À medida que se prolonga a necessidade de isolamento social, decorrente do risco de contágio pelo novo coronavírus, a tendência é que não apenas a economia sofra, mas também se agravem ou mesmo surjam problemas psicológicos. Por isso, psicólogos e psiquiatras já se preparam para lidar com um possível aumento da demanda e atuam de forma remota, por teleatendimento e oferecendo orientações, para minimizar os problemas e sofrimentos de pacientes e seus familiares.

Em Curitiba e no Paraná como um todo, há diversas associações que oferecem atendimento gratuito ou a preços módicos. Uma delas é a Universidade Positivo (UP), por meio do Centro de Psicologia. Neste momento, o atendimento à comunidade segue funcionando, mas de maneira diferente, uma vez que os atendimentos presenciais estão suspensos. Para participar, basta o paciente encaminhar um e-mail para [email protected] que em seguida será contatado para dar prosseguimento ao atendimento, com valor social (R$ 40) ou até mesmo gratuito pelas sessões.

“Todas as pessoas podem buscar o atendimento. Começamos agora, então não estamos com procura maciça ainda, mas acreditamos que vai aumentar muito”, conta Josiane Knaut, coordenadora do Centro de Psicologia. “O que mais está aparecendo, sem dúvidas, são problemas relacionados à ansiedade. É um momento de incerteza, de medo, de aprender a ter novas estratégias para lidar com toda essa situação”, ressalta a especialista.

Outro trabalho nessa área está sendo desenvolvido pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outra Drogas (ABEAD). Todos os dias da semana, das 8 às 22 horas de segunda a sábado, e das 8 às 21 horas aos domingos, psiquiatras e psicólogos ligados à associação estão prestando orientação gratuita para dependentes químicos e familiares.

A ação solidária, conta a psiquiatra Alessandra Diehl, vice-presidente da ABEAD, foi idealizada com a intenção de preencher uma lacuna: a dificuldade de acesso a serviços de saúde mental em tempos de isolamento social. Até aqui, a procura tem se dado principalmente por parte de familiares.
“Muitas famílias estão relatando situações de violência dentro de casa. Com o confinamento, a violência intrafamiliar tem aumentado”, relata a profissional.


Dicas para ficar bem em tempos de isolamento social

Estabeleça uma rotina — A vida continua, a vida não para. Se sua vida a partir de agora girar em torno da pandemia, se você só pensar e focar nisso, o nível de ansiedade vai aumentar Por isso, crie uma rotina, estabeleça horários de trabalho, de descanso, reserve u tempo para se comunicar com seus amigos e familiares. O afastamento é físico, e não afetivo.

Dê um tempo para a cabeça — Informação é importante, mas não precisa exagerar na dose. Reserve um tempo ou um horário para se atualizar sobre as principais notícias relacionadas à Covid-19, mas não se sobrecarregue com informações de redes sociais, televisão… É preciso liberar espaço para a mente fazer outras coisas.

Conecte-se com o eu — Esteja conectado com você mesmo, saiba o que está sentindo, reflita. Aquilo que é ruim não deve ser esquivado, deixado de lado. Pelo contrário, é preciso também analisar o que essas coisas podem estar lhe dizendo. Uma ou duas vezes por dia, por exemplo, se recolha num espaço tranquilo, preste atenção no seu corpo, na sua respiração, na sua musculatura e temperatura. Sinta o ritmo dos batimentos e perceba como está sua respiração, até encontrar um ritmo confortável. Analise então sua musculatura, identifique os locais de maior tensão no corpo e relaxe para alterar seu ritmo corporal, criando uma sincronia entre razão e emoção.

Veja o lado positivo de tudo — É aquela velha história: se você tem um limão, faça uma limonada. Toda situação traz aprendizagem e há coisas que podem ser vistas como positivas, como a possibilidade de focar em atividades que antes não fazia por falta de tempo, maior proximidade com familiares que moram junto e etc.

Diário de gratidão — Outra possibilidade é criar uma espécie de diário, escrevendo todos os dias três coisas para agradecer pelo hoje. Isso ajuda a tirar o foco do negativo e reforça as coisas positivas, pelas quais podemos agradecer.

Foque no que está sob seu controle — Não adianta gastar energia em coisas que não podemos controlar. Destine, portanto, tua energia para coisas que podemos controlar, que são nossas atitudes, nossas ações, nossas precauções. A ansiedade aumenta quando temos falta de controle, e se focarmos nas cisas que não estão em nossas mãos, é grande a probabilidade de ficarmos ansiosos.

Fonte: Josiane Knaut, coordenadora do Centro de Psicologia da Universidade Positivo


Apoio para aqueles na ‘linha de frente’

A Rede de Apoio Psicológico está oferecendo atendimento gratuito para médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde que estão atuando na linha de frente de combate ao Covid. A plataforma (rededeapoiopsicologico.org.br), inclusive, já foi criada com o intuito de conectar esses pacientes a psicólogas e psicólogos voluntários dispostos a atendê-los.
“Se eles estão cuidando de milhares de pessoas, alguém precisa cuidar deles também! Por isso criamos a Rede de Apoio Psicológico: para conectar profissionais da saúde a psicólogos e psicólogas por todo o Brasil que querem voluntariar seu tempo para ajudá-los. Os atendimentos devem ser online, gratuitos e pontuais”, diz o texto “Sobre a Rede”.
Os atendimentos são marcados diretamente entre o psicólogo(a) e o profissional da linha de frente, por meio do WhatsApp. No site da Rede, é possível encontrar informações mais detalhadas sobre como buscar atendimento e também sobre como se voluntariar para começar a atender.


Repercussão

Ansiedade e pânico
A vice-presidente da ABEAD, Alessandra Diehl, relata que tem aparecido nos consultórios muitos casos de ansiedade e pânico relacionados ao confinamento. Outro problema tem sido o aumento no consumo de álcool e, no caso de casais, manter a vida sexual ativa durante esse período de crise.