Brasil, mas também tentar fazer alguma coisa no Haiti, a nossa terra”, conta a estudante de Ciências Contábeis Lovelie Ysnardi, de 20 anos, presidente da ONG. “Atualmente atendemos mais ou menos 20 pessoas. Mas nosso objetivo é ajudar mais pessoas, virar uma verdadeira porta de entrada para os haitianos”, complementa Jimmy Fils-Aime, de 28 anos, vice-presidente da ONG e estudante de Direito.
O apoio aos haitianos citado por Jimmy se dá de diversas formas. Uma delas é com ajuda financeira, doação de roupas e comidas – os itens essenciais para a sobrevivência dos imigrantes recém-chegados. Outra face do trabalho, porém, está ligado à empregabilidade, com a Byenvini oferecendon suporte àqueles que buscam melhor qualificação e também uma colocação no mercado de trabalho.
Já a ideia de fundar um orfanato-escola no Haiti é mais recente e teve como um dos motivadores Elisee Succes, 33 anos. Tesoureiro da ONG, ele é formado em pedagogia e dava aulas em seu país natal. Ele relata que até pouco tempo a educação ofertada à população haitiana era de muita qualidade, mas que tem piorado nos últimos anos.
“Queremos ajudar aqui e vemos também o que podemos fazer lá. O Haiti tem uma educação boa, mas que tem piorado e nem todo mundo tem a oportunidade de aproveitar. O analfabetismo hoje está subindo, enquanto a boa educação está caindo”, explica ele. “Isso acontece porque muitos jovens deixaram o país para ir trabalhar fora, com outra coisa. (Esse projeto) É para resgatar a nossa educação.”
Crise econômica tem feito muitos desistirem do Brasil
Se para os próprios brasileiros a situação do mercado de trabalho já é problemática, para os haitianos o cenário é ainda mais grave. “Está difícil. Bastante haitiano não está trabalhando, muitos procurando (emprego), mas não conseguiram ainda. Não vou dizer que é só para nós, porque também tem bastante brasileiro (sem emprego). O mercado de trabalho é bastante difícil”, afirma Elisee Succes.
Esse cenário de crise, inclusive, tem espantado muitos imigrantes que haviam vindo para o país. Elisee e Lovelie, por exemplo, vieram ao Brasil por conta dos convites de amigos e também dos pais. Dos amigos, apenas um continua vivendo na Capital, enquanto os outros foram para os Estados Unidos ou voltaram para o Haiti. Já os pais de Lovelie imigraram para o Canadá recentemente.
“Diminuiu, está diminuindo bastante (a imigração haitiana). Nunca foi fácil e nunca vai ser fácil para quem sai de fora, vai para outro país, outro lugar para tentar outra vida. Se acostumar nunca vai ser fácil. Mas é se esforçar, tentar entender o lugar em que está e assim vai. Cheguei aqui não sabia nada, mas eu tinha que me virar. E eu me virei e até hoje estou aqui”,comenta Elisee.
Serviço
Byenvini ONG
O que é: uma ONG fundada em Curitiba que tem como objetivo oferecer apoio aos haitianos que vivem na cidade, oferecendo uma estrutura que os ajude a sobreviver e se desenvolver no Brasil.
Como funciona: oferecem cursos de capacitação aos haitianos e também apoio básico, com oferta de comida e roupa aos imigrantes mais necessitados. Em breve devem lançar um curso de línguas, para ensinar o português àqueles que ainda não aprenderam a língua
Membros: Lovelie Ysnardi (presidente); Jimmy Fils-Aime (vice-presidente); Elisee Sucess (tesoureiro); Celinedji Dyemilmar (secretária); Meline Jean (membro) e Thimothe (conselho fiscal)
Como ajudar: Em breve a ONG lançará um canal para recolher todas as doações com o intuito de ajudar na construção do orfanato-escola no Haiti. Também aceitam a doação de itens essenciais, como alimentos e roupas, e doações financeiras. Para mais informações, entre em contato com a ONG via Facebook ou WhatsApp
Telefone: (41) 9780-9239
Site: https://www.facebook.com/Byenvini-Ong-100946651279616/